sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobre a visita de Obama ao Brasil

Thomas Korontai
A visita de Obama ao Brasil foi bem explorada pela midia, especialmente para ufanizar o País em face da simpatia demonstrada pela família presidencial norte-americana. Mas o “diplomatês” traduzido aponta em direções mais pragmáticas, especialmente quanto interpretadas à luz da situação do Brasil no contexto geopolítico e geoeconômico mundial.
Obama veio a negócios. Tantos para os imediatos, quanto para os de longo prazo. Os acordos assinados apontam exatamente nessa direção de forma preferencial. Certamente que “vê com simpatia” o pleito do Brasil à uma cadeira fixa no Conselho de Segurança da ONU, porque isso é... simpático, mas isso não basta. Mas o fato de não ser um “não” foi transformado pela midia em um quase “sim”. Paises como a Alemanha, com um PIB de quase US$ 4 trilhões e o Japão, com cerca de US$ 5 trilhões, não têm cadeira fixa, ocupadas por apenas cinco países, exatamente por sua força bélica – EUA, Rússia, China, França e Reino Unido. Não depende apenas de Obama a reforma do Conselho.
Além dos acordos, contudo, deve-se comemorar a reaproximação dos EUA com o Brasil e nesse sentido, deve se dar crédito à atual administração brasileira, que priorizou essa situação imediatamente após a saída do ocupante anterior do Planalto. Obama, em seu discurso, fez conhecer a todos, das coincidências históricas e da longa amizade entre os dois países, referindo-se aos EUA como a primeira nação a reconhecer a Independência do Brasil, bem como, ter recebido a primeira visita de um chefe de Estado – D. Pedro II, em 1876 – àquela Nação.

É evidente que haveria de elogiar a nossa democracia, embora possamos entender que colocá-la como exemplo aos árabes em revolta tenha sido uma forma de dizer outra coisa. Afinal, uma das mais adiantadas democracias do mundo ainda é a americana, porque não usá-la como exemplo? Será que Obama sabe que no Brasil o voto é obrigatório? Se sabe, talvez acredite, como muitos “representantes do Povo” que tal obrigatoriedade serve como método de aprendizado democrático. Churchill já demonstrava outra opinião: “democracia se aprende, não pode ser empurrada goela abaixo”.
A chamada de atenção da senhora Dilma Roussef, que ora ocupa o Planalto (“ocupanta”?), valeu mais pela pirotecnia do que efeito prático, no que tange às barreiras protecionistas norte-americanas, cuja legislação não depende do Executivo e sim do Congresso. Os EUA sofrem de um processo de centralização progressiva, e uma das facetas desse triste movimento está na indústria legalizada dos lobbies, mesmo em prejuízo ao próprio povo americano. Paradoxalmente não se fala nas barreiras protecionistas que o Brasil tem em relação aos EUA – experimente tentar importar qualquer coisa de lá, um carro, por exemplo... Obama, nesse ponto, foi educado e não se contrapôs.
Apesar de o Brasil estar na 7º posição em volume de geração de PIB, ocupa posições absurdas que revelam seu real sub-desenvolvimento, como apontam os diversos índices – competitividade, IDH, liberdade de imprensa, burocracia, juros, tributos, regulamentação, educação, saúde, infra-estrutura, custo logístico, enfim, uma série que mantém o País em posições intermediárias dentre listas de 130, 150 ou 1té 190 nações, quando não nas últimas colocações. No comércio mundial, por exemplo, nossa participação é de apenas 1% do total.
E com essa situação, juntamente com a falta de poderio bélico – as FFAA estão sendo desmanteladas progressivamente – não se consegue visualizar uma razão pela qual o Brasil tenha direito de ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança. Pensamos que os brasileiros devam mesmo se preocupar em arrumar a casa primeiramente. O resto, se interessar, vem depois.
Thomas Korontai, fundador e líder do Movimento Federalistawww.movimentofederalista.org.br

Cidade de Deus, Rio de Janeiro. Foto: Paulo Ricardo Paúl

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