domingo, 14 de setembro de 2025

[As danações de Carina] Como encarar o Feminicídio: Um Chamado à Consciência Coletiva

Carina Bratt

A POPULAÇÃO BRASILEIRA, precisa, de uma vez por todas, entender que o ‘Feminicídio’ não é apenas um crime é o reflexo brutal de uma sociedade tacanha que ainda falha em proteger, respeitar e valorizar a vida das mulheres. Se faz mister encarar de frente o ‘Feminicídio’ que acima de qualquer coisa exige mais do que a indignação momentânea diante de manchetes trágicas. Exige ação contínua, transformação cultural e coragem política. ‘Feminicídio’ é o assassinato brutal de mulheres motivado por gênero, ou seja, por serem mulheres.

Muitas vezes, essa barbárie ocorre dentro de casa, cometido por parceiros ou ex-parceiros, e é precedido por um histórico de violência psicológica, física ou sexual. Encarar esse fenômeno começa por reconhecê-lo como parte de um sistema de opressão que normaliza o controle, o silenciamento e a subjugação feminina. A raiz do ‘Feminicídio’ está na cultura patriarcal que ensina que o corpo da mulher é propriedade, que o ciúme é prova de amor, e que a submissão é virtude. Bater de frente com o ‘Feminicídio’ é confrontar essas ideias desde cedo nas escolas, nas famílias e nas mídias.

É ensinar meninos a respeitarem as meninas a se protegerem, mas também a se ‘empoderarem.’ Para quem não sabe o que é ‘empoderar’ ou nunca ouvir falar, essa palavrinha não foi feita para se comer com pão e manteiga, ou ser devorada no almoço. ‘Empoderar,’ significa, em geral, segundo a feminista americana Diana Russel, ‘aquela ação coletiva desenvolvida pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados ou de decisões, de consciência social dos direitos sociais.’’ Resumindo, a impunidade alimenta o ciclo da violência.

Levar a sério o ‘Feminicídio’ no dizer de Ana Kiffer ‘é cobrar do Estado políticas públicas eficazes: delegacias especializadas, que realmente funcionem, criar medidas protetivas que deem resultados, acolhimentos dignos às vítimas e penas rigorosas para os agressores.’’ É garantir leciona Marguerite Duras ‘que a nossa justiça não seja falha, capenga, inoperante, cega, como até agora, ou seja, que vá além de promessa, e encare sem medos essa realidade que deveria, antes de qualquer coisa, ser levada com respeito’’.

Muitas mulheres Brasil à fora, vivem em silêncio por medo, vergonha ou falta de apoio. Acabar com o ‘Feminicídio’ é criar redes de solidariedade, ouvir sem julgar, oferecer ajuda concreta e não distribuir paninhos quentes. É entender que cada denúncia pode salvar uma vida e ter consciência que o silêncio, seja a começar pela delegacia da mulher, seja do delegado, do promotor e do juiz, caso alguém nessa corrente ‘falhe’ pode custar uma morte que poderia ser evitada’’.

Olhar com olhos de alerta o ‘Feminicídio’ é também imaginar um futuro onde mulheres possam viver sem medo. Onde o amor não machuca, nem ‘ferimenteia’*, onde o respeito é regra, e onde a liberdade feminina não seja vista como ameaça. É um trabalho coletivo, diário e urgente. Quando as nossas leis deixarem de ser de brincadeira, para ingleses verem, grosso modo, levadas com pulso e mãos fortes, os números estratosféricos que estamos cansados de ver nos jornais e nas televisões, certamente um marido agressor, um namorado, pensará duas vezes antes de se dignar a partir para o ‘tudo ou nada.’’

Os cidadãos brasileiros precisam aprender que o ‘Feminicídio’ é uma ferida sem cura, tipo uma chaga aberta, um câncer destruindo a sociedade brasileira. Mais do que estatísticas alarmantes, ele representa vidas interrompidas por uma violência que tem nome, rosto e causa: o ‘machismo estrutural.’ Dar porradas no ‘Feminicídio’ não é tarefa exclusiva das autoridades é responsabilidade de todos nós. Percebam: cada mulher assassinada por um parceiro, ex-companheira ou alguém que se sentia no direito de controlar a vida, da sua consorte, se deixarmos ao acaso, seremos confrontadas com a falência de um sistema que deveria protegê-las.’’

A cultura patriarcal, que romantiza o ciúme e normaliza o controle, é o terreno fértil onde essa violência germina, cria asas e se propaga. Se faz mister romper com esse ciclo. Isso começa (e aqui repetindo o já dito acima) com a educação, não apenas nas escolas, mas em casa, nas redes sociais, na mídia. Meninos devem aprender que respeito não é opcional, e meninas devem crescer sabendo que a sua liberdade não é negociável. Além disso, o Estado precisa se levantar de sua letargia, criar vergonha, deixar de ser covarde e cumprir seu papel. ‘Delegacias da mulher’ devem funcionar com estrutura e sensibilidade.

Medidas protetivas serem mais eficazes e ágeis. E os agressores punidos com rigor. A impenitência é cúmplice do ‘Feminicídio. ’ Em paralelo, há algo ainda mais urgente: ‘escutar.’ Muitas mulheres vivem em silêncio, com medo de denunciar. Criar redes de apoio ‘operantes’ acolher sem julgamento e oferecer ajuda concreta pode ser a diferença entre a vida e a morte. Roberta Borges de Barros em ‘Feminicídio: Uma Análise dos Critérios de Interpretação da Elementar Mulher no ‘Feminicídio’ à Luz do Princípio da Legalidade’’, (Brasília 2018) bate na tecla de que ‘O ‘Feminicídio’ não é um problema das mulheres, é um problema da sociedade. Enquanto não o encararmos com a seriedade que exige, continuaremos a contar corpos em vez de construir pontes’’.

Devemos desconstruir mitos sobre ‘Feminicídio’ e mobilizar a sociedade para prevenção e denúncia. Trago, abaixo, um slogan que poderia ser usado pelas emissoras de televisão, em lugar de programas idiotizados que não levam a nada, a não ser a bestificação em massa de seus telespectadores. ‘Ela não morreu por amor. Veio a óbito por machismo’; ‘Feminicídio tem que parar.’ Pensemos nessas ‘Mensagens-Chave’ que abaixo trouxe à baila:

‘Feminicídio é crime, não tragédia doméstica’.

‘Ciúme não é prova de amor. Controle é violência.’

‘Denunciar salva vidas. Silenciar mata.’

‘Toda mulher merece viver sem medo.’

Por conta, também alinho, abaixo algumas ações que entendo deveriam estar acima de qualquer chuva de atoleimados e grosseiros, imbecilizados e acaipirados, e, nesse tom, levadas dia após dia ao ar pelas redes famosas de televisão. Se faz mister campanhas nas redes sociais com depoimentos reais, vídeos curtos e artes visuais com dados e frases de impacto. Parcerias com escolas e universidades para rodas de conversa e oficinas sobre violência de gênero. Distribuição de cartazes e panfletos em locais públicos com orientações sobre como denunciar e onde buscar ajuda.

Criação de uma ‘hashtag’ (tão em moda) mas que fosse mobilizadora, como #FeminicídioNuncaMais, para engajar a população. A enorme massa humana, como um todo, vive perdida, deixada de lado, às sanhas do ‘Deus dará.’ De contrapeso, a nossa justiça sobrevive de venda nos olhos e também de uma toalha suja e fedorenta na alma. Sugeriria, por derradeiro, criar frases de impacto, do tipo: ‘Se ela tivesse sido ouvida, estaria viva.’’

‘O machismo mata. A omissão também.’

‘Não é sobre ela. É sobre todos nós.’

Mesma curva do caminho longo, campanhas nas redes sociais têm um alcance poderoso e podem gerar impacto real. Nas redes sociais existem propostas completas e inéditas para quem deseja se conscientizar sobre o ‘Feminicídio’. No mais, caras amigas e leitoras da ‘Grande Família Cão que Fuma.’’ Corram, voem, desembestem, de companheiros abusivos.’’ FIQUEM BEM, SOBRETUDO, SE MANTENHAM VIVAS.

*Ferimenteia: variante de ferimentar, ou seja, o mesmo que arranhar, escoriar, lanhar e melindrar.  ‘Poemas’ de Catulo da Paixão Cearense.

Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha no Espírito Santo, ES, 14-9-2025

Anteriores: 
Como pequenas farpas de uma alma em silêncio 
O peso e a leveza de braços dados com a fogueira do ‘Mal-entendido.’ Duas historinhas embutidas numa só 
Viagem sem volta 
Brejo de Jacó 
Diferenças distintas entre o ‘estar só e ‘sozinha’

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-