Jonas Valente
O Facebook começou a realizar
um teste envolvendo uma de suas principais ferramentas: a marcação da reação
chamada like (gostar, no termo em inglês) em publicações. A
experiência começou na Austrália e poderá ser estendida a outras nações. Não
há, ainda, previsão de quando poderá ser implantada no Brasil.
O like é um
dos principais recursos de engajamento com uma mensagem difundida na rede
social, permitindo que os usuários demonstrem uma avaliação positiva sobre
determinado conteúdo. Em 2016, a empresa passou a disponibilizar outras reações
por meio de símbolos gráficos, como expressões de amor, tristeza, raiva e
surpresa.
À Agência Brasil,
a assessoria da companhia afirmou que a alteração não será ampla na plataforma
e será avaliada de forma a verificar os impactos que trará nas experiências e
engajamentos dos usuários.
“Estamos fazendo um teste
limitado em que as contagens de curtidas e reações, além do número de
visualizações de vídeos se tornam privados no Facebook e apenas visíveis para o
autor do post. A partir disso, vamos reunir feedbacks para
entender se essa mudança irá melhorar a experiência das pessoas”, declarou a
empresa por meio de nota.
Potenciais prejuízos
Estudos indicaram possíveis
impactos do uso de redes sociais no bem-estar de pessoas, especialmente jovens.
Pesquisa da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, estabeleceu uma
relação entre o uso do Facebook e comportamentos de vício. A lógica de oferta de “recompensas”
por esses sites e aplicativos dificulta a tomada de decisões e
estimula atitudes de retorno contínuo ao uso do sistema, assim como no caso de
outras desordens ou de consumo de substâncias tóxicas.
Já outra investigação
acadêmica realizada por pesquisadores das universidades de Stanford e de Nova
York identificou efeitos positivos em pessoas que deixaram de navegar na rede
social, como aumento de bem-estar e redução da polarização política. De outro lado,
dirigentes da empresa, entre eles o CEO (diretor executivo) Mark Zuckerberg, em
diversas ocasiões sugeriram o intento de buscar experiências mais positivas na
rede social.
Outras intenções
O coordenador do grupo de
pesquisa Estudos Críticos em Informação, Tecnologia e Organização Social do
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), Arthur
Bezerra, ponderou que, embora o Facebook manifeste preocupação com a
experiência e com a saúde dos seus usuários em medidas como esta, a mudança
pode ter outras motivações mais voltadas ao modelo de negócios da companhia.
“Devemos lembrar que empresas
como o Facebook obtêm seu lucro pela publicidade direcionada alimentada pelos dados
do usuário ao agir na plataforma, precisando prender o usuário o máximo de
tempo no seu interior. É possível aventar que, mais do que uma decisão voltada
para os comportamentos, ocorre uma tentativa de não perder o seu principal
ativo, o usuário, interagindo. Isso porque postagens com poucas curtidas e
baixa interação podem ser desestimulantes para indivíduo continuar na
plataforma”, afirmou.
Instagram
Em julho, a empresa
implementou teste semelhante no Brasil em outra rede social de sua propriedade,
o Instagram. A mudança já havia sido testada em outros países e chegou aos usuários
brasileiros.
O teste fez parte de diversas iniciativas
anunciadas pela plataforma para combater práticas nocivas na internet, como
discurso de ódio, ou bullying na web. Tais ações são uma
resposta a críticas recebidas pela plataforma de que sua arquitetura e lógica
de funcionamento favoreceriam um ambiente prejudicial ao bem-estar de seus
integrantes.
Um estudo da Sociedade Real para a Saúde Pública, realizado em 2017, apontou o Instagram como a pior rede social para o bem-estar e a saúde mental de adolescentes.
Um estudo da Sociedade Real para a Saúde Pública, realizado em 2017, apontou o Instagram como a pior rede social para o bem-estar e a saúde mental de adolescentes.
Título e Texto: Jonas Valente; Edição: Nádia
Franco – Agência Brasil, 27-9-2019, 17h29
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