Helena Garrido
É lamentável que se chegue a
esta altura para concluir que, afinal, o único ministro que fez, de facto,
intervenções estruturais de corte na despesa pública foi Paulo Macedo, na
Saúde. É na saúde que efectivamente já vemos os efeitos de existirem menos
rendas, sem que se possa acusar uma degradação nos serviços. Tal como podemos
dizer que o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, se preocupou desde a
primeira hora em reduzir a dimensão do seu ministério, ganhando com a
integração dos ministérios da economia e das Obras Públicas.
Chegou a hora de perguntar o
que fez a ministra da Agricultura Assunção Cristas que pertence a um partido
que hoje se revolta contra o aumento de impostos? Não integrou este ministério
também outros, como o do Ambiente? Não poderia ter cortado mais gastos, se é
que se preocupa genuinamente com isso, como diz o seu partido? Lamentavelmente,
o CDS diz que a sua prioridade é reduzir a despesa e, na prática, não corta na
despesa que tutela.
E o que fez o ministro dos
Assuntos Parlamentares Miguel Relvas com as autarquias? Um ano depois ainda estamos
a ver se afinal se extinguem umas freguesias já em vésperas de eleições
autárquicas? Porque, obviamente, nos municípios faltou a coragem e nem duas
autarquias se conseguiram fundir.
Por onde anda Programa de Reestruturação e Melhoria da Administração Central (Premac)? Cada ministro devia estar neste momento a verificar se levou à prática o seu discurso de corte de despesa pública. Ou teremos de dizer que pensavam que reduzir os gastos públicos era umas corridinhas para cortar gordurinhas, desvalorizando mais de uma década de tentativas de outros governos.
Lamentavelmente, somos
obrigados a concluir que houve durante este ano ministros que foram
irresponsáveis, que foram "cigarras", sim, como disse Miguel Macedo.
Agora não se podem queixar de ter chegado a conta da sua displicência, sob a
forma de mais impostos.
Infelizmente para todos nós,
ao lado de alguns ministros, que não tinham ainda percebido a dimensão da
crise, surgem no espaço público líderes de opinião, ex-líderes, ex-ministros,
personalidades que em geral consideramos serem as nossas elites que parecem ter
perdido a cabeça. Que parecem estar mais preocupados com os cortes que pela
primeira vez vão sentir nos seus rendimentos do que com o país. Às elites
pede-se que pensem antes de falarem, que contribuam para solucionar os
problemas em vez de os agravarem. Em vez disso assistimos a declarações
inflamadas contra um Orçamento que sabem ser inevitável neste momento. Sim,
inevitável, porque todas as outras soluções, no momento que vivemos na Zona
Euro, seriam piores para Portugal.
É na violência das tempestades
que os líderes e as elites se elevam de quem não tem força nem carácter. Este é
o tempo em que os partidos e as elites vão mostrar (ou não) se são capazes de
recuperar Portugal para os portugueses. Se as elites não se acalmarem, se não
ganharem algum bom senso, o que nos espera não é bom.
Título e Texto: Helena Garrido, Jornal de Negócios, 18-10-2012
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-