Em uma pequena reunião outro dia algo me chamou bastante a atenção. Presentes entre os convidados estava um casal de pessoas já bem idosas.
Como todo casal já em uma idade bastante avançada começa a ser comum certa impaciência um com o outro, seja por já não conseguirem se ouvir direito, seja por insistirem para que o outro se lembre de algo por que passaram quando este já não consegue se lembrar. Acabam assim com pequenos atritos inconsequentes, mas chatos na convivência dos casais já com aquela idade.
Já havia notado isso em diversos casais idosos mas uma coisa me chamou muito a atenção naquele. Durante nosso encontro, um dos dois passou por um lapso de memória, muito comum em pessoas nessa fase de idade, e não sabia que remédio deveria tomar naquele horário, confundindo os da manhã com os da noite e, por esse motivo, tendo ficada bastante ansiosa, sem saber o que fazer e tendo que recorrer às suas anotações para acabar com as dúvidas.
Pude notar no olhar, e na expressão do outro seu parceiro, com quanta tristeza estava em seu coração de ver aquilo ocorrer com sua amada, sua parceira, a companheira de toda a vida. Sua angústia de ver aquele quadro era tão visível que me doeu na alma.
Penso que, quando isso ocorre com alguém, que se sente incapacitado de fazer algo para ajudar, deve doer muito, pois provavelmente entende, com fatos assim, que seu companheiro ou companheira já está próximo do fim e que, certamente, ele também.
Pior, quando os filhos começam palpitar, dizendo que um é chato, intransigente, implicante com o outro, ou algo assim. Não é nada disso. Pelo exemplo citado, nota-se claramente, que o amor e o carinho entre ambos ainda é muito forte, latente, e o que ocorre é que, por também já estar bastante idoso, um não consegue entender como o outro não se lembra daquilo que ele sim, e vice versa, ou como o outro não escutou sua pergunta.
Os filhos deveriam aceitar e relevar as chatices e intransigências dos mais velhos, levando suas implicações como o desejo destes de, com sua experiência de vida, querer nos ensinar ou sugerir algo, e acatar esse ensinamento como se crianças fossem, sem discussão, pois os mais velhos possuem muita dificuldade em entender que aqueles seus pequeninos cresceram e hoje já possuem sua própria opinião e, assim como também eles fizeram no passado, acham que não precisam mais de conselhos e sugestões.
É muito comum que o mais velho fique tenso, nervoso, por não entender o motivo pelo qual aquele seu ente querido, bem mais novo e por isso menos experiente, pense que algo do que diz não está correto, se tudo o que diz, que tenta passar de sua experiência, é com muito amor e carinho, para que os mais jovens não precisem passar pelo mesmo erro que ele ou algum ancestral já passou, muitas vezes com sacrifício, e com ele aprendeu.
Precisamos amadurecer o suficiente para entender melhor os idosos que nos rodeiam, e com eles aprender, pois certamente, no futuro seremos nós com os mesmos problemas, com as mesmas picuinhas, e com as mesmas tristezas, que não poderemos socorrer nosso companheiro em suas dificuldades, sejam físicas ou mentais.
Aceitar os mais velhos com suas rabugices, picuinhas e intransigências é, além de um amadurecimento, uma obrigação, pois foram estes, hoje velhos, que aceitaram nossos choros, manhas e incapacidades infantis.
Imagem e texto: João Bosco Leal
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