Agência Senado
Os cerca de 3,7 milhões de
brasileiros que vivem nas mais diversas regiões do mundo enviam anualmente U$ 9
bilhões (cerca de R$ 37 bilhões) para parentes e empreendimentos no Brasil. O
dado foi apresentado por Ester Sanches-Naek, ex-diretora do Conselho de
Representantes de Brasileiros no Exterior (CBRE), que participou de audiência
pública na Comissão de Relações Exteriores (CRE) nesta terça-feira (24). A
reunião foi conduzida pelo senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). Ele confirmou
que vai apresentar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para assegurar
aos brasileiros no Exterior o direito de elegerem seus próprios deputados para
o Congresso Nacional.
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Foto: Geraldo Magela/Agência Senado |
Muito dinheiro
Sanches-Naek, que mora nos
EUA, defendeu que a futura PEC preveja a eleição de quatro deputados. Eles
representariam brasileiros que vivem na América do Sul, nos Estados Unidos, na
Europa e um último para Ásia e Oceania.
— Dados oficiais do Banco
Central (BC) indicam que já repassamos mais de U$ 9 bilhões por ano para nosso
país. Movimentamos a economia em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pará, com
reflexos em todos os estados. A emigração de pessoas do Rio de Janeiro aumentou
muito nos últimos anos, mas todos os dias chegam brasileiros de todas as partes
nos Estados Unidos, pelas fronteiras. Este número não pára de crescer —
confirmou Sanches-Naek.
Jorge Costa, que representa a
comunidade brasileira em Massachusetts (EUA) e teve casa de câmbio naquele
estado, acredita que o número oficial captado pelo BC representa apenas uma
fração do que é de fato repassado pelos brasileiros no Exterior.
— Falo com propriedade sobre
isso porque tive lojas de remessas. O Banco Central só capta os repasses que
passam de U$ 10 mil. Entra muito mais que isso, através de repasses menores
trazidos por amigos ou parentes, para tratamentos de saúde ou pequenas obras. O
BC capta no máximo 50% do que é enviado para o Brasil, talvez um terço. O
brasileiro que mora aqui ainda não tem noção da importância que o dinheiro dos
expatriados adquiriu para nossa economia. Entra muito dinheiro que não passa
pelos controles do BC, eu sei do que estou falando — revelou.
A posição do Itamaraty
A diplomata Maria Luisa
Ribeiro Lopes, do Departamento Consular do Ministério das Relações Exteriores,
deixou claro que a pasta é favorável à representação política dos brasileiros
que moram fora. Ela conduziu em 2018 a expansão dos consulados, em todos os
continentes, que organizaram seções eleitorais para que os emigrantes pudessem
votar para presidente da República. Este é o único cargo para o qual os
emigrados podem votar, pela legislação brasileira.
A expansão das seções
eleitorais possibilitou que a participação aumentasse significativamente, o que
mostra, segundo a diplomata, que a comunidade brasileira em todo o mundo anseia
por participar do processo político do país. Ela apenas sugeriu que a PEC
preveja a possibilidade de candidaturas não-partidárias, pois teme que a forte
polarização existente no Brasil se espalhe por todos os continentes.
— Hoje as comunidades
brasileiras se unem por causas, não por partidos. No Japão, a pauta prioritária
é a inclusão educacional; nos EUA, são os problemas migratórios. Estes temas
unem a todos, independente das orientações políticas de cada um. A obrigação da
filiação partidária deve passar por uma boa reflexão. Uma possibilidade é abrir
para que os candidatos representem associações, não partidos — pediu.
A questão dos custos
O ex-senador Cristovam Buarque
(DF) também participou da audiência. Em 2005, ele apresentou uma PEC que previa
a eleição de deputados representantes de brasileiros no Exterior (PEC 5/2005). A matéria não chegou a ser votada e acabou arquivada. Cristovam
Buarque lembra que a proposta foi muito atacada na mídia sob o argumento de que
aumentaria os custos do Parlamento. Mas, para ele, os custos não são tão altos
comparados à estrutura que já serve a 594 parlamentares.
Para o ex-parlamentar, o
aumento se justifica pelos ganhos em representação a comunidades que também
investem muito no país. O aumento de custos também deve ser compensado por
cortes em outros gastos do Parlamento, defendeu Cristovam.
A advogada Marilene Sguarizi,
que integra o CBRE e representa brasileiros que vivem no Paraguai, também
participou da audiência. Ela lembrou que cerca de 400 mil brasileiros moram no
país vizinho, o que faz desta comunidade a segunda maior de expatriados, atrás
apenas dos Estados Unidos. Marilene Sguarizi garantiu que a comunidade também
apoia a eleição de um representante próprio ao Congresso Nacional, o que, no
seu entender, contribuirá para fortalecer "ainda mais" os laços entre
os dois países.
Título e Texto: Agência Senado, 24-9-2019, 15h46
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