sábado, 11 de setembro de 2010

'Se Dilma vencer, Lula não se elege mais nem deputado', diz Serra


Foto: Marcelo Carnaval
Depois de ser sabatinado por quase duas horas pelos colunistas e leitores do GLOBO, o candidato do PSDB à Presidência José Serra encerrou sua participação no evento realizado no auditório do jornal, nesta sexta-feira, dizendo que se houver uma possível vitória de Dilma Rousseff (PT) nas eleições do próximo dia 3 de outubro, o presidente Lula não conseguirá se eleger nem deputado no futuro. A pergunta de um leitor presente na plateia fez com que o tucano citasse o exemplo de Paulo Maluf e Celso Pitta nas eleições municipais de São Paulo, em 1996.




- Não sou a favor da reeleição. O Lula só tem a chance de ser candidato de novo, se eu ganhar. Se a Dilma ganhar, ele não se elege nem deputado. O que aconteceu com o Maluf em São Paulo? Ele elegeu o Pitta, e deu nisso. 
- O Lula ainda é mais forte que o PT. As coisas que ele fez típicas do PT são coisas típicas dele. No caso da Dilma, ela é muito mais fraca que ela mesma. Esse é o caso Maluf-Pitta, mas são pessoas diferentes. É você votar num candidato que não vai governar. Tudo que cai em cima do PT foi armado por eles mesmos - acrescenta. 

Serra pouco falou sobre a quebra de sigilos na Receita Federal de sua filha, Verônica, e de aliados do PSDB. O tucano comentou o tema apenas na pergunta do colunista Ricardo Noblat sobre a conversa que teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito de uma eventual quebra de sigilo de sua filha, em janeiro, e aproveitou para dizer que há uma indústria de blogs mantida pelo PT. E chegou a falar com Lula que eles (blogs) divulgavam coisas sujas a respeito de sua família. 
Serra ainda citou a TV Brasil como uma das pagadoras desses blogs, que na sua opinião, se dedicam à difamação. Serra disse ainda que a quebra de sigilo de Eduardo Jorge, vice-presidente de seu partido, foi em função da campanha eleitoral. 
- Eu fiz um comentário numa entrevista de TV, que alguém ouviu e passou para o jornal. Em janeiro, aniversário de São Paulo, eu disse ao Lula que seria candidato. A conversa girou em torno disso. No final eu passei cópias do blog dele e da Dilma. O blog tinha coisas sujas a respeito da minha família. Eu dei pra eles as cópias e disse: se a gente vai começar a falar de família... Isso ocupou cinco por cento do tempo da conversa. Tem uma indústria de blogs mantida pelo PT, por exemplo a TV Brasil, que paga blogs que se dedicam a difamação. Você pode ter quebras de sigilos e tal, mas no caso deles, do Eduardo Jorge, foi em função de campanha. Desde 2006 tinha dossiês com coisas delirantes, na época que ela estava nos EUA. Esses casos todos, como o do Eduardo Jorge, foi passado por um jornal. Pode ter usado um pé de chinelo qualquer, pode. 
E completou dizendo que foi inevitável não divulgar o fato de que sua filha, Verônica, teve também os sigilos fiscais violados na Receita Federal. 
- Mas eu só tive consciência do fato agora. A minha primeira reação não foi de divulgar, você geralmente não quer envolver familiar, só que me pareceu inevitável. Eu, por mim, não teria nem divulgado. Não estou dando muita importância a isso, é uma crítica. 
Perguntado pelo colunista Merval Pereira se mesmo com a tradição do PSDB vencer em São Paulo, pode perder agora para Dilma, o candidato tucano garantiu que não perderá em seu reduto político. 
- Não, não vou perder em São Paulo. Eleição não é igual a futebol. Eleição só tem um gol no final da partida. Tem o peso do Lula na Dilma, porque ela mesmo não tem peso. É muito investimento no interior. Você vai numa cidade e você vê que tem. Agora prefeitura só ganhamos uma, que fui eu. O PSDB não tinha tradição de ganhar prefeitura na capital. 
Questionado pelo colunista Zuenir Ventura se houve erros estratégicos em sua campanha eleitoral, Serra não confirmou, mas admitiu ter sofrido um "passa-moleque", o que segundo ele, quer dizer rasteira em São Paulo. 
- É difícil, em determinado momento você tem x quantidade de informações. Eu estou muito no calor da campanha para fazer uma análise. Não posso disser que é erro. Eu não posso falar "passa-moleque", acho que aqui não se fala "passa moleque", mas, enfim, é uma rasteira. Também não é fácil passar moleque em mim, mas eu sofri um passa moleque. É difícil, em determinado momento você tem x quantidade de informações. Eu estou muito no calor da campanha para fazer uma análise. Não posso disser que é erro. Eu não posso falar "passa moleque", acho que aqui não se fala "passa-moleque", mas, enfim, é uma rasteira. Também não é fácil passar moleque em mim, mas eu sofri um. 
O discurso mais agressivo seria uma forma de reverter?, voltou a perguntar Zuenir Ventura. 
- Isso é estratégia de campanha. A história é feita de extravagância, se não tiver extravagância, não é história. 
O colunista Artur Xexéo aproveitou o ensejo para saber do candidato se ele aposta em uma virada nas pesquisas de intenções de voto. Serra disse que sim e garantiu ter ainda muita energia para vencer a eleição. 
- Acho que vai ter uma virada. Sinceramente eu acho, mas você não perguntaria isso se não esperasse essa resposta. Se me acompanhasse no tempo em que estou acordado, veria que estou com uma energia que não tive na minha vida. Ela provém de uma convicção que vou ganhar. Do que provém é que o Brasil não vai voltar a eleger um envelope fechado. Não sou o dono da verdade, mas sinto que é demais isso. Alguém para quem fica duas opções: que não tem ideias ou ideias contraditórias. E efetivamente é uma campanha terceirizada. Sobre pesquisa, posso dar exemplos de viradas e não viradas. Por exemplo, quando fui candidato a governador em São Paulo meu trakking dava 58% e foi isso que aconteceu. Não houve virada nenhuma. Mas teve outras, mesmo da prefeitura, dava a Marta como vitoriosa no primeiro turno e ganhei. Segundo turno empate, e ganhei folgadamente. Pesquisa às vezes funciona e às vezes não. Ela cria também um círculo vicioso. Uns trabalham até mais, outros ficam desanimados. 
Em resposta ao colunista Jorge Bastos Moreno, se no futuro haveria uma tendência de que tucanos e petistas pudessem se unir projetos comuns, Serra arrancou risos da plateia. 
- Não conheço esses tucanos, devem ser mais exóticos que o natural. Tem uma diferença entre PT e PSDB muito grande. Eleito presidente, a parte política estará bem conduzida. Sempre atendi todos - disse. 
Questionado pela colunista Miriam Leitão se tem vergonha de Fernando Henrique ou se gostaria de ser o candidato do Lula, o candidato do PSDB contou que em todos os seus discursos da semana passada em São Paulo fez análise do que aconteceu no passado e o que aconteceu agora, inclusive em debates. 
- O PT não discute isso, principalmente a questão das privatizações. É um falso debate. O horário eleitoral está voltado para a campanha, e não está em questão governos passados. Às vezes, eu vejo até editoriais reclamando de que os candidatos não falaram disso, daquilo, etc, mas eu cansei de falar, eles que não leram. Sou de longe o candidato que mais discute programas e circunstâncias. Eu não tenho que ficar revisando o meu passado, nem guardo no cofre momentos da minha vida. Aliás, eu fui ministro do Fernando Henrique. 
E comentou a estratégia do PT para eleger sua adversária, Dilma Rousseff (PT). 
- Isso é uma estratégia de campanha. A estratégia de TV é uma, de comício é outra. A candidata Dilma não tem história. Os candidatos são eu e o Lula, o Lula está se candidatando através dela. O Lula tem história, tem. Acho que é muito folclore, isso. 
Em resposta ao colunista Ilimar Franco, se caso seja eleito presidente se colocaria como prioridade promover reforma política no país e quais ideias defenderia, Serra afirmou que essa é uma questão essencial. 
- Tenho proposta de implantar o voto distrital nos municiípios onde tem mais de 200 mil habitantes. Por que? Porque a população se sentiria mais representada. Cobrar quem foi eleito. Na campanha ao invés de 200, escolheria quatro ou cinco. Calculo de cinco a dez vezes a economia para efeito da conquista do voto. E introduziria o vírus benigno do voto distrital e da representação. Começaria por aí já na próxima eleição. Eleito, vou me jogar a partir de janeiro para fazer isso. Deputados em geral são ligados a prefeitos de cidades médias e pequenas. Prefiro um tipo de voto distrital misto porque uma coisa é uma cidade mais homogênea. Estado complica um pouco. Em segundo, o voto em lista. A campanha eleitoral seria muito mais, a questão da chapa, haveria um debate maior. Resolve o problema de oligarquia partidária? Não, mas melhora o custo da campanha. Tem que eliminar a base estrutural que eleva muito o gasto de campanha. É uma boa coisa a fidelidade. Tem sua importância. Parece algo meio hipócrita, mas eliminar a possibilidade dessa hipocrisia é uma boa. O horário eleitoral, você acaba vendendo o candidato, o que não é o meu caso, como se fosse um iogurte, uma sandália de praia. Vamos fazer uma coisa direta que os candidatos tenham que falar e não poder parecer o que não é. Pode parecer coisa chata, mas a propaganda eleitoral não é entretenimento. E obrigar debates. Também limitaria pela legislação a questão dos nanicos - disse. 
O mediador Ancelmo Gois perguntou, ao final da sabatina, se a questão da violência seria resolvida pelo candidato e por que acreditar que sim, uma vez que Lula e Fernando Henrique não deram prioridade ao tema. Serra foi taxativo: 
- Porque o que eu falo eu faço. Enfrentar a violência implica o governo federal compartilhar responsabilidades, e não ficar às margens. Você tem que ter uma autoridade por cima. Hoje um criminoso de Aracaju, em Salvador, mostra o documento e depois sai andando. Não tem um cadastro de criminosos. Tem que colocar o governo federal nessa. 
O candidato falou ainda de outras propostas de governo:  
Educação 
- Vou incrementar o Ensino Médio e Fundamental. Todo mundo que faz ensino médio na Alemanha aprende uma profissão. Como governador, criei uma instituição onde passamos a desenvolver um ensino médio público, que faz num período a escola técnica, e no outro o ensino médio. Terá que ter uma mudança profunda na educação. 
Pedágio nas estradas 
- As duas estradas mais calamitosas de SP são as federais. O que os petistas querem é levar o padrão das estradas federais para São Paulo, e eu quero levar o padrão de estradas boas para o Brasil. O governo Lula fez uma coisa interessante, que é um pedágio, a CIDE, só que ela não é gasta nas estradas, e eu acho importante essa contribuição. Eles não investiram nada em estradas, cobrando um imposto altíssimo. 
Médicos e professores 
- Vou me meter muito na questão da residência médica. É fundamental. As três carreiras mais complicadas são ortopedia, clínica-geral e pediatria. Está tendo muito analista de imagem, porque está pagando melhor. É uma área que vai muita gente. Com relação a professores tem que distinguir. Vamos falar do Ensino Fundamental. O problema todo é sala de aula. Como prefeito e governador, dava aula para ver na prática como os alunos estavam. A conclusão, o problema não é prédio, merenda, material escolar, uniforme. O problema básico é o aprendizado na sala que é muito deficiente. É preciso melhorar, botar incentivo material para professor. Fizemos metas, quem cumpriu ganhou até três salários mais. Escola para o professor. Melhorar a didática. Recursos que tem tido resultados.

Além do Ancelmo, participaram os seguintes colunistas: Miriam Leitão, Ilimar Franco, Ricardo Noblat, Jorge Bastos Moreno, Merval Pereira, Elio Gaspari, Zuenir Ventura, Artur Xexéo, Fernando Calazans, Joaquim Ferreira

Na véspera, a candidata do PV, Marina Silva, inaugurou a série de sabatinas, quando aproveitou para criticar a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao episódio da quebra de sigilos na Receita. A presidenciável petista, Dilma Rousseff, se recusou a debater com os colunistas e leitores. No início da semana, o jornal publicou entrevista com o candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio 

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