Aparecido Raimundo de Souza
Senhoras e senhores, preparem seus corações! O julgamento do capitão Gato Borralheiro está prestes a começar, e o mundo animal inteiro está em suspense. O grandioso circo no Palácio do Pardieiro está armado, os holofotes acesos, e as testemunhas de acusação posicionadas em seus lugares: o presidente do STF, (Superior Tribunal da Floresta) o ministro Rato Traiçoeiro, está sentado em sua cadeira vestido com uma toga feita especialmente para o ato.
Aparenta um nervosismo ensaiado e toda hora passa a mão em sua cabeça para ver se a careca está lustrosa para na hora que as câmeras dos canais de televisão estiverem filmando, ele se sentir o maioral. A poucos instantes chegou roendo as unhas tamanho seu desassossego. Ao lado dele, a ministra coruja Jumenta com a cara de uma Aye-Aye desamparada e os três outros ministros que comporão a divina comédia parecem cansados de tanto vasculharem o processo para ver se encontram uma nova brecha para mandar, de vez, para os quintos, o ex presidente, o capitão Gato Borralheiro.
No salão requintado,
Tartarugas escolhidas a dedos, servirão café, água fresquinha, champanhe,
whisky importado diretamente das terras de Trump com batatas fritas em banha de
porco de duas pernas, salgadinhos das cozinhas de Nicolás Maduro e mandiocas e salsichas
fresquinhas vindas das fazendas do ministro Lagarto Terrível. Cobrindo o
evento, uma plêiade de cachorros pitbulls, cada um crachado de coleiras com
sensores e câmeras enterradas em seus respectivos rabos, transmitirão ao vivo e
a cores, tudo em tempo real.
As Acusações?
Dizem que o capitão
Gato Borralheiro usou magia felina para conquistar as urnas nas eleições
passadas, a saber, o Reino, enganando o príncipe King Kong e o não menos
brilhante e finório “chavequeiro” Toupeira-Nariz-De-Estrela com a sua elegância
ímpar e seus sapatos de cristal.
Defesa?
Alegam, todos os advogados a uma só voz, que tudo foi oriundo de muito esforço, coragem e um toque especial de poeira retirada da lareira da saudosa Maria da Glória Nazareth conhecida mundialmente como a “Mãe Menininha do Gantois.” Dizem os causídicos que não há crime em sonhar alto e se vestir bem ou pior, atrapalhar de modo “fraudulento” as urnas que à época foram colocadas em várias partes da extensa floresta para que a bicharada em massa exercesse seus direitos de cidadãos.
Como foi dito acima, a
pergunta continua sendo uma só: será que ele o suposto vilão de toda essa
putaria sem precedentes será inocentado e coroado como símbolo da superação
felina? Ou, em contrário, se verá
condenado a varrer as cinzas do seu ministério por mais sete vidas? Não vamos
falar dos demais juízes que farão parte da grande encenação, ou do majestoso e
fantasioso arrebique. Seria desnecessário. São todos picaretas de mão cheia.
Farinha do mesmo saco escrotal. Pois bem. Entre beliscões e beliscadas, será
que o temível ministro Rato Traiçoeiro tem ideias de “aliviar” ainda que para
ingleses verem a barra de Borralheiro?
Silêncio no tribunal!
A infame Comédia
Animal está prestes a entrar em cena, e os juízes já tomaram seus lugares no
alto poleiro da justiça. Vamos conhecer seu presidente aliás, um ilustre que
dará a palavra final, decidindo de uma vez por todas o destino do capitão Gato
Borralheiro:
Juiz Rato Traiçoeiro:
O Guardião da Verdade
O temível juiz Rato
Traiçoeiro é conhecido por sua visão penetrante e por enxergar além das
aparências. Dizem que ele absolveu o Lobo Mau por falta de provas, levou a
Chapeuzinho Vermelho para um motel de terceira, e condenou o Porquinho
Engenheiro por negligência estrutural. Na mesma canetada, a Cinderela, que
perdeu seu sapatinho e ninguém soube se ele realmente existiu ou se foi intriga
da oposição da madrasta malvada, a Lady Tremaine.
No caso do capitão
Gato Borralheiro, ele está dividido: por um lado, admira a astúcia felina da
criatura; por outro, desconfia dos seus fãs encantados que certamente farão um
escarcéu dos diabos. Mas há rumores nos bastidores... que o ministro Rato Traiçoeiro
andou lendo os diários de Borralheiro, notadamente os “secretos,” e se comoveu
com alguns pormenores, tipo a sua infância difícil, a sua luta contra os
preconceitos felinos e sua paixão incandescente por justiça poética. Descobriu,
inclusive, que ele o Borralheiro, alimentava a ideia de pular o muro de sua
casa e se esconder debaixo da cama de uma vizinha.
Mas a indagação
persiste. Será que ele vai ou não aliviar a barra do pobre infeliz?
O réu Gato Borralheiro
está usando tornozeleira eletrônica e será o único a ser penalizado. Os demais
são figurinhas fora do baralho. A ministra juíza Jumenta da Cara desamparada,
repetindo, uma Aye-Aye está doida de pedra para botar o que ela considera seu
inimigo número um na jaula onde os leões da floresta disfarçados de deputados e
senadores querem vê-lo se ferrando de verde amarelo.
O Clima está bastante
tenso no picadeiro da justiça animal! O capitão Gato Borralheiro, outrora
símbolo de elegância e esperteza, agora desfila com tornozeleira eletrônica
reluzente — não como acessório de moda, mas como marca de sua condição
judicial. É o primeiro réu felino da história a ser penalizado antes mesmo do
veredito final. E isso, claro, está causando um verdadeiro rebuliço em todos os
cantos e recantos da floresta.
A juíza e ministra
Coruja Jumenta, conhecida por sua rigidez e por ter condenado até um Camaleão
morador de rua por excesso de disfarce, e pior, pelo infeliz ter cagado em seus
sapatos, está com os olhos arregalados e as penas eriçadas. Dizem que ela quer
fazer do capitão Borralheiro um exemplo — não por justiça, mas por vingança
institucional. Os leões da floresta, sempre sedentos por espetáculos
memoráveis, já afiaram as garras e estão prontos para vê-lo “se ferrando como
os já detidos e condenados por terem invadido as dependências do STF (Superior
Tribunal da Floresta) conforme apregoaram a todo vapor os Papagaios
fofoqueiros, as raposas e as onças.
Mas há quem defenda o
capitão Gato Borralheiro: A influenciadora Salamandra Axoloti, argumenta que o
uso da tornozeleira é precipitado e fere o princípio da presunção de inocência.
As rãs do Titicara juram que o capitão Borralheiro só queria costurar um futuro
melhor, não manipular o reino. Os Beija-flores poetas, escreveram um soneto em
sua defesa, dizendo que “nem toda poeira é sujeira — às vezes é brilho
camuflado”.
Os filhos do capitão
Gato Borralheiro que estão prestes a se enforcarem, querem tira-lo da floresta
e manda-lo para outra floresta tropical, mas o juiz e ministro Rato Traiçoeiro
e os demais juízes da panelinha não querem.
Capítulo explosivo da
Grande Comédia Animal: “Exílio ou Enforcamento? ”
O capitão Gato
Borralheiro está no limite. Com a tornozeleira piscando como luz de ambulância
e os bigodes em frangalhos, ele contempla a corda da desesperança — enquanto
seus filhotes, os Gatinhos Borralheirinhos fazem campanha desesperada para
tirá-lo de uma vez para sempre, da floresta.
Querem mandá-lo para
uma floresta tropical mais tranquila, onde os juízes são tucanos zen e os
processos são resolvidos com meditação e chá de hibisco.
Entretanto, eis o
problema: O ministro Rato Traiçoeiro e a sua enorme panelinha judicial —
formada por magistrados que se reúnem todas as noites no galho mais alto para
tomar chá de sarcasmo e jogar cartas marcadas — não querem nem ouvir falar de
exílio. Dizem que “quem suja a lareira, limpa com a língua” e que o capitão
Gato Borralheiro deve pagar aqui, diante dos leões, hienas e da plateia que
comprou pipoca e refrigerante na porta do STF.
Bastidores da
Panelinha Judicial:
Juíza e ministra
coruja: “Mandar ele pra outra floresta? Só se for dentro de uma caixa...
lacrada... e sem ar.”
Juiz e ministro
Lagarto Terrível: “Exílio é pra quem tem pedigree. Esse aí tem só poeira e
pose.”
Juiz e ministro
Perereca: “Se ele for embora, quem vai protagonizar a próxima temporada do
nosso reality jurídico?”
Juiz e ministro Bunda
de Traseiro Seco: “Se ele escapar dessa, quem vai nos divertir nessas reuniões
chatas?”
Enquanto isso, os
filhotes do Gato fazem protesto com cartazes: “Pai não é bandido, é só mal
compreendido!” “Exílio já! Antes que ele vire memes eternos!”
E o Beija-flor Poeta,
sempre ele, escreve em pétalas: “Se a floresta não perdoa, que ao menos permita
o voo.”
A bicharada segue em
polvorosa. Toda a floresta está em frente ao puleiro da justiça para gritar
palavras de ordem. Existe uma estátua do Leão Rei que um anarquista pintou com
batom vermelho. A estátua tentou fugir, mas na hora veio um engraçadinho fantasiado
de Luciano Huck e lhe roubou a espada. Marcos Mion disfarçado de Ana Maria
Braga tentou entrar na sala de audiência, mas foi impedido por um bando de
galinhas correndo em seu encalço tendo à frente uma faixa: “aqui a Globo não
entra!”
Entre tapas e beijos,
em paralelo, começa um caos na floresta, espetáculo na justiça! A bicharada
está ligada numa tomada 220. Pulam, dançam cantam, em polvorosa, e o picadeiro
lá dentro, virou palanque. O julgamento do capitão Gato Borralheiro se transformou
numa zona aliás, virou revolução.
A Revolta da Fauna
Desde cedo, os animais
começaram a se juntar em frente ao poleiro da justiça. Cartazes improvisados
com folhas de bananeira, megafones feitos de cascas de coco, e palavras de
ordem ecoando pelos galhos: “Justiça não é só pra quem ruge!” “Borralheiro não é
vilão, é vítima da opressão!”
Um Orangotango acabou
de aparecer do nada e ao invés de escutar o povo, se limitou a berrar: “Dercy
Gonçalves está viva.”
A estátua do Leão Rei,
símbolo da autoridade selvagem, foi alvo de um ato ainda mais ousado: um
anarquista Tatu com cara de Roberto Carlos cantando “tira a máscara meu
bem...”, conhecido como “Subversivo Subsolo,” escalou a base e pintou os lábios
do Leão com batom vermelho. Um gesto de escárnio, um grito contra o
autoritarismo felino.
As galinhas, sempre
nervosas e desorganizadas, tentaram capturá-lo. Correram em seu encalço
cacarejando ordens, mas o tatu fugiu por um túnel secreto que liga o poleiro da
justiça ao antigo galinheiro abandonado — agora sede do movimento “Fauna
Livre”.
E o Gato?
Gato? Que gato? Ah, o
capitão Gato Borralheiro, vendo tudo da sua cadeira ladeada pelos seus
defensores, entre grades de cipó e olhares de corujas, começa a rir. Não de
deboche, mas de esperança. Pela primeira vez, sente que não está sozinho. Seus
filhotes miam em coro, e até o ministro Rato Traiçoeiro parece hesitar diante
da multidão.
Nesse tom incerto, se o ministro Rato Traiçoeiro os pegar, alegando o incrível e falso Estado democrático de direito de todos os bichos, muitos animais irão parar na Goeluda. Final da história. Gato foi condenado. De repente, a revolta virou insurreição. A bicharada, cansada de julgamentos farsescos e tornozeleiras felinas, decidiu tomar o poder. O plano foi arquitetado por um comitê clandestino formado por: Elefante estrategista (codinome: Tromba Invisível), ao tempo em que um Guaxinim hacker (invadiu o sistema da Justiça com um graveto e um coco).
Uma representante das
Formigas sindicalistas pretende organizar 120 mil marchas simultâneas em galhos
diferentes. Os Papagaios propagandistas dispararam Fake News e memes
revolucionários pelos bicos com os dizeres: “ Que porra é essa?!”
O Golpe.
Golpe? Isso mesmo, a
Operação “Banana Constitucional” A bicharada invadiu o Poleiro da Justiça com
elefantes, girafas, unicórnios todos com tambores de marimbondos e bandeiras
feitas de peles de cobras (descartadas, claro). O ministro Rato Traiçoeiro, ao
ver a multidão, tentou conter o caos com seu discurso clássico: “Estamos num
Estado Democrático de Direito Animal! Todos têm voz, até os insetos com seus ex
esqueletos! ”
Mas ninguém ouviu. O
microfone foi sabotado por um esquilo DJ que remixou o discurso com batidas de
funk da selva.
A Goeluda: Prisão de
Elite
A ministra Coruja,
furiosa, começou a emitir mandados de prisão em série. Os animais mais
engajados foram enviados para a Goeluda, a prisão mais temida da floresta — uma
caverna úmida onde os guardas são troncudos jacarés com diploma em repressão e
curso técnico em sarcasmo.
Entre os presos:
As Tartarugas
protestavam em câmera lenta. Os Sapos que cantavam “Liberdade, liberdade, abre
as asas sobre mim” em loop foram ovacionados. Os Esquilos que jogavam amendoins
com respingos de merdas fedorentas nos juízes ministros saírem de cena e se
esconderam debaixo de um pé de jaca. Mas calma ai: E o capitão Gato Borralheiro?
No meio do golpe,
O capitão Gato
Borralheiro fugiu! Disfarçado de gambá, com perfume de maracujá vencido,
escapou pela tubulação do poleiro e foi visto embarcando num barco feito de
casca de jaca rumo à Floresta Amazônica, onde pretende fundar, segundo seu
assessor para assuntos estratégicos, o PFE. Em outras palavras, o Partido
Felino da Esperança. Justo! Toda revolução precisa de uma pausa para respirar —
nem a bicharada aguenta tanta emoção sem um bom cochilo sob a sombra de um ipê.
Por enquanto, toda a floresta escuta um miado de despedida: “Segundo o Rei
Leão, na floresta da comédia, até o silêncio tem som de riso.”
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, 2-9-2025
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