terça-feira, 9 de outubro de 2012

O último Natal


José Carlos Bolognese
Não fui eu que inventou a febre de Boas Festas/Ano Novo que ocupa as mentes, os corações e os bolsos (os últimos, para quem não os têm vazios como os nossos) das pessoas, logo depois do Dia da Criança em outubro. Nunca gostei (mas não critico quem gosta) dessa neura e parece que nesse ponto, pelo menos, o governo concorda comigo e quis me dar uma mãozinha, ou melhor… um baita chute no meu idoso derrière, decretando um estado de frugalidade natalina nos últimos seis anos.
Pois é, eu não pedi, mas mudaram a minha vida.
E até descobri que tenho visão de Raio X, pois ao entrar num shopping, vejo nas entradas das lojas uma barreira não percebida pelos outros mortais, me proibindo de entrar.
Ironia à parte, o fato é que este próximo Natal já tem um bocado a menos de variguianos a sonhar com o Papai Noel, tão cansados que ficaram de esperar em vão. E então, pouco a pouco eles, para não ficarem decepcionados com o saco vazio do “Bom Velhinho”, foram indo embora, ficando ao menos livres do saco de maldades dos “maus mocinhos”.
Oramos para esses que se foram, com a sensação de que uma boa parte do que fomos e somos, também se foi. De 2006 para cá, nenhum de nossos Natais foi Natal pra valer. Nem me refiro exclusivamente à parte material do evento, porque se não ganhar um presente, paciência, mas sensação de não poder dar algum às pessoas que amamos é o que nos acorda para a infâmia dessa situação.
O atual governo assim como o anterior, o que vem a dar no mesmo, sempre defendeu políticas compensatórias para segmentos mais prejudicados da população. Mas distância entre uma declaração, que mais serve de fachada para se parecer com um estado moderno, solidário e a realidade que se vê, daria para abrigar alguns oceanos, se estes coubessem no planeta. O tal CDH-Conselho de Direitos Humanos deste governo nunca deu sequer uma única resposta aos aposentados e ex-trabalhadores da Varig e Transbrasil.
Agora vem uma nova proclamação de intenções, que não irá mesmo além de intenções pelo que se conhece, conforme noticia esta Agência Brasil de Brasília - que merece uma análise minha – embora eu não seja formado em nada, tenho uma baita experiência em viver?... cada vez mais com... menos!
O Conselho de Direitos Humanos (CDH), ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), aprovou hoje (28) uma resolução proposta pelo Brasil e pela Argentina para reconhecer os direitos humanos dos idosos. Notem que os governos que menos fazem por seus povos, são os que mais assinam resoluções de boas intenções com outros países. No fim se arranja uma desculpa externa para não cumprir. É o pulo do rato.
A resolução, intitulada Direitos Humanos dos Idosos, é o primeiro texto do CDH especificamente para essa parcela da população que, em 2050, representará mais de 20% da população mundial. Aqui, feito de encomenda para o pessoal Varig/Transbrasil. Em 2050 já não seremos uma preocupação para eles.
O texto, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores, reconhece os desafios para garantir os direitos humanos dos idosos, (tava bom pra nós se fosse para agora, mas como é para 2050...) determina a realização de consultas públicas sobre o tema e…
Amigos... aqui sou obrigado a uma pausa, pois nesse ponto o texto adquire tanta poesia, tanta doçura pois temo que aqueles colegas com altos índices de glicose sofram um choque. Vejam só:
...convoca os países a assegurarem esses direitos, com implementação de políticas antidiscriminação por idade.
Não é linda esta frase? Vocês... não sei, mas quando a leio, eu me arrepio todo! Calma, as emoções ainda não acabaram! Tem mais:
A inclusão de uma resolução específica para os idosos no CDH, na avaliação do Itamaraty, deverá fortalecer a proteção internacional dos direitos dos idosos e o compartilhamento de experiências positivas entre países nesse tema.”
Vejam só até onde vão esses nossos batutas – proteção internacional – bingo! Essa é na medida certa pra nós que em longínquas encarnações, já fomos grandes viajantes.
Não precisa exagerar CDH! Só queremos nosso Aerus de volta!
A presidente ao votar neste domingo disse “que somos um país livre e democrático que respeita os direitos”. Ótimo! Espero que isto inclua o nosso direito de voltarmos a ter vários Natais como seres humanos. Assim como espero de todos nós da Varig, Vasp e Transbrasil – desempregados e aposentados – que continuemos a cobrar a devolução dos nossos direitos. Precisamos afastar esse perigo que nos ronda há tantos anos. Até porque, como diria Camões, "um dia o dano pode ser maior do que o perigo".
Que o último triste Natal para nós tenha sido o do ano passado.
Abraços a todos,
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 09-10-2012
Um aposentado Ficha Limpa

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