Pedro Marques Gomes, Alêtheia Editores, Lisboa, janeiro de 2014, 322 páginas.
A nova direção do diário com
maior circulação nacional durante o “Verão Quente” de 1975 – com tiragens
diárias superiores a 100 mil exemplares – prometia, num artigo publicado em
primeira página logo a seguir à tomada de posse, “servir o Povo Português e a
verdade, contra os inimigos do Povo Português e a mentira”, recusando, por
isso, subjugar-se a “interesses particulares”.
A 15 de Agosto de 1975 o
Diário de Notícias avisava os seus leitores de que tinha tomado conhecimento de
um documento, elaborado por um grupo de trinta jornalistas, no qual era
questionada a orientação do jornal. Iniciava-se um duro conflito, que rapidamente
ultrapassa as portas do velho diário da Avenida da Liberdade, coincidindo com
um dos momentos mais “quentes” do período revolucionário português,
caracterizado por profundas lutas entre defensores de diferentes projetos
políticos para o futuro do país, mas também por diversas tentativas de controlo
político-ideológico dos meios de comunicação social.
Este livro, publicado no âmbito da colecção Media e Jornalismo, coordenada por Ana Cabrera, analisa o conturbado processo que culminou no saneamento de uma parte dos jornalistas do Diário de Notícias, conhecido como «Caso dos 24» e que se mantém, ainda hoje, envolto em grande polémica, existindo sobre ele opiniões divergentes. Um caso que não foi apenas um problema laboral, colocando em evidência os diferentes posicionamentos políticos-ideológicos dos trabalhadores do jornal e as lutas internas e externas pelo seu controlo.
Pedro Marques Gomes é investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Doutorando em História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde prepara uma tese sobre a Imprensa e o Poder na Revolução de 25 Abril de 1974, é Mestre em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social. Participou no projeto de investigação “Justiça Política na Transição para a Democracia em Portugal”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Tem como principais interesses de investigação a história dos média e do jornalismo e da liberdade de imprensa.
Um pouco chato, pois esmiuça
tanto quanto possível o que era a imprensa portuguesa pós 25 de Abril: poucos
jornalistas, muitos militantes políticos nas redações, tipografias, elevadores,
portarias etc. Nada mudou, pelo contrário, multiplicaram os militantes,
encolheram-se os ‘jornalistas’.
Como ainda hoje, junho de
2025. Só uma pequenina diferença dialética: não existem mais jornais do Estado,
existem jornais “ajudados” pelo Estado.
Aliás, o Diário de Notícias, mal das pernas, por causa das cabeças, continua existindo graças à “ajuda do Estado”. E esses “ajudados” têm raiva daqueles que nada recebem e têm mais leitores do que eles. Daí a torcida e a participação contra a liberdade de expressão.
👏👏👏👏
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Miguel Urbano Tavares Rodrigues (Moura, 2 de agosto de 1925 – Vila Nova de Gaia, 27 de maio de 2017) foi um jornalista e escritor português.
ResponderExcluirE militante histórico do PCP-Partido Comunista Português.
Foi redator do Diário de Notícias entre 1949 e 1956, chefe de redação do Diário Ilustrado (1956 e 1957), antes de se exilar no Brasil, onde foi editorialista principal de O Estado de S. Paulo (1957 a 1974) e editor internacional da revista brasileira Visão (1970 a 1974), ao mesmo tempo em que participava do Portugal Democrático, órgão dos antifascistas portugueses, publicado, entre 1956 e 1975, também em São Paulo.
Regressado a Portugal após a Revolução dos Cravos, foi chefe de redação do Avante! (jornal do PCP) em 1974 e 1975 e diretor de O Diário entre 1976 e 1985.
Foi ainda assistente de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1974-75), presidente da Assembleia Municipal de Moura em 1977 e 1978, deputado à Assembleia da República pelo PCP - Partido Comunista Português entre 1990 e 1995 e deputado às Assembleias Parlamentares do Conselho da Europa e da União da Europa Ocidental, tendo sido membro da comissão política desta última.
Tem colaborações publicadas em jornais e revistas de duas dezenas de países da América Latina e da Europa e é autor de mais de uma dezena de livros publicados em Portugal e no Brasil.
A verdade apagada e esquecida de um ditardozinho num dos períodos mais negro da história recente de Portugal.
ResponderExcluirOs 24 jornalistas saneados do DN por Saramago. A 15 de Agosto de 1975, o DN avisava os leitores de que tinha tomado conhecimento de um abaixo assinado de um grupo de trinta jornalistas, no qual era questionada a orientação do jornal, então dirigido por Luís de Barros e José Saramago.
Quase toda a imprensa era já controlada pelo partido comunista, via a nacionalização dos principais grupos empresariais a seguir ao 11 de Março. Estes jornais pertenciam na maioria dos casos, a grandes grupos empresariais que tinham passado para a esfera publica. Já o Diário de Notícias (DN), tal como o Jornal de Notícias (JN), cuja circulação era quase exclusiva a norte, eram propriedade da ENP – Empresa Nacional de Publicidade, controlada pela Caixa Geral de Depósitos.
A 8 de Abril de 75, logo após o 11 de Março, o governo de Vasco Gonçalves nomeia uma nova direcção para o DN, em substituição de José Ribeiro dos Santos, um militante socialista, que já tinha sido chefe de redação no final dos anos 50. A nova direcção tinha Luis de Barros como director, anteriormente jornalista da Capital e do Expresso, presidente do Sindicato dos Jornalistas, em 1973 e 1974, e Subsecretário de Estado da Comunicação Social nos II e III Governos Provisórios, precisamente os chefiados por Vasco Gonçalves, onde o PCP assumia um crescente e perigoso protagonismo. Se duvidas existissem sobre o seu posicionamento partidário do director, o facto de posteriormente ter assumido o cargo de redacção de “O Diário” e correspondente da agência soviética “Novosti”, eliminavam qualquer dúvida. Por curiosidade apenas, era casado com Maria Teresa Horta, uma das famosas “Três Marias” e bisneta (por bastardia) do Marques da Fronteira e por isso descendente também da Marquesa de Alorna, escritora.
Como director adjunto foi nomeado José Saramago, militante do PCP, na altura escritor ainda em part time, autor de crónicas que escrevia para alguns jornais, dizia na tomada de posse “Este jornal deve ser um instrumento para a construção do socialismo.......não se pode, de futuro, limitar a ser uma folha de registos de ocorrências, mas há-de tornar-se no veículo das informações que o povo precisa”. Era ele que inequivocamente dirigia o jornal e que assinava o editorial. Ainda que para o caso aqui contado esta característica seja irrelevante, Saramago era também ele um sedutor e mulherengo, ou como descrevia o seu biógrafo, “há muitos atos de sedução ao longo da vida”, que “há muitas histórias de Saramago com mulheres”.
ExcluirO Diário de Notícias era um jornal respeitado, chamado da situação ou do regime, antes do 25 de Abril e na liderança do processo revolucionário, em pleno PREC. Quem possa consultar um exemplar nessa época revolucionária, assistirá com surpresa à existência de uma secção do jornal chamada “Sindicatos e Trabalho” que ocupava mais do que uma página e outra, maravilhosa, apelidada de “Campesinato”, expressão muito usada pelo marxismo para descrever um determinado estado económico, social e revolucionário.
Ora a nomeação de Luis de Barros/José Saramago não foi inocente nem inconsequente. Há mesmo um jornalista que, provavelmente algum exagero, se queixava de que quem dirigia o jornal era Álvaro Cunhal. Segundo outro jornalista, “A manipulação era tanta… A preparação do Diário de Notícias para o PC tomar o poder era tal, o alinhamento era tal, que começou a ser um pouco deplorável a forma como a direção e as chefias apelavam… Era a censura descarada, era a manipulação descarada, era a censura não só no ato, mas também na marcação de serviços…..” Foi mais um passo, como descreveu Zita Seabra, “uma das condições para a vitória da revolução era o controlo dos órgãos de comunicação social”
Estavam criadas as condições para um protesto dentro da redação. A 12 de Agosto, um grupo de 30 jornalistas (cerca de metade da redação) subscreve um documento contra linha ideológica orientadora do jornal, sem. no entanto, nomearem o PCP. Saramago convoca então um plenário com a Comissão de Trabalhadores, onde intervém activamente, com um enérgico discurso irritado e de forma bastante critica ao documento dos 30. Como resultado da votação, de braço no ar, é decidida a suspensão temporária dos jornalistas tendo em vista o seu saneamento. Desse grupo são efectivamente saneados 24, uma vez que 6 jornalistas recuam na posição, sob o argumento de que a divulgação externa, através da publicação no jornal Expresso, configurava uma manobra político-partidária.
ExcluirEstávamos já na fase final do PREC e Vasco Gonçalves não iria durar muito mais. Dá-se o 25 de Novembro e as administrações de todos estes jornais públicos são destituídas, com o argumento dos fortíssimos prejuízos incorridos. A 17 de Dezembro é nomeada uma nova direcção – Victor Cunha Rego e Mário Mesquita – ambos militantes socialistas. Quanto aos jornalistas saneados, só em 1976 tiveram a sua situação resolvida, mas alguns deles tinham já saído para outras publicações privadas que, entretanto, foram surgindo, como "O Dia", dirigido por Vitorino Nemésio, "O Jornal" de Joaquim Letria, "O Tempo" de Nuno Rocha, e "O Diário", para onde foram uma parte dos jornalistas descontentes com o rumo do País e do jornal no pós 25 de Novembro.