A revista Sábado, edição nº 357, semana de 03 a 09 de março de 2011, traz em seu editorial um elaborado texto contra a o delírio persecutório eleitoral, tão sábia e sabidamente propagado pelo atual partido no poder, por uma só razão: pavor de perder as próximas eleições. Medo, como se perceberá no texto abaixo, travestido da falácia que eleições representam instabilidade... (só para quem as perde, well...)
Ricardo Salgado é um banqueiro. E, como banqueiro, acha que não deve “entrar no domínio da crítica política” nem “fazer comentários políticos”. Por isso, este fim-de-semana, deu uma entrevista para falar de outras coisas que não de política. Em primeiro lugar, defendeu que o Governo português poderia “ter actuado com mais dureza desde o início” da crise. Depois explicou que, se calhar, pode sair muito caro o Governo interromper a construção do TGV. Finalmente, concluiu que convocar eleições legislativas “nesta altura seria um problema complicadíssimo”.
Para o presidente do Banco Espírito Santo – que, convém reafirmar, não quer falar sobre política -, o Governo precisa de tempo para garantir a execução orçamental, a economia precisa de estabilidade política e o País precisa de “melhores condições” para poder ter uma “evolução política”.
Ricardo Salgado não é o único grande empresário com fobia de eleições. Há uma semana, Joe Berardo avançou com outra proposta menos polida: “mudar o sistema político” e, eventualmente, criar “um novo género de ditadura”, o que daria, presume-se, estabilidade e decência.
Muitos regimes totalitários começaram assim: primeiro com uma situação económica insuportável, depois com uma aversão generalizada aos políticos e finalmente com um pânico de instabilidade política tão grande que paralisa o país e vai adiando eleições.
Portugal, felizmente, ainda está longe de se tornar um regime totalitário, mas está cada vez mais obcecado com a estabilidade. Durante quatro anos, teve um governo com maioria absoluta. E nos últimos dois, teve toda a estabilidade política de que precisou para aprovar as medidas que iam salvar o país do caos. O problema é que, enquanto o Parlamento vivia em estabilidade, os portugueses passaram a viver com vários cortes nos apoios sociais, três subidas de impostos e um aumento constante da despesa do Estado – exactamente o oposto do que lhes tido sido prometido na campanha eleitoral.
Em dois anos, a estabilidade política deu a Portugal a mais elevada taxa de desemprego de sempre, um dos maiores aumentos da carga fiscal da Europa e uma firme e segura recessão para os próximos tempos. Em relação às medidas que provocaram tudo isto, os portugueses nunca foram consultados. Muito menos chamados a votar. Tudo por causa da estabilidade.
Editorial, Sábado, nº 357, 03 a 09 de março de 2011
Digitação e Edição: JP
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