Estado de S. Paulo
Com o malogro da desesperada
tentativa de procrastinar o processo de impeachment usando como mão do gato a
lamentável figura do presidente interino da Câmara dos Deputados, Dilma
Rousseff acabou perdendo o que lhe restava de dignidade antes de perder o
mandato de presidente da República. O Senado Federal deve aprovar hoje a
admissibilidade do impeachment por crime de responsabilidade, decisão que
implicará o afastamento da presidente por até 180 dias ou até a cassação
definitiva de seu mandato, o que a esta altura é dado como coisa certa mesmo –
embora eles não admitam publicamente – pelos partidários de Dilma. E, por se
tratar de um julgamento eminentemente político, o destino de Dilma está desde
já selado também pela manifestação da vontade amplamente majoritária do povo
brasileiro.
A base legal para o processo
que permite o impedimento de Dilma são as “pedaladas” fiscais e os decretos que
liberaram recursos sem autorização prévia do Congresso. Trata-se, como toda
questão legal, de assunto sujeito a controvérsia. A controvérsia, aliás, é o
fundamento do princípio democrático do direito à ampla defesa. Neste caso, quem
tinha competência constitucional para decidir se a discussão do impeachment é
admissível ou não era a Câmara dos Deputados. Uma maioria de mais de dois
terços dos parlamentares decidiu que o processo deveria, sim, ser encaminhado
ao Senado Federal, para confirmar a admissibilidade e, nesse caso, julgar o
mérito do processo, decidindo se Dilma deve ou não ser afastada do cargo. É
claro que essa ampla maioria de deputados refletiu o sentimento também majoritário
dos brasileiros, do mesmo modo que estarão se comportando hoje, e certamente se
comportarão no julgamento final, os senadores da República.
Pesam, na formação da repulsa
que a imensa maioria dos brasileiros manifesta pelo governo lulopetista, a recessão
econômica em que o País foi jogado pela gestão irresponsável da presidente; a
redução do poder aquisitivo da população e o aumento inédito do desemprego; a
Operação Lava Jato revelando até que ponto o governo se comprometeu com a
corrupção, transformada em método político; e as mentiras deslavadas com as
quais Lula, Dilma e a tigrada enganaram a Nação durante anos.
O Senado dará prosseguimento
hoje a um processo eminentemente político que prosperou porque tem lastro
jurídico suficiente, apesar dos protestos de Dilma e seus cada vez mais
escassos seguidores. O fato é que, se o governo estivesse sendo bem-sucedido, Dilma
não teria tido a necessidade de cometer os crimes das “pedaladas” e dos
decretos ilegais com os quais tentou mascarar a falência fiscal do País.
Fosse outro o seu estofo,
diante da inevitabilidade do impeachment, Dilma Rousseff teria a dignidade de
pensar no Brasil em primeiro lugar. Em vez disso, tenta incendiar o País à
custa da inconsequência política e da falta de genuíno sentimento democrático
dos “movimentos sociais” que o PT manipula.
Mesmo sem renunciar a seu
direito de se defender jurídica e politicamente, Dilma não precisaria ter
promovido o vergonhoso espetáculo da apropriação de espaços públicos, como o
Palácio do Planalto, para promover manifestações partidárias e de entidades que
sobrevivem à custa de recursos públicos contra instituições como o Parlamento e
o Judiciário. Dilma poderia ter-se poupado, e ao País que jurou defender, da
ignomínia de ter patrocinado a divulgação internacional de sua visão da crise
brasileira, que implica desmoralizar as instituições nacionais, rebaixando o
Brasil ao nível de uma republiqueta bananeira submetida a um “golpe” urdido
pelas “elites”.
Mas Dilma e o PT – Lula, como
de hábito, quando a coisa aperta permanece atrás da moita – renderam-se ao que
neles há de mais primário, na tentativa de “construir um discurso político” que
lhes garanta a sobrevivência depois do desterro. Mas, principalmente no que
concerne a Dilma, é razoável cogitar de sobrevivência política, tendo ela
jogado no lixo 54 milhões de votos?
É hora de Dilma Rousseff
começar a se preparar para o destino que o Brasil lhe reservou generosamente: o
esquecimento.
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