domingo, 5 de março de 2017

Bento Kangamba não tem juízo

Rui Verde

O general Bento Kangamba quer processar o juiz português Carlos Alexandre. A notícia foi avançada no último dia do mês de fevereiro deste ano de 2017


Ao que parece, o general sobrinho (por casamento) do ainda presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, está zangado porque o juiz Carlos Alexandre não arquiva um processo que contra ele corre em Portugal por branqueamento de capitais e fraude fiscal.

Ora, a realidade é que nem o juiz Carlos Alexandre nem nenhum outro juiz podem arquivar processos. Na fase de inquérito, quem pode fazê-lo é o Ministério Público. Portanto, talvez seja melhor Kangamba processar algum procurador, já que se tornou mais difícil comprá-los…

Mas talvez o general esteja a pensar no juiz vizinho de Carlos Alexandre, de seu nome Ivo Rosa, que se revelado perito em “arquivar” processos contra entidades angolanas. Ainda assim, as decisões deste juiz não são exatamente arquivamento, mas verificação, pela sua parte, de que os tribunais portugueses não têm competência internacional para julgar factos ocorridos em Angola. O general tem certamente bons advogados portugueses que lhe explicam estas minudências.

O engraçado é que o general deve andar esquecido, ou demasiado entretido, porque já em março de 2016, há um ano, portanto, Bento declarou à RTP, televisão pública portuguesa, que ia processar Carlos Alexandre.

Todos os anos pelo Carnaval Bento Kangamba anuncia que vai processar Carlos Alexandre. E depois? Depois, nada. Deve ser a ideia de Carnaval de Bento Kangamba.

Resta saber se também tem a mesma disposição litigante face às autoridades judiciárias no Brasil (Operation Garina) e em França, onde correm ou correram processos-crime contra si. Aliás, era interessante saber o ponto exato em que se encontram os vários processos que correm por esse mundo fora contra Bento Kangamba.

É evidente que a charla de Bento não passa de mais uma manobra de diversão para acossar a justiça portuguesa após a acusação a Manuel Vicente. Mas esta descoberta por parte do governo angolano da grave ofensa de Portugal pelo facto de Manuel Vicente ter sido acusado é uma brincadeira para entreter tolos (aliás, basta ver o tempo que levou até haver reação).

A investigação contra Manuel Vicente e o procurador português Orlando Figueira (os acusados de corromper e ser corrompido) só começou porque “aterraram” no Ministério Público de Portugal documentos comprovativos para além de qualquer dúvida desses atos. E a origem desses documentos foi Luanda. E como a entrega desses documentos não resultou, desta vez, de um trabalho de investigação de Rafael Marques, que dá a cara quando acusa, obviamente que foram altos responsáveis de Luanda quem resolveu “oferecer” às autoridades portuguesas as provas comprometedoras.

Aliás, se não fosse assim, as autoridades portuguesas não teriam agido. Durante muitos anos, corrompidas ou não, a sua atitude foi sempre de conivência e deferência face a Angola. E, atualmente, a política é de não intervenção e neutralidade. Isto quer dizer que as autoridades portuguesas, podendo, arquivam tudo o que diga respeito a Angola. Portanto, estas lágrimas relativas à acusação a Manuel Vicente são lágrimas de crocodilo.

Quanto a Bento Kangamba, temos que aguardar pelo próximo Carnaval para ver se anuncia novamente um processo contra Carlos Alexandre.
Título e Texto: Rui Verde, Maka Angola, 2-3-2017

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