Aparecido Raimundo de Souza
No mesmo saco de
pancadas também… enumerarei observações sobre as línguas que podem acariciar
com palavras, que constroem pontes, prédios e casas, que podem salvar corações
amargurados e à beira de ataques de nervos com um “simples me perdoa ou um
humilde me desculpa”. As línguas são como facas e flores, agulhas e dedos calos
e sapatos apertados. Depende, obviamente, de quem as usam. E de como delas
fazem uso diário. Pois bem! A língua é um órgão musculoso, repetindo o que
aprendi nos livros de biologia. Entretanto, quem vive sabe: elas são muito mais
que isso. Viraram máquinas de destruição em massa. Não precisam de armas de
fogo, de licenças, não carecem de nenhum tipo de permissão ou porte para saírem
por esse mundão de Deus à fora. Bastam abrirem as suas bocas. Temos línguas que
não cabem nos famosos “comedores de lavagens”. Vivem grudadas feito carrapatos,
às vezes escorregando pelos cantos, tropeçando em nomes que não lhe pertencem.
São línguas que se acham GPS das vidas alheias, que sabem onde todo mundo
errou, menos onde elas mesmas se perderam e esqueceram onde viram pela última
vez as dentaduras que tapavam os buracos faltosos de um precioso punhado de
dentes.
Transitam à solta pelas ruas e praças, indo e vindo por todos os lados essas línguas sujas. Não conspurcadas por comidas — isso seria fácil de limpar. São línguas imundas, nojentas, tanto de intenções, como de julgamentos, de invejas mal disfarçadas em emitirem as opiniões as mais diabólicas. São aquelas que começam com “não é por nada não, mas…” e terminam com as reputações rés ao chão. No mesmo saco de gatos, podemos nos deparar com línguas ferinas. Línguas que não conversam, atacam. Que não discutem, decretam. Que não perguntam, acusam. São línguas que não usam freios, mas ao oposto, são equipadas com miras telescópicas. Geralmente essas espécies acertam onde dói mais. Também, senhoras e senhores, podemos nos defrontar com as línguas enciclopédias: O que venha a ser isso? Simples! Línguas rotuladas de enciclopédias são como aquelas meninas rebeldes tipo essas adolescentes que sabem de tudo, falam línguas estranhas, opinam sobre coisas que ninguém nunca ouvir nem nos auspiciosos e educativos BBBs da Rede Globo lixo. As belezocas explanam sobre políticas, medicina, astrologia, fofocas de artistas de televisão, vida íntima dos vizinhos, dieta das “influencers” (tão em moda), discorrem das crises no Oriente Médio.
Fazem isso tudo com a
mesma profundidade de pires sujos com borras de café requentados. E sem açúcar,
para disfarçarem as grandiosidades das mediocridades galopantes. E sabem qual é
o segredo mais curioso em toda essa babel dos tempos modernos? As línguas não
têm ossos, mas quebram muitas coisas. Por exemplo? Mandam para as cucuias, os
laços de amizades, as confianças, as famílias e se duvidarem os melhores
amigos. Às vezes, espatifam até os
abestalhados que as usam — mas isso elas só percebem quando é demasiadamente
tarde. No fim, as línguas são só meros reflexos do que mora dentro. Pelas
nossas cidades, tem gente que deveria fazer faxina interna diária antes de
cagar —, perdão, antes de abrirem suas bocas. Faxinar línguas metida a saberem
tudo é tarefa de paciência, coragem e, principalmente silêncio. Aqui vão
alinhadas algumas dicas fáceis e rápidas, para quem quiser se livrar de uma vez
por todas desse incômodo negativamente degenerativo. Se faz mister desinstalar
o GPS da vida alheia.
O primeiro degrau da
escada enorme é tirar da língua o modo “rastreador de erros alheios”. Ela não
precisa saber onde o fulano foi, com quem, por quê, nem o que postou. Se não
foi convidada, não é da sua alçada. Sugiro lavar a dita com carinho, mas, por favor,
façam isso com sabão neutro. Sabão neutro, porque a língua metida adora
temperar tudo com julgamento. Sabão neutro, por conseguinte, ajuda a combater o
ranço. Lembre também: sabão não tira veneno, mas, por certo, ajuda a escorregar
menos. Enxágue com silêncio: O silêncio
é o melhor ato posterior à limpeza primária. A língua que fala demais tem
urgência de aprender a ouvir. E não ouvir para responder — ouvir para entender,
para discernir e ver além das aparências. É difícil, é trabalhoso, mas no fim
das contas, funciona. É de bom tamanho usar “enxaguante” de humildade. Cai bem:
A língua metida a sabichona, precisa de umas boas doses de “eu não sei”. É
refrescante, limpa, desinfeta a arrogância e ainda destempera o ridículo
abrindo espaço para aprender. Porque saber tudo é o primeiro sinal de que não
se sabe porcaria nenhuma.
Em seguida sugiro
passar um pano… somente no todo dela. Nada de justificar fofoca como
“preocupação”. Se a língua tomou um tombo, por conta de ter patinado, assuma.
Use uma flanela com pedido de desculpa, e tente não repetir. Faxina boa é
aquela que evita sujeira nova. Seque depois a umidade com uma boa dose de
empatia. Antes de falar, pense. Isso ajuda muito ou só machuca? Resposta: a
língua limpa não é a que se cala sempre, mas a que escolhe bem o que vai dizer.
E como esse dizer se manifesta? Guarde a língua em local seguro, ou dito de
forma mais abrangente. Depois de limpa, mantenha a longe de conversas inúteis,
como grupos de WhatsApp, TikTok, Facebook, Instagram, Telegram, enfim,
distanciada o mais que puder desses canais “podridosos”, onde só rolam papos
veneníferos e debates alucinógenos, onde, aliás, pessoas cultas e inteligentes
sequer ousam perder tempo. Nunca se esqueça: língua sanitizada não se mistura
com lama.
Faxinar a língua é
mais difícil que limpar a casa depois de festa de crianças peraltas, bem
sabemos. Mas vale a pena. Porque uma língua bem cuidada, não destrói —
constrói. E isso, hoje em dia, é quase um ato revolucionário, pior que o
mentiroso e deslavado ataque de oito de janeiro, em Brasília, onde línguas
travestidas de “donas do poder” ou donas de um direito de merda, vomitaram para
ingleses verem uma série de vandalismos, invasões, depredações do patrimônio
público, tudo, misturado a falcatruas engendradas e cometidas por línguas
metidas a deusas fajutas e pior, a línguas representantes da boa ordem. As
senhoras e os senhores, tenho certeza, estão babando querendo perguntar: Existe
língua ruim? Sim. E ela é a mais comum do que se imagina. A língua ruim não é
aquela que erra uma conjugação ou tropeça num sotaque. Língua ruim é aquela que
fala sem pensar, sem freio, sem filtro — e o mais danoso e nocivo: sem
propósito. A língua ruim é ainda aquela vadia que se acha protagonista do
mundo, mesmo quando ninguém pediu a sua opinião.
Ela entra em cena sem
roteiro, improvisa julgamentos, distribui falcatruas absolutas como se fossem
balas de mel disfarçadas de pimenta em birosca de bêbados inveterados. Só que
desse estabelecimento, ninguém sai feliz. Língua ruim é aquela porra louca que
deve ficar quieta. Não por censura, mas por higiene mental. Se as senhoras e os
senhores pararem para pensar por um segundo que seja, descobrirão que existem
línguas que contaminam o ambiente. Só de se escutar dá para se sentir no ar o
fardo pesado, se percebe ainda claramente a energia drenada, e, de contrapeso,
a paciência sonolenta evaporando como fumaça limpa em nevoeiro mefistofélico. A
língua, não se aquieta. Não tem modos.
Parece puta de zona pronta para tomar o cliente da amiga que esperava um
retardatário e esqueceu onde ficava o quarto com a cama barulhenta. Fala
besteira com convicção. Mistura achismo com arrogância, tempera com ignorância
e serve as suas palavras como se fossem picanhas ao molho de baixarias
esdrúxulas vindas da fazenda de Lula. E ainda cobra aplausos.
Essa língua não
precisa de aula de oratória. Necessita, todavia, de curso intensivo de escuta.
De meditação. De trava de segurança. Porque, às vezes, o maior ato de sabedoria
é manter a língua dentro da boca. Quietinha. Sem fazer estrago. E prestem atenção,
senhoras e senhores, percebam que coisa imaginosa: quanto mais a gente sabe,
menos a língua precisa se exibir. O silêncio, quando bem usado, é sinal de
inteligência. A língua ruim… é só barulho, balbúrdia, confusão. Vamos partir
agora para falarmos de duas outras línguas que parecem opostas, mas às vezes
são só duas faces da mesma encrenca: A primeira delas, é a Língua passiva. A
língua passiva é aquela que finge não estar dizendo nada, mas está dizendo
tudo. Ela não xinga, não acusa, não grita. Ela insinua. É a língua do
“engraçado, né?”, do “você que sabe”, do “imagina, não foi nada… só achei
curioso”. Em outras palavras, é a língua usada pela nossa “soberana justiça
cega dos três olhos”. Ela não entra em conflito direto. Prefere o veneno em
gotas, servido com sorrisos perversos. É a língua que elogia seu ego com um
“você ficou ótimo… pra quem gosta desse estilo”. Que apoia seu lado fraco com
um “se você está feliz, é o que importa… mesmo que não seja o ideal”.
A língua passiva é
mestra (repetindo o já dito acima, feminino de mestre) em deixar a dúvida no
ar. Você sai da conversa achando que foi tudo bem, mas cinco minutos depois
está se perguntando se foi ofendido. Spoiler*. Por certo, se olhar direito, foi
mesmo. Em seguida temos a Língua agressiva.
A agressiva não tem tempo para sutilezas. Ela chega chutando o pau da
barraca, derrubando a porta, atropelando argumentos, e se possível, a
autoestima também. É a língua do “isso é ridículo”, “você não entende nada”,
“só um idiota pensaria assim”. Lado igual, ela não conversa — ela domina. Não
escuta — espera a sua pausa para atacar.
É a língua que transforma qualquer reunião em ringue, qualquer almoço em debate
político e qualquer comentário em provocação. A língua agressiva se alimenta de
razão absoluta. E se você discordar, se prepare: ela vai explicar, corrigir,
lhe humilhar — lhe dar uma canetada, tudo em nome da “verdade”. Verdade? Que
verdade? Isso não importa. Curiosamente, senhoras e senhores, ambas têm o mesmo
problema: não querem comunicar, querem controlar.
A passiva manipula, a
agressiva intimida. A passiva leva você para a porta escancarada. A agressiva
lhe dá um boa noite cinderela e chaveia a porta. Nenhuma constrói. Em oposto, a
boa língua — aquela que vale a pena — é a que sabe quando falar, como falar, e
principalmente, quando fechar a boca e se calar. Existe também as não menos
famosas línguas “Maria vai com as outras”, as Línguas fofoqueiras, e ainda, as
Línguas mudas, que só dão “linguadas”, não falam nada e se mantém no anonimato.
Essas modalidades são figuras conhecidas nos zoológicos das línguas animalescas
e humanas. Vamos destrinchar essas espécies com o tom irônico e com aquele
“quê” tipo um toque de verdade que arde mais que pimenta no cu dos outros.
Comecemos com a Língua “Maria Vai com as Outras”. Essa não tem opinião própria.
Vive de eco. Se alguém diz “fulano é estranho”, ela repete. Se o grupo decide
que algo é feio, ela concorda. Não por convicção sempre por conveniência. É a
língua primeira dama que se adapta ao ambiente como camaleão: muda de tom, de
ideia, de moral, tudo para não destoar.
No fundo, ela não fala
— ela copia. E o mais estrambótico, às vezes manda uma canja e espalha o que
nem entendeu, só para parecer incluída. É a língua que não pensa, só acompanha.
E isso, convenhamos, para nós pobres e rústicos seres humanos, é por demais
perigoso. Temos também as Línguas Fofoqueiras. Uau!, essas senhoras dispensam
apresentações. São as línguas que vivem em modo “transmissão ao vivo”. Elas não
dormem sem repassarem o que ouviram, ainda que os trololós tenham sido em
segredo, em sussurro, ou vindos de outras dimensões. As línguas fofoqueiras têm
sede de novidades — e se não tem, elas inventam. As sapecas não se preocupam com contextos,
com verdades, com consequências. O importante é ter assuntos. E se alguns
“moscas mortas” embrenhados na multidão, esses conhecidos e alcunhados como
“bocas abertas”, “manés”, ou “imbecis”, acharem que estão fora do radar delas…
é porque ainda não deu audiência. As Línguas mudas (ou as que são ágeis em
linguadas), creiam, essas são traiçoeiras. Não falam, mas se expressam. Elas
não dizem “não gosto de você” — elas reviram os olhos, fecham as caras,
suspiram alto. As desgranhentas não criticam com palavras. Elas fazem caras e
bocas, bocas e caras, gestos e silêncios que berram.
São as línguas do
passivo-agressivo visual. Ficam sempre no anonimato, mas deixam marcas. E
quando confrontadas, se defendem com os clássicos: “Eu não disse nada.” Não
disse, mas comunicou tudo. Essas línguas, senhoras e senhores, não precisam de
palco. Por trás dos bastidores, atuam. Às vezes, são mais perigosas que as que
gritam, que uivam, que miam ou latem. Cacarejam e assopram. Porque para elas, o
silêncio, o boato e a concordância automática têm um poder corrosivo que muita
gente subestima. A língua fofoqueira tem habilidades de ministros do STF, ou
seja, uma das habilidades mais raras e pecaminosas: se ofendem fácil, mas nunca
se assumem. As senhoras e os senhores podem até escrever “isso é só humor”, “é
só uma reflexão”, “não é sobre ninguém específico” — mas fiquem atentos, as
línguas fofoqueiras vão ler e pensar: “eles estão falando de mim”. E aí,
pronto: começa a girar o ventilador para espalhar a farofa. Mas querem saber?
Vejam a coisa pelo lado bom. Talvez valha a pena. Porque tem coisa que precisa
ser dita.
E se as línguas
fofoqueiras se incomodam, se fizerem caras feias, se mostrarem magoadas, é
porque se reconheceram. E se reconheceram… já é meio caminho para a faxina.
Entendam, desde agora, que existem línguas que não falam nada — latem. Algumas
dependendo da ocasião, uivam. Estou propenso a escrever futuramente um pequeno
“Manual de sobrevivência para lidar com línguas que sabem tudo, falam demais e
pensam de menos. Conselho: Quando sair, leiam, por favor, mas façam isso por
conta e risco. O que estou dizendo aqui e quero deixar bastante claro e
objetivo, é que as pessoas podem doer onde as línguas moram. Se as línguas
fossem armas prontas para serem usadas, muita gente estaria presa. Fofoca,
julgamento, “linguadas” silenciosas… vai estar tudo no manual. E não será mera
ficção. Para terminar, senhoras e senhores, notadamente meus leitores e
leitoras da “Grande Família Cão que Fuma”, devo esclarecer que o texto do
manual que citei acima, pretendo produzir contendo GPS. O que isso quer dizer?
Simples, a resposta. Rastrearei as línguas fofoqueiras, as passivas-agressivas
e metidas a sabichonas. Se as minhas prezadas amigas ou meus ilustres e
simpáticos amigos leitores se sentirem atingidos… cá entre nós, acredito
piamente, talvez seja chegada a hora, o momento certo, o derradeiro, sobretudo
o oportuno instante mágico de meter o pé no freio. Parar tudo, dar um tempo,
meter um basta e promover uma profunda e bem dosada FAXINA.
* A palavra
"spoiler" em português pode ser traduzida como
"desmancha-prazeres", "estragador" ou
"revelação", referindo-se a informações que desvendam partes
importantes de uma história e podem arruinar a experiência de quem não as
conhece. Embora a tradução direta seja "estragar", o termo
"spoiler" é amplamente usado no português brasileiro e europeu sem
tradução, especialmente em mídias como filmes e séries, como "alerta de
spoiler”. (Pesquisa realizada na internet)
Título e Texto:
Aparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha no Espírito Santo, 28-9-2025
O turista extraviado
Um ser torturado que jamais desistirá
Luvas de pelicas
Terapia caseira para ir além do cotidiano
Algumas palavras sobre “La Liberté guidant le peuple”
Foi assim, inexplicavelmente incrível
Ela seria uma espécie desconhecida de sólido geométrico?
O julgamento do ano ou a divina sacanagem da comédia humana?
[Aparecido rasga o verbo – Extra] Nosso Adeus ao Mestre do Humor: A Morte de Luiz Fernando Veríssimo
Matei todos os heróis que meus filhos poderiam ter tido
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