Camilo Lourenço
François Hollande está
preocupado com a austeridade em Portugal. O presidente francês acha que
estamos, com a Espanha, a sofrer com os erros dos outros. E, por isso,
precisamos de outra política que não a de austeridade.
António José Seguro exultou
com este carinho especial do presidente francês pela Ibéria. E não tardou a
agradecer a Hollande, porque as suas declarações "convergem com tudo"
o que tem vindo a dizer: a necessidade de Portugal "sair da crise pela via
do crescimento e a necessidade de beneficiar de taxas de juro mais
baixas".
Eu, como português, fico muito
agradecido a Hollande. "Et, pour cause", a Seguro também. A Hollande
porque nos dá uma alternativa à obsessiva austeridade alemã. A Seguro porque
conseguiu, num encontro pouco habitual (os presidentes franceses não costumam
receber, no Eliseu, líderes da oposição), convencer Hollande a mostrar como se
pode dar uma chapada de luva branca a Angela Merkel.
Só há dois pormenores que não percebo neste "show" de
solidariedade latina. A primeira é estranhar que Hollande tenha apresentado à
Assemblée Nationale o orçamento mais austero dos últimos anos (que até já
motiva manifs). Bom, mas até aí ainda dou um desconto: afinal em França
também se aplica a máxima "Faz o que digo, não faças o que eu faço". Mas o que me incomoda mesmo é que Seguro
não tenha aproveitado para pedir a Hollande um empréstimo a fundo perdido para
amortizarmos a dívida que, estupidamente, andámos a empilhar nos últimos quatro
anos. Ou, numa versão mais light, pedir-lhe para subsidiar os juros que
Portugal está a pagar pelos empréstimos da Troika... Isso é que era
solidariedade. Ou não?
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 19-10-2012
Grifos: JP
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