Introdução, (particularmente para o nosso generoso
leitor residente fora de Portugal ou “imigrado de”):
Esse senhor, Fernando Tordo, é um
compositor-cantor português que resolveu se mudar de Portugal. Mas, como
opositor a este governo, e perfeito conhecedor da opção ideológica da imprensa
local, não perdeu a oportunidade de tornar
a sua (dele) opção de mudar para o Brasil, numa performance comicial. (Num circo).
A que se juntou o seu filho numa carta “comovente”
(assim se expressou o Jornal ‘Público’), que não li.
O senhor Tordo pai, antes de partir afirmou “É
muito provável que aproveite estes últimos anos da minha vida, porque não os
quero consumir aqui. Eu não quero, eu não aceito esta gente, não aceito o que
estão a fazer ao meu país. Não votei
neles, não estou para ser governado por este bando de incompetentes. Vou-me
reformar deste país. Não me está a apetecer ficar aqui, de maneira nenhuma.
Acho que ainda tenho muita coisa para fazer”. (Wikipédia)
Grifo meu.
Toda essa performance político-ideológica da
família Tordo me causava náuseas, ia lendo algumas reações em blogues que sigo…
algumas bem interessantes, pois mostraram-me o tamanho da mama estatal de que
esse senhor se beneficiou, mas continuava com a decisão de não dar bola a essa
insultuosa hipocrisia. Até que, e ainda não faz uma hora, leio este post de Ana Rodrigues Bidarra, no blogue “Estado-Sentido”.
Li e reli. Considero-o definitivo.
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Acordei a(tordo)ada
Ana Rodrigues Bidarra
O Fernando Tordo decidiu, aos
65 anos, partir para o Brasil, onde irá, de acordo com as fontes noticiosas,
dinamizar um espaço cultural no Recife. Diria que não há nada de errado nisto,
exceptuando o facto de fazerem do acontecimento uma efeméride, apesar do vácuo
noticioso a tanto nos ter já habituado.
Esperem, que isto afinal não é
bem assim. Decidiu-se metamorfosear este momento num outro. Vejamos:
Fernando Tordo alega, em
directo, no momento do seu lânguido farewell, que Portugal não é
suportável, que não está triste com ninguém, mas que este país, que agora
deixa, não lhe dá oportunidades. Retorquindo à questão que lhe foi colocada
pela jornalista, em que lhe foi perguntado, em tom algo jocoso, se seguia o
conselho de Passos Coelho, Tordo demonstra o desdém que tem por PPC dizendo que
este não tem tamanho para dar conselhos a ninguém, que é muito pequeno. Certo.
Afinal, aquilo é isto. Só que
não. Não é.
O i revelou ontem que a empresa em que Fernando Tordo é
sócio-gerente recebeu, desde 2008, mais de 200 mil euros, 10 mil euros dos
quais este ano, pela produção de vários espectáculos. Também não me parece que
haja nada de errado nisto, exceptuado o facto de todos os espectáculos terem sido objecto de ajustes directos por
parte das entidades adjudicantes.
Tordo explica que deu emprego
a 26 músicos, técnicos de luz e som e que, do total das adjudicações directas
feitas à sua empresa, recebeu apenas 10%.
Acrescento ainda que Tordo
voou para o Brasil mas voltará em Abril, altura em que actuará, a dia 25, num
espectáculo no Centro Cultural do Alto Minho, em Viana do Castelo.
Très bien. E agora? Agora
fazemos um breve rewind.
Tordo, prenhe de
auto-comiseração, diz que não tem
oportunidades em Portugal.
Ora, a mim parece-me que Tordo
beneficia de uma posição supra-legal, indevidamente conferida pelas entidades
com as quais contratou, em que o cumprimento da lei e dos procedimentos
pré-contratuais necessários parecem ser um óbice ao desenvolvimento da sua
actividade. Ademais, não dá para tolerar a desfaçatez, a impudência e a falta
de gratidão de um indivíduo que tanto deve
ao país que agora deixa.
Fernando Tordo não é um
coitadinho. Tordo parece-me ser um biltre mas, hoje, todos dele se compadecem.
Voltemos à arena mediática:
A Carta ao Pai , publicada no Público. Compreendo que cause
comoção a alguns o desabafo do filho de Tordo, um escritor, que entendeu ser
necessário defensar a honra do seu pai publicamente, após ter lido no facebook
comentários desagradáveis acerca da ida deste para o Brasil mas, porra, a
sério? Poupem-me. Se, de facto, como diz o filho: "Tudo isto são coisas
pessoais que não interessam a ninguém, excepto à família do senhor Tordo”
por que raio escreve uma carta pública? Quando quero falar com o meu pai,
dar-lhe força e transmitir apoio eu telefono-lhe ou vou lá a casa. Que raio de
empáfia é esta?
Já para não falar da soberba
do tipo, que escreve, e passo a citar: "Pouco importa quem é o homem;
isso fica reservado para a intimidade de quem o conhece. Eu conheço-o: é
um tipo simpático e cheio de humor, que está bem com a vida e que, ontem,
partiu com uma mala às costas e uma guitarra na mão, aos 65 anos, cansado
deste país onde, mais cedo do que tarde, aqueles que o mandam para Cuba, a
Coreia do Norte ou limpar WC e cozinhas encontrarão, finalmente, a terra
prometida: um lugar onde nada restará senão os reality shows da
televisão, as telenovelas e a vergonha."
"Uma mala às costas e uma
guitarra na mão". Coitado do pobre senhor Tordo. Abandona o país ciente de
que tem de se libertar dos grilhões desta governação, sente-se explorado,
cansado, deu tanto a Portugal e recebe apenas 200 euros de pensão. É triste,
muito triste. Só que eu e vocês sabemos que não é bem assim. Mas há de ter
soado bem e há que deixar o escritor escrever. Deixar o artista expressar-se.
João Tordo tenta ainda um
breve diagnóstico político-social e conclui que a geração do pai tudo fez para
construir um país melhor para os filhos e netos e que a classe política
governante "fez tudo para dar cabo deste país". Não posso comentar isto
agora. Sim, é melhor não. Avante.
Fernando Tordo replica, no
facebook, ao filho, dizendo: "Não entristeças, João".
Os Tordos querem dar a esta
viagem um sabor de coup de grâce ou torná-la num manifesto mas a
tentativa falhou. Falhou, senhores.
Não quero, de todo, com esse
texto, descredibilizar a análise feita por Fernando Tordo. De facto, Portugal
está insuportável, mas não é para ele. Portugal tem uma classe política que se
vê, quer-me parecer, obrigada a injectar esperança nos portugueses, mormente
por via dos indicadores macroeconómicos e das análises feitas pelos
especialistas e artigos no Financial Times, porque sabe perfeitamente que os
efeitos desses sinais positivos na economia real e no consumo só se darão
sabe-se lá quando. Bem sei que Portugal está na ruína. A minha geração nasceu
com dívidas e morrerá com elas devido à geração do senhor que se diz agora sem oportunidades.
A si, senhor Tordo, desejo-lhe
a felicidade mas não me compadeço. Não posso admirar-lhe a coragem porque a
geração dos seus filhos, que é a minha, é uma geração sem oportunidades, em que
a resiliência e a coragem são nossos apelidos, graças a si e aos seus.
Senhor Tordo, não ter
oportunidades é começar por não ter dinheiro para pagar senhas de almoço na
escola primária; não ter oportunidades é não ter dinheiro para pagar uma
licenciatura; não ter oportunidades é não ter possibilidade de contrair um
empréstimo bancário para concluir os cursos, porque os bancos agem de
sobreaviso e está declarado o fim da era do “crédito barato”; não ter
oportunidades é, concluída com suor uma licenciatura, não ter emprego; não ter
oportunidades é não poder formar uma geração vindoura; não ter oportunidades é
ter medo de ter filhos e assistir ao envelhecimento progressivo da população;
não ter oportunidades é viver em casa dos pais até aos 40 anos; não ter
oportunidades é fazer contas aos descontos para a Segurança Social que perceber
que daqui a 20 anos a palavra reforma é coisa do passado; não ter oportunidades
é não poder pagar o passe; não ter oportunidades é comer pão com pão durante
semanas.
A sua geração, senhor,
rebentou-nos as costuras e, agora, estamos como vê, numa situação tão decrépita
que fazemos notícia, na nossa televisão pública, da história de um cagão que
faz milhares de euros em Portugal, em espectáculos, ao arrepio da lei
e decide ir para o Brasil dinamizar um espaço cultural e se dá ao luxo
de dizer que Portugal não lhe dá oportunidades.
Adeus, tristeza, até depois.
Título, Imagem e Texto: Ana Rodrigues Bidarra, “Estado-Sentido”,
21-02-2014
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