João César das Neves
“A indignação é a mãe de todos
os disparates”. Este teorema simples foi formulado há dias pelo General Ramalho
Eanes (Renascença, programa Terça à Noite, 9/Out). Trata-se de uma afirmação
sábia de explicação evidente.
As pessoas indignam-se quando
vêem sofrimento injusto. Alguém só se exaspera ao considerar injustificado o
mal que sente. A indignação é dor, mas dor com incompreensão. Daí resulta
irritação que se considera legítima, e normalmente é.
O problema é que, por
justificada que seja, a revolta tende a cegar. Ofendida e zangada, a pessoa
perde condições para uma análise serena da situação. No entanto, essa cegueira
não impede, antes potencia, juízos e condenações. Os quais, resultando de uma
indignação justa, parecem igualmente sê-lo, embora raramente estejam em
condições de o ser. Apesar disso são taxativos precisamente por serem
indignados. Argumentar contra eles embate de frente com a justificação da
ofensa original, a qual é indiscutível. A dedução é que não.
Tanto mais cegas quanto mais
justificadas no seu legítimo repúdio, pessoas tranquilas e inteligentes são
levadas a comportamentos desesperados pela indignação. Assim ela é mesmo a mãe
dos disparates.
Do nazismo ao terrorismo, dos protestos
sociais às zangas de adolescente, múltiplas situações de conflito incluem o
tema comum da indignação, normalmente muito razoável. Isso leva pessoas a fazer
o que elas mesmas, uma vez serenadas, consideram inaceitável. Daqui sai outro
teorema: este tempo de crise e dificuldade gera muito disparate.
Título e Texto: João César das Neves, Destak, 18-10-2012
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