terça-feira, 1 de julho de 2025

Um novo Dia D

Os direitos humanos, a democracia e a liberdade são invenções perversas do colonizador branco que ameaçam a estabilidade do resto do mundo 

João Cerqueira

A História repete-se. Tal como Mussolini passou de socialista a fascista, Mette Frederiksen, a primeira-ministra socialista dinamarquesa, vestiu a camisa negra e levantou o braço direito.

«Se alguém vem do Médio Oriente para a nossa sociedade e quer destrui-la, devemos ser capazes de nos defender» *. É óbvio que esta referência da fascista dinamarquesa à origem do emigrante implica que a religião islâmica é uma ameaça à sociedade ocidental. À primeira vista, esta declaração é aceitável pois ninguém deve impor a sua cultura aos outros povos.

Imagine-se que alguém vai da Europa para um país árabe e quer destruir aquelas sociedades respeitando a igualdade entre os sexos e os direitos das mulheres. Se um casal europeu for viver para a Arábia Saudita, convém levar na mala uma burka, um cinto de castidade e um pequeno chicote.

Imagine-se o desplante de tentar convencer o Hamas a realizar uma parada LGTB+ em Gaza. Como poderia este movimento combater Israel com gays, lésbicas e transexuais nas suas fileiras? E se, em vez de bombas, ofereciam flores aos israelitas?

Imagine-se que algum europeu vai para África, por exemplo para a Guiné-Bissau, e tenta sensibilizar aquela sociedade a acabar com a mutilação genital feminina. Que atrevimento. Toda a criança tem o direito a ser mutilada segundo os costumes da sua cultura.

Portanto, é preciso distinguir a destruição de culturas milenares, com boas práticas e hábitos sadios, de uma reação natural contra o colonialismo neoliberal, onde nada se aproveita.

Os direitos humanos, a democracia e a liberdade são invenções perversas do colonizador branco que ameaçam a estabilidade do resto do mundo. Houve um tempo em que no Afeganistão e na Pérsia deixavam as mulheres andar à solta, de cara destapada e minissaia, todas ocidentais, e foi uma rebaldaria. Para seu próprio bem, agora elas têm um dono que lhes dá de comer e as passeia na rua quando é necessário. E a prova de que são mais felizes é que nunca há manifestações de protesto, artigos na comunicação social a exigir direito colonialistas e coisas do género. E quanto aos LGTB+, que também se preparavam para transformar Cabul e Teerão numa São Francisco de amor livre, perderam as letras todas, o sinal mais e tudo o resto que fazia tremer as barbas aos clérigos islâmicos. Porém, tão pouco se queixam ou manifestam.

Ora é este anticolonialismo multicultural e caceteiro que agora está a instalar-se na Europa, numa vingança histórica aplaudida pelos partidos da esquerda radicalmente democrática, que a fascista dinamarquesa considera uma ameaça à nossa civilização. Contudo, ao que ela chama ameaça é, na verdade, uma libertação. Um novo dia D com desembarque de emigrantes que abominam a nossa cultura.

Deixem-nos oprimir as suas mulheres e assediar as nossas, deixem-nos cortar o trânsito durante o Ramadão e banir as salsichas das cantinas, deixem-nos instaurar a Sharia nos seus bairros e justiçar os LGTB+, deixem-nos incendiar Paris, Londres e Lisboa. Em suma, deixem-nos libertar a Europa da Democracia e da Liberdade.

* Ver Observador – Dinamarca e Itália. A improvável aliança na imigração entre a social-democrata Frederiksen e a nacionalista Meloni.

Título e Texto: João Cerqueira, SOL, 30-6-2025, 22h09 

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