João Maurício Brás
(…)
No século XX, a filósofa Ayn
Rand é a expressão máxima dessa visão egoísta e cínica travestida de grande
expoente da liberdade. Segundo a sua filosofia liberal libertária que batizou
como objetivismo, ninguém teria o direito de esperar ou exigir que façamos
qualquer sacrifício por causa de alguém que não seja o próprio.
Os seres humanos
encontrar-se-iam sozinhos no universo e deveriam se libertar de qualquer raiz
ou vínculo, ou seja, aquilo que designam como estruturas de poder e formas de
controle político e religiosos, sendo apenas orientados pela sua liberdade
individual egoísta absoluta e com a ajuda de tecnologia.
A personificação do homem
modelo do liberalismo randiano encontra-se na caracterização do seu herói John
Galt do livro A Revolta do Atlas. O seu lema fundamental é explícito:
“Eu juro pela minha vida e pelo amor que tenho a ela que nunca irei viver em
função de outro homem, nem vou pedir a outro homem que viva em função de mim.”
A tese de que somos donos do
nosso corpo e que este é nossa propriedade exclusiva e temos o direito de o
utilizar como queremos, que toda a interferência sobre o que somos, fazemos e
vivemos é uma coação negativa é uma das consequências da filosofia da liberdade
individual irrestrita.
Somos donos de muita pouca coisa, seja numa perspectiva negativa ou positiva, herdamos uma cultura, valores, um contexto social, histórico, cultural, tecnológico, temos uma dívida para com os nossos antepassados, os nossos pais, as grandes referências, mas também uma obrigação fundamental para com o futuro e os vindouros.
Ora, a visão libertária
dominante alterou essas evidências e definiu, por exemplo, que o conceito de
limite é inaceitável. A nossa vida e as nossas escolhas não devem ser limitadas
de qualquer modo, a não ser pelo princípio do dano, que nunca é, de facto,
respeitado. Assim, tudo será possível e, quando tudo é possível, uma nova
realidade surge.
Em termos concretos: homens com vagina, vários homens com dois ou
três pênis, mulheres com pênis, famílias com vários homens e mulheres,
casamentos entre adultos que podem ser avós e netos, conservar esperma de um antepassado
para fecundar as gerações seguintes. Nada terá de conhecer qualquer obstáculo
em nome da liberdade individual. O Estado, a sociedade, a cultura, os valores
não têm de intervir na esfera individual, mesmo que alguém se queira destruir
ou mutilar.
Para esta visão monadológica,
delirante e solipsista, só há uma regra de liberdade, “sou o que quero”, “faço
o que quero”, “vivo como quero”, “ninguém tem nada a ver com isso”, “desde que
não cause dano ao outro”.
Ora, se vivemos com o Outro, este pressuposto é totalmente absurdo. Ninguém tem a obrigação de olhar para a pobreza, a miséria ou a dor do outro e até agir, a não ser que o queira fazer voluntariamente. Devemos, contudo, questionar se é este tipo de vida e valores que melhor garantem a concepção de bem que podemos viver.
(…)
Texto: João Maurício Brás, in “O Laboratório Progressista e a Tirania dos Imbecis”, páginas 268 e 269; Título e Digitação: JP, 18-9-2025
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