Marcio Moreira Alves, Livraria
Sá da Costa Editora, Lisboa, 1.ª edição: 1978, 314 páginas.
A maior parte das pesquisas
bibliográficas e da redação deste livro foi feita em 1973 e apresentada como
tese de doutoramento à Fondation Nationale des Sciences Politiques, de
Paris. Uma versão reduzida, da qual se eliminou a excessivamente acadêmica
introdução metodológica, foi publicada em francês pelas Éditions du Cerf,
em 1974. A presente edição, revista, aumentada, reordenada e atualizada, é
baseada na publicação francesa, embora a corrija e altere substancialmente. É
por ela, e não pela versão anterior, que gostaria de ver julgado o esforço de
análise, reflexão e eventual militância que durante mais de dez anos dediquei à
Igreja Católica no Brasil.
Mantenho, no presente trabalho, as conclusões
gerais a que chegara em 1973 sobre o papel que a Igreja Católica, tomada no seu
conjunto organizacional, poderá vir a desempenhar na luta pelas transformações
de uma das sociedades mais injustas e violentas que existem no mundo de hoje.
No entanto, procuro aprofundá-las, justificá-las melhor e, em alguns casos,
matizá-las tendo em conta a evolução de dois fatores de imensa importância: o
agravamento do conflito Igreja-Estado, do qual resultou recentemente o assassínio
de dois padres e o seqüestro de um bispo, e o florescimento de uma nova
estrutura organizacional, potencialmente transformadora, as comunidades
ec1esiais de base.
Para os teólogos, igreja é
“a Palavra, o Sacramento, a presença do Bispo e a comunhão com todas as demais
igrejas” (Pe. Alberto Antoniazzi) e a igreja local é “a porção do Povo de Deus
confiada a um Bispo que, aderindo ao seu pastor e por ele congregada ao
Espírito Santo, mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitui uma igreja
particular” (Christus Dominus, 11/1034, documento conciliar). Para o
objeto deste estudo, a igreja é uma instituição
sociológica concreta, com os seus centros de decisão, as suas estruturas
organizacionais, os seus recursos materiais e humanos e o seu discurso
ideológico, existentes em um lugar determinado, o Brasil, em um tempo dado, o
que vivemos.
É a ação política desta instituição e as razões que a instruem que
procuro examinar. Penso que a exemplificação e as lições contidas no caso
brasileiro podem ser extensivas a outras igrejas, latino-americanas e europeias,
em particular às de Espanha e de Portugal.
Finalmente, gostaria de
registrar a minha gratidão pelas severas e fraternais críticas de Magno
Villela, que muito influenciaram a reformulação deste trabalho.
Lisboa, setembro de 1977
Márcio Emanuel Moreira Alves, (Rio
de Janeiro, 14 de julho de 1936 — Rio de Janeiro, 3 de abril de 2009) foi um
acadêmico, advogado, cientista político e jornalista brasileiro, ex-membro do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Pela Guanabara, foi
deputado federal até ter seu mandato cassado. (…)