quarta-feira, 2 de abril de 2025

A solidão de quem vos escreve


Paulo H. Santos

Certas coisas precisam ser escritas para que outros as entendam; outras precisam ser escritas para que quem as escreve possa entendê-las. Este é certamente um caso da segunda situação. 

Desde muito jovem, estudar se tornou uma forma de superação na minha vida, não apenas da minha limitação de conhecimento, mas também das barreiras que a vida me impôs. Comecei a me interessar por ler e estudar para superar uma depressão que, ainda na pré-adolescência, me atormentava. Tornou-se um hábito, uma forma de conhecer mais sobre as coisas ao meu redor, de me entender melhor, de entender o outro, e me acompanhou ao longo dos anos. 

Mas, como nem tudo vem sem um preço, parece que o custo dessa companhia foi a solidão exterior. A forma com que eu me interessava e entendia as coisas, ao longo do tempo, não parecia agradar ou ser de comum acordo entre meus colegas. Por isso, acabei me isolando, naturalmente me tornando introspectivo, recluso, quieto, chato. Não compartilhava grandes conversas com os amigos, muito menos os meus interesses, na maioria das vezes. Depois, com o advento da polarização política no Brasil, me tornei ainda mais “excluível”. O que é natural, já que grande parte das pessoas não suporta sequer as que compartilham das mesmas opiniões. 

Talvez tenha sido erro meu. Falta de esforço em fazer as pessoas se interessarem pelo que eu tinha para falar, para escrever. Talvez eu tenha insistido pouco. Não sou lá muito perseverante. Mas o fato é que a solidão persistiu. Provavelmente, não busquei mais longe, me privei de cercar-me de pessoas que compartilhassem dos mesmos interesses. Talvez tenha sido erro meu, talvez fosse necessário para o bem maior da minha alma. Não sei. 

Mais alguns anos se passaram, me tornei mais medíocre, perdi grande parte da motivação em estudar, afinal, não tinha com quem compartilhar, não fazia diferença. Passei a fazer o mínimo, ler o mínimo e inventar todo tipo de desculpa para não continuar nada que tivesse começado. 

Ainda hoje estou assim, mas se você está lendo isso, é sinal de que ao menos me tornei disposto a enfrentar esse desânimo e continuar a fazer o que minha consciência pede. Não ganho sempre, mas às vezes escrevo. 

Até o presente momento, ainda me atormenta a angústia dessa solidão, não a entendo ainda. Nem sei se um dia vou entender. Não consegui discernir o que vem com ela, o que é drama e o que é real, com o que deveria me importar e com o que não. Nem mesmo sei se é necessário falar sobre isso. Mas acredito que seja. 

Ao leitor que, por acaso, se identificar com este monólogo egocêntrico, não se desespere. Ao menos, tente não se desesperar. Não se esforce tanto em combater essa solidão; no fim, o hábito que vem com ela é um companheiro fiel. É a sua forma de ver o mundo. 

Deus quis que fosse assim, você não teria sido tão obstinado em ser dissociado dos outros. Tente fazer o que sua consciência lhe pede. Eu tento. 

Não ganho sempre, mas às vezes escrevo.

Título e Texto: Paulo H. Santos, ContraCultura, 2-4-2025

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