domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sindicalismo de oportunismo.

Carlos Alberto Amorim
Misericórdia sem pena
Ribeira de Pena é um dos concelhos mais pobres – no Índice de Poder de Compra de 2007 (INE) é mesmo o penúltimo de entre os 308 concelhos portugueses ostentando uns aterradores 46,34 por cento do poder de compra médio nacional (cem). A Misericórdia local tem 128 funcionários, número que faz pasmar face aos pouco mais de 7400 habitantes: tal dever-se-á, certamente, a uma interpretação deveras extensiva do título da instituição.
A Misericórdia de Ribeira de Pena está falida. Os seus responsáveis queixam-se, sobretudo, do Estado caloteiro que temos, que se recusa a cumprir as dívidas de algumas centenas de milhares de euros e que bastariam para que esta IPSS pudesse respirar.
Cientes de que os seus postos de trabalho estão em risco, os trabalhadores acordaram com a provedoria a redução dos seus salários em dez por cento. Ninguém lhes impôs coisa alguma – foi um pacto entre todos visando atenuar o garrote financeiro.

Logo, os autoproclamados guardiões dos direitos dos trabalhadores, no caso o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública, fizeram uma queixa ao Ministério do Trabalho alegando a ilegalidade do ajustamento. O governo encara a questão com gravidade.
Este caso elucida bem o rebuliço lógico em que este país se encontra: 
1) uma instituição pretende sobreviver no meio da tormenta também causada pela imorredoira tendência para a vigarice que matiza este triste Estado tuga;
2) os trabalhadores propõem uma redução salarial;
3) aqueles que os deveriam proteger preferem fazer queixinhas e ajudar a pôr tudo rapidamente no desemprego;
4) o Estado que, aliás, reduziu os salários aos seus funcionários agora arvora-se em paladino do contrário daquilo que defendeu dentro da sua própria casa e prepara-se para impedir a Misericórdia de Ribeira de Pena de ter ensejo de resistir, esquecendo o seu dever essencial: pagar o que deve!
Ai, se em vez de uma pobre Misericórdia fosse um banco…
Carlos Abreu Amorim, Notícias Sábado'266, 12-02-2011

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