terça-feira, 29 de março de 2011

O rei Davi

Luiz Felipe Pondé

Às vezes me pergunto de onde vem minha simpatia pela atitude do rei Davi em seus salmos, já que não sou religioso. O crítico Otto Maria Carpeaux me responde. Nossa imensa ignorância perante a imensidão da vida e do universo, perante a impenetrabilidade das razões de nosso nascimento e de nossa morte, perante nosso inexorável isolamento nesta vastidão dos espaços infinitos de escuridão que nos assusta, como diria Pascal, nos impõe a humildade como forma última de estar no mundo. Sem ela, não há conhecimento possível. E a humildade é a virtude hebraica por excelência. E aqui se encontram, no coração da Antiguidade, Israel e Grécia: humildade é uma virtude religiosa antiga por excelência. 

O judaísmo que me interessa é o hebreu, o antigo. Humildade é a grande virtude de Davi, motivo pelo qual é chamado de o “predileto de Deus”, porque pensa com o coração e por isso o tem no lugar certo, aquele lugar a partir do qual confessa suas fraquezas. Sempre me encantei por aqueles que vivem em meio a suas fraquezas, como as mulheres. Uma das coisas que me atrai nas mulheres, além de suas pernas, é a sua capacidade para enfrentar, sem falsa arrogância, a fragilidade das coisas e de si mesmas.

Em nós, modernos, falta a humildade. Por isso, pela falta de humildade, é que o orgulho moderno é sempre um erro como forma de estar no mundo. É por isso, entre outras coisas, que prefiro o mundo antigo à breguice moderna.
Luiz Felipe Pondé, in "Contra um mundo melhor - Ensaios do afeto", página 128

3 comentários:

  1. "judaísmo que me interessa é o hebreu, o antigo"

    Queria saber o que o Luiz Felipe quis dizer com isso.
    Até onde o judaísmo era hebreu e a partir de quando deixou de ser?

    Ainda era na diáspora da Babilônia? E no El-Andalus de Maimônides? Deixa de ser quando? Com Jesus? Com a destruição do Templo de Salomão? Com o aumento de europeus seguindo a religião?

    Esses tipos de comentários jogados no ar e s/ nenhuma explicação sempre me deixam com uma péssima impressão de quem os escreve.

    Me faz lembrar de quando abri um livro de Spinoza e quem escreveu o prefácio afirmava que a Bíblia Hebraica defendia literalmente o 'olho por olho'...

    Lembro até que era um filósofo conhecido. Diante de tamanha ignorância acabei desistindo e procurando outra versão.

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  2. Agradeço a sua participação e esclarecimento.
    Abraços./-

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  3. Eu não entendo de hebraísmo para poder tratar do assunto, porém, quanto à parte final do teu comentário, o livro de Levítico, no capítulo 24, afirma o seguinte:

    "Quem matar a alguém, certamente será morto;
    e quem matar um animal, fará restituição por ele, vida por vida.
    Se alguém desfigurar o seu próximo, como ele fez, assim lhe será feito:
    quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado algum homem, assim lhe será feito.
    Quem, pois, matar um animal, fará restituição por ele; mas quem matar um homem, será morto."


    Ora, ainda que seja politicamente incorreto, é o que a Bíblia Hebraica (e cristã) prescreve.
    Se o texto não deve ser entendido literalmente, o ônus da prova é de quem o afirma.

    Até lá, eu fico com o sentido óbvio.

    Vitor

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