terça-feira, 1 de julho de 2025

O Governo, a Lusa e o ‘Ministro da Verdade’…

Quem não estiver de acordo com a Lusa, ou seja, com o Governo, é exterminado como reles desinformador pela Lusa Verifica 

Diogo Pacheco de Amorim

Os partidos ‘populistas’ têm vindo a alcançar sucesso crescente em sucessivos atos eleitorais um pouco por toda a Europa nesta última meia dúzia de anos. As causas são por demais conhecidas para que valha a pena enumerá-las. Os partidos tradicionais e as suas castas dirigentes, incapazes de lhes fazer face nas urnas, resolveram fazer frente de outra forma, pouco democrática, é certo, mas a única com alguma possibilidade de ter êxito. Uma forma que se define em duas frases: uma censura a que dão o nome de ‘combate à desinformação’, por um lado; e a ‘utilização das instâncias judiciais ‘no combate ao discurso de ódio’ e ‘na defesa das instituições e da legalidade democrática’, pelo outro. Quando os dois movimentos anteriores correm mal, em última instância, anulam as eleições quando o vencedor não é o pretendido pela casta. Resumindo: é a ditadura, mas do Bem. Organizados a partir de Bruxelas, os oligarcas resistem, desesperadamente, à perda de poder, influência, rendas e prebendas. A oligarquia de Bruxelas desenhou as grandes linhas. Os oligarcas dos variados países adaptam-nas aos seus países.

Bruxelas. factos:

Em Bruxelas, foram criados dois instrumentos base para estruturar um regime de censura permanente partindo de conceitos vagos e subjetivos como ‘desinformação’, ‘manipulação da informação’, ‘riscos sistémicos’, ‘risco para o discurso cívico’. São esses instrumentos o Digital Services Act e o Democracy Shield, sim, leram bem, Escudo da Democracia. Ambos estendem uma teia tecida entre a Comissão Europeia, o Serviço Europeu para a Ação Externa, reguladores nacionais e entidades ditas de fact-checking , uma teia com validade legal em todos os países da UE. Revisitando Orwell, teremos em Bruxelas um ‘Comissário da Verdade’ e em cada uma das colónias europeias um ‘Ministro da Verdade’ a trabalharem em íntima conexão e dotados de um sofisticado aparelho daquilo a que antigamente se chamava censura. Assim Bruxelas definiu e balizou o campo, financiando largamente os pequenos oligarcas que governam as províncias do ‘Império’ para fazerem eles o trabalho sujo. Caro leitor, esta minha breve descrição apenas peca por defeito. Vá ao ChatGPT e dedilhe Digital Services Act ou Democracy Shield e veja o que o espera na primeira curva do caminho. Na Alemanha são centenas todos os meses na cadeia por delito de opinião.

Portugal. Factos:

O Governo é dono da RTP, com vários canais. O Governo é dono de 95,86% da Lusa, agência noticiosa que está na base do essencial do conteúdo noticioso da generalidade dos órgãos portugueses de comunicação social. Mas mais, a Lusa acaba de lançar a sua própria empresa de fact checking, a Lusa Verifica. Ou seja: a Lusa propaga a verdade do Governo. Quem não estiver de acordo com a Lusa, ou seja, com o Governo, é exterminado como reles desinformador pela Lusa Verifica. Provavelmente vai fazer também o trabalho para a RTP. Querem melhor? La boucle est bouclé, como dizem os franceses.

O nosso ‘Ministro da Verdade’ é particularmente competente, como atrás fica claro. Deixemos a sua apresentação a cargo do diretor de uma revista semanal: «Com o ministro Leitão Amaro a CS passa a estar no centro das atenções políticas deste governo. Boas notícias». Sim, Leitão Amaro é um dos poucos ministros competentes deste Governo. Para bem da nossa oligarquia caseira, mas para mal das nossas liberdades.

Título e Texto: Diogo Pacheco de Amorim, Vice-presidente da Assembleia da República, SOL, 30-6-2025, 22h07 

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