Afonso Belisário
As economias europeias estão a sofrer com o peso da guerra na Ucrânia, mas os líderes europeus agarram-se ao conflito em detrimento da paz. Acabar com a guerra desencadearia o crescimento, reduziria a inflação e restauraria a estabilidade. Mas as elites pressionam Kiev no sentido de exigências maximalistas, fazendo descarrilar as negociações. O interesse próprio, a sobrevivência política e o fanatismo ideológico estão claramente a ser colocados acima da prosperidade e do futuro da União.
O custo económico da guerra é
brutal. Segundo o FMI, os preços da energia, disparados pelas sanções, custaram à Europa 600 mil milhões de euros entre 2022
e 2023. A Goldman Sachs estima que uma paz “abrangente” impulsionaria quase
imediatamente o PIB da zona euro em 0,5% e reduziria a inflação – atualmente em
2,5% – em 0,5% também, atingindo a meta de 2% do BCE para 2025. A paz também
reduziria os encargos das famílias e os custos industriais.
E isto já para não falar
do ruinoso acordo
comercial que a UE assinou com os EUA, cedendo em tudo o que havia para ceder
na expectativa de
continuar a ter o apoio dos EUA na sua missão bélica contra a Rússia.
Lembra-se quando a economia
era o orgulho e a alegria da UE? Bem, já não o é agora. A Alemanha, o motor da
Europa, é quem mais sofre. O seu orçamento para 2025 prioriza a contenção
orçamental devido aos pacotes de ajuda à Ucrânia, enquanto a produção industrial
estagna – estando em queda de 1,2% desde 2018. Uma guerra prolongada eleva os
custos da energia, com os preços 30% acima dos níveis pré-2022 (Eurostat). A
paz poderia reanimar a indústria, salvando empregos e exportações.
As repercussões alastram por todo o continente. A França, surpreendentemente, está à beira de um resgate do FMI – e a guerra pode acabar por ser a gota de água. O crescimento do PIB da Polónia em 2024 abrandou para 2,1%, segundo a OCDE, em parte devido às perturbações comerciais causadas pela guerra. Os sectores agrícolas de vários países foram seriamente afetados. A Grécia perdeu 80% dos seus 235.200 turistas russos em 2022, enquanto em 2022-2023, uma queda de 90% no número de visitantes russos custou à Europa entre 8 mil milhões e 10 mil milhões de euros em receitas.
Os refugiados ucranianos, 4,2
milhões em toda a UE, segundo o Eurostat, também causam stress nos serviços
públicos, tendo custado até agora dezenas de milhares de milhões, a acreditar
em fontes como o Bruegel, um think tank sediado em Bruxelas. A
paz permitiria o regresso dos refugiados, aliviando os orçamentos e
impulsionando a reconstrução da Ucrânia, abrindo um mercado para as empresas
europeias. Mas não, o que Bruxelas quer são centenas de milhares de milhões
investidos para manter o doente ucraniano vivo e o doente europeu próximo do
coma.
Na cimeira do
Alasca, em Agosto de 2025, Trump pressionou para um cessar-fogo, mas figuras da
UE como Ursula von der Leyen e Kaja Kallas exigiram a inclusão de Kiev e
garantias de segurança “robustas” que o Kremlin nunca vai aceitar. O chanceler
Merz age como comandante de divisão panzer a caminho de Estalinegrado. Macron
insiste em mascarar-se de Napoleão. A sua insistência na retoma de todo o
território pela Ucrânia ignora o controlo russo de 18% do país – área que
cresce em dimensão todos os dias. Esta posição inflexível, de linha dura,
paralisa as negociações.
A Axios refere que a equipa de
Trump acusa a Europa de sabotagem, pressionando a Ucrânia a adoptar exigências
“maximalistas” por um “melhor acordo”. Os líderes da UE falam em paz, mas
instam Kiev a manter-se firme, prolongando a guerra. Kallas, classificando
quaisquer as concessões territoriais como uma “armadilha”, ignora as sondagens
que mostram 68% dos ucranianos a favor das negociações. A posição da Europa
promove objetivamente mais derramamento de sangue.
E por quê? Interesse próprio,
influência geopolítica, ideologia, lucro. Os figurões da UE temem que um acordo
de cedência de terras enfraqueça a sua própria credibilidade e influência.
Impulsionar reivindicações maximalistas adia um duro despertar: a guerra está perdida.
E depois, claro, os líderes europeus teriam de prestar contas do seu fracasso
estratégico aos eleitores. Nesse caso, os acordos de armamento e os lucros com
as energias verdes não serão suficientes para justificar a catástrofe.
Além de tudo isto, as tensões
com a Rússia serviram à Romênia para impedir, com falsos pretextos,
um populista de chegar a Presidente. Servem a Bruxelas para hostilizar
Viktor Orbán. Servem a Emmanuel Macron para manter a ilusão da relevância. E
hão de servir a Friedrich Merz para interditar o AfD.
O Banco Europeu para a
Reconstrução e Desenvolvimento (BERD) afirma que a reconstrução da Ucrânia
poderá potencialmente abrir um mercado de 1 bilião de euros. A Europa poderia
intermediar um acordo, trocando o apoio político ao processo por contratos, para
que as empresas europeias pudessem lucrar. O fim desta guerra desbloquearia o
comércio e o investimento. Em vez de procurar abrir esse caminho, a UE está até
a considerar sanções secundárias contra países como a
Índia, por comprarem energias russas.
As elites europeias têm de
escolher. A paz permitiria poupar dezenas de milhares de milhões em custos
anuais, reduzir e estabilizar os custos da energia e estimular o crescimento.
Mas, ao pressionarem por metas inatingíveis, prolongam o calvário. Zelensky
poderia convocar um referendo, deixando os ucranianos decidirem, mas parece que
o Ocidente só se preocupa com a democracia em termos de aparência, não de
substância. Os líderes servirão os povos ou empenharão o futuro da Europa para
se salvarem?
Lamentavelmente, a segunda
hipótese é bem mais provável.
Título, Imagem e Texto: Afonso
Belisário, Oficial fuzileiro (RD, Polemista, Português de Sagres – ContraCultura,
16-9-2025
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