Aparecido Raimundo de
Souza
SOU DAQUELE TEMPO DO
“ERA UMA VEZ. As senhoras e os senhores lembram dele? As boas historinhas
infantis do nosso tempo, (pelo menos dos meus setenta e dois anos atrás,
começavam assim: “era uma vez...”). Nesse tom, “era uma vez um tempo distante
em que se enchia o peito para dizer que o Brasil recuperava, à noite, deitado
em berço esplendido, o que lhe roubavam de dia. Hoje, bem sabemos, roubaram o
berço e, de roldão, levaram também a noite.
A máxima, se não
encerrava nenhum conceito didático, servia quando nada, de consolo à leniência
no combate aos piratas (do Caribe?), não do dinheiro público. Nada a ver com o
velho Johnny Depp, aquele do “Piratas do Caribe”. Talvez esteja essa criatura mais
envolvido com a “Hora do pesadelo”. Em linhas gerais, só lembrando, na hora do
pesadelo, “um grupo de adolescentes tem angústias horríveis, em que são
atacados por um homem deformado com garras de aço”. Não são canetas de um certo
ministro, são garras de aço.
O personagem da “hora
do pesadelo”, apenas aparece durante o sono e, para se escapar dele, é preciso
acordar. Diferente do nosso, ou melhor dito, das inquietações infames que nos
assolam em dias de hoje. Acordado ou dormindo, estamos fodidos e sem termos
onde enfiarmos nossos rabos para fugirmos das “picas voadoras”. Tempos
prosaicos de autodefesa nacional contra as fraudes (não confundam com fraldas,
pelo amor de Deus) de braços dados com a impunidade, ao mesmo tempo em que se
proclamava a pujança de um país rico, muito acima da ação predatória ao erário.
E todos nós dormíamos
felizes. Sonhávamos com passarinhos azuis, com mulheres novas peladas, cantando
Zezé Di Camargo no SBT das filhas do Silvio Santos, porque o futuro se nos
acenava venturoso, belo, formoso, valendo se de uma outra máxima tão persuasiva
quanto a primeira, segundo a qual, éramos todos o próprio futuro na sua melhor
forma de expressão. Interessante lembrar (embora desnecessário, pois sabendo,
de antemão, que o brasileiro é possuidor de uma memória fantástica e acima de
qualquer suspeita, principalmente para as coisas fúteis ligadas ao futebol) o
futuro continua dissociado do passado. Para quem não sabe, dissociado significa
despegado, desunido ou cortado.
Para o Partido dos
Trabalhadores, o famoso e “onrado PT” (conhecido também como “Partido dos
Trambiqueiros”, ou “Partido dos Trapaceiros”) é como se esse tempo das vacas
gordas não existisse, muito menos tivesse valor na sequência administrativa no
presente, ou melhor dito, no nosso agora. De bom entendimento trazermos à
baila, que a nossa noção política de tempo inexiste e o futuro continua
dissociado ou desgarrado, divorciado do passado.