domingo, 20 de junho de 2010

[Portugal] Selecionadores: Queiroz comparado com Scolari

São muito diferentes
Um era paternal e dava importância à psicologia. O outro é um académico calculista e fala muito sobre táctica. Agora adivinhe qual deles tem explicações para dar aos fãs da selecção.

Quando Deco criticou as opções tácticas de Carlos Queiroz, falando à imprensa depois do Portugal-Costa do Marfim (1-1) de terça-feira, 15, sugeriu instabilidade dentro da selecção. A coesão que vinha do tempo de Luiz Felipe Scolari pareceu quebrada. E tornaram-se inevitáveis comparações com a atitude de Queiroz, o sucessor.
Não foi, de resto, a primeira vez que isso aconteceu. O afastamento de Nani já tinha provocado o mesmo. O jogador, lesionado, regressou a Lisboa. Não se sabe quem terá determinado a partida - se foi opção do próprio ou da equipa técnica. Mas no Mundial de 2006 Jorge Andrade acompanhou a comitiva, mesmo sabendo-se antecipadamente que não jogaria um minuto sequer - e ficou até ao fim. Os colegas, na altura, valorizaram o gesto de Scolari, que telefonou ao defesa central semanas antes da competição e o convidou para integrar a comitiva.
O objectivo pareceu óbvio: aumentar a união do grupo e evitar deslealdades ou críticas - como as que Deco fez. Centrar o êxito na ideia de família e não em eventuais opções tácticas ou estratégicas. Esta forma de encarar o jogo é, de alguma forma, o que distingue Scolari de Queiroz. Scolari privilegia o espírito do balneário e tem mais jeito para isso; Queiroz está mais inclinado para os aspectos teóricos do futebol.
O brasileiro assumiu, em entrevistas, esse seu papel. "Eu sou o paizão da família Scolari e o Murtosa cria o ambiente descontraído como o irmão legal", disse, em 2006, desvalorizando o aspecto estratégico. "Eu sou mais o líder psicológico, por uma razão simples: antes os técnicos só tinham a intuição como ferramenta no futebol; hoje têm todas as informações e estatísticas possíveis e excelentes olheiros; então, deixou de ser complicado formular uma táctica a partir do adversário."
Este desinteresse pela estratégia chegou até a ser criticado por Mourinho. Quando era treinador do Chelsea, mostrou-se publicamente surpreendido por Scolari não observar os jogadores nos seus clubes.

Já Queiroz dedica imenso tempo a isso. Scolari demorava-se em palestras, mas boa parte do tempo era gasto em incentivos psicológicos. Queiroz estuda minuciosamente os adversários e mostra vídeos dos seus jogadores; depois aponta erros. Usa sempre uma linguagem mais cuidada e académica do que o antecessor - acabaram-se as metáforas, as imagens populares, o jargão divertido.
Queiroz tem feito, ainda assim, um esforço para se soltar. Há inclusive um grito de guerra, no balneário, antes de a equipa subir ao relvado, em que todos, dispostos em círculo, põem a mão numa bola. Mas tudo parece mais forçado. Quando anunciou uma canção dos Black Eyed Peas como hino da selecção, substituindo a música pimba que Scolari punha a tocar no autocarro, foi evidente que se tratou de um truque psicológico - e até de marketing. Já quando o brasileiro clamava para os portugueses porem as bandeiras à janela, quando ia a Fátima em peregrinação, quando rezava a Nossa Senhora do Caravaggio - isso parecia espontâneo. E de alguma forma era. Scolari sofre, ri, salta. Dá socos nos inimigos da sua equipa. Fê-lo a um jornalista brasileiro, quando era treinador do Palmeiras, no Brasil, em 1998; e ao jogador sérvio Ivica Dragutinovic, depois de um jogo da selecção portuguesa no Estádio de Alvalade. Apesar das críticas, tudo isso acabou por o promover como figura paternal. Queiroz dá sempre a ideia de estar mais preocupado com a sua imagem. O que lhe retirará carisma e empatia.
A grande questão é saber se o sucesso no campo poderá mudar as coisas. Scolari não foi amado logo de início e houve quem o quisesse crucificar logo no começo do Euro, depois do 1-2 frente à Grécia.
Nem sequer foi imune a críticas dos jogadores. Vítor Baía, substituído por Ricardo, acusou-o de escolher segundo lealdades e características sócio-psicológicas dos jogadores. O ex-guarda-redes, agora dirigente do FC Porto, fez recentemente uma comparação com o treinador português: "Felizmente com Queiroz o que importa é o trabalho que os jogadores fazem nos clubes."
De Scolari nunca se ouviu uma reacção intempestiva contra quem fosse útil para a equipa. O inimigo estava lá fora. Falta perceber como Queiroz irá gerir os descontentamentos no balneário.
Revista "Sábado", edição nº 320, 17 a 23 de junho de 2010 - Reportagem de Ricardo Dias Felner, com Ana Paula Correia e Carlos Torres
Cerebral - A abordagem de Queiroz ao jogo e aos jogadores é mais a de um treinador académico










Emotivo - Para defender os seus jogadores, o brasileiro chegou ao excesso de agredir adversários

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