terça-feira, 30 de setembro de 2025

[Livros & Leituras] Lições de abismo

Gustavo Corção, VIDE Editorial, Campinas, 16ª edição: julho de 2018, 324 páginas. 1ª edição: Agir, 1950. 

Onde estou? Que lugar é este aonde cheguei? Que tarde quieta e única é esta, dourada no céu e verde no mar?

Estamos chegando. Passo a passo, com extrema fadiga, me aproximo da beira do abismo. Estou só. O mundo ficou para trás. O vento trouxe ainda pedaços do mundo, notícias soltas e rasgadas que dançam no ar.

Ouço apenas o bulício, o frêmito do mundo efervescente dos vivos, que ficou para trás. Os pedaços rasgados que o vento carrega colam-se às penedias do basalto úmido; e eu leio as últimas notícias truncadas. Dizem que há uma guerra; que há incêndios; que moços caem como folhas; que ministérios se reúnem; que exércitos recuam.
Há produtos farmacêuticos que anunciam a felicidade. Há sorrisos de aluguel impressos nos cartazes do mundo.

Mas eu estou só. No lugar ermo, no recôncavo de pedra de um Adriático de poesia, eu vou andando, andando, fascinado pelo abismo.

Debruço-me nas bordas do precipício. “O vento e o mar murmuraram orações…”. O vento, águia enorme que passa puxando o mundo com tirantes de couro que rangem nas asas poderosas…

O mar, lápide imensa, em pórfiro e esmeralda… E eu, debruçado no abismo. Anoitece…

Gritarei? Quem me ouvirá? “Quem, se eu gritar, me ouvirá entre as hierarquias dos anjos?” 

Lições de abismo é o único romance do escritor brasileiro Gustavo Corção, considerado por muitos críticos literários como a sua obra-prima. Sobre ele, disse o poeta Menotti del Picchia: “Creio, sem temor de exagerar, ter lido o maior livro de ficção que já se escreveu no Brasil”.

O romance também foi responsável pela seguinte declaração de Oswald de Andrade sobre Corção: “Depois de Machado de Assis aparece agora um mestre do romance brasileiro”.

O romance conta os últimos dias de vida do professor José Maria, diagnosticado com uma doença terminal que lhe deixou com cerca de três meses para, como ele mesmo diz, preparar a própria morte. Recluso em seu quarto, na companhia de poucos livros e alguns botões de rosa, José Maria recapitula a vida e elabora sérias reflexões sobre a morte e o porvir. 

👏👏👏👏


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