Reinaldo Azevedo
O ministro Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal, esteve no lançamento de “O País dos Petralhas II” na
Livraria Saraiva do Shopping Pátio Brasil, em Brasília, na terça-feira.
Tratou-se de um encontro público, ao qual compareceram mais de 400 pessoas. Não
comentei que o ministro esteve presente porque pareceria jactância. Ah, sim:
aproveito para informar que a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) também foi. Como
não era uma reunião clandestina, como o encontro foi fartamente fotografado
pelos leitores, como há filmes na Internet, é evidente que a informação de que
Mendes esteve presente iria circular. Ele não foi lá escondido. Aliás, ao
chegar, foi entusiasticamente aplaudido.
O subjornalismo de aluguel da
rede e os petralhas decidiram fazer barulho a respeito: “Olhem que absurdo! O
ministro foi ao lançamento do livro do Reinaldo Azevedo! Como pode?”. Segundo
um texto delinquente que circula por aí, que me foi enviado por um leitor, meu
livro “criminaliza o PT”. Não tenho o que fazer com a ignorância alheia. Se as
pessoas não conhecem o sentido do verbo “criminalizar”, fazer o quê? O PT é
apenas um dos temas de “O País dos Petralhas II”, mas está longe de ser o
principal. Dos 113 artigos ali coligidos, só 22 dizem respeito ao partido e sua
experiência de poder. Mas isso é o de menos. Vamos ao ponto.
Ir ao lançamento de um livro
não implica concordar com tudo o que há nele — e é certo que Mendes não
concorda. Como eu sei? O Capítulo 8, por exemplo, chama-se “De juízes e
juízos”. Trata de assuntos relativos ao Poder Judiciário. Um dos textos,
intitulado “Marcha da insensatez” (da página 313 à 318), faz uma crítica severa
a decisões tomadas pelo Supremo — algumas delas com o voto favorável de…
Mendes! Não há motivo para ele endossar a minha opinião expressa nesse texto (e
certamente em outros tantos), ou teria votado de modo diferente.
Qual é o busílis? Mendes é um
democrata, um espírito tolerante, alguém que acolhe a diferença — como sou.
Esteve lá porque temos uma relação profissional cordial, não porque pensemos a
mesma coisa: ministros do Supremo falam com jornalistas, jornalistas falam com
ministros do Supremo. Os petralhas — que combato, sim! — fizeram isto com o
Brasil: uma autoridade não pode ir a um evento público de lançamento de um
livro de alguém que eles têm como “inimigo” sem que isso seja considerado uma
afronta.
Que gente curiosa! Que gente
exótica! A ida do ministro ao lançamento do meu livro é vista como a adesão ao
antipetismo: “Como pode fazer isso em meio ao julgamento?”. Pois é…
Lembro, por exemplo, que, por
cinco votos a quatro, o Supremo rejeitou a denúncia contra o ex-ministro
Antonio Palocci no episódio da quebra do sigilo do caseiro Fracenildo. Um dos
votos contrários — e, pois, favorável a Palocci — foi de Mendes. Expressei a
minha discordância no blog. Os petralhas acharam que ele agiu certo. Quando um
integrante do STF vota em favor de um membro do partido, é apenas um homem
isento; quanto vota contra, é ou um golpista ou um traidor.
Até agora, no caso do
mensalão, concordei com todos os votos de Joaquim Barbosa e Luiz Fux — que não
divergiram entre si. Os dois não estiveram na livraria Saraiva. Também não
apareceu por lá Ayres Britto, que deixou de acompanhar o relator em apenas três
votos. Mas Mendes, que já divergiu nove vezes, foi! Exigir de uma petralha que
adote a pluralidade de ideias como um valor é como oferecer ambrosia a
ruminantes. Eles gostam é de capim. É da sua natureza.
Que coisa! Mendes não pode ir
ao lançamento de seu livro sem que isso arranhe, segundo essa gente, a sua
isenção. Prova de independência dá um membro da corte quando cita, sei lá, José
Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, ou Márcio Thomaz Bastos, advogado de um
dos réus e conselheiro de Lula, como referências intelectuais. Isso já
aconteceu nesse julgamento.
Por que Mendes não iria? O
arquivo reúne o que tenho escrito sobre o julgamento. Participei de 28 debates
na VEJA.com sobre o tema. Estão disponíveis no Youtube. Desafio alguém a provar
que tenha escrito ou dito coisas que desmereçam a instituição — mesmo quando
discordo do voto deste ou daquele ou quando reprovo um ou outro comportamento.
Anteontem, o ministro Ayres
Britto, que tem atuado com correção, numa de suas considerações, exaltou a pena
de alguns jornalistas. Pôs na lista Janio de Freitas. Em seus delírios, este
senhor tem acusado, frequentemente, o julgamento de golpismo, associando-o ao
suicídio de Getúlio e ao movimento militar de 1964!!! Talvez o ministro ignore
as diatribes do outro, não sei. Entendo que o elogio ao jornalista seja devido
ao estilo — há quem goste… —, não às teses. Britto certamente não concorda com
a acusação de que comanda uma Casa golpista. Os petralhas devem achar a
deferência justa, isenta e legítima.
Mendes foi ao lançamento do
meu livro porque não se deixa patrulhar por vagabundos — e demonstra isso mais
uma vez. Foi aplaudido. Mas também não tem medo de ser vaiado. Divergimos, sim,
em vários temas — e isso já ficou claro no blog. Mas convergimos numa coisa:
acreditamos que o direito tem de ser achado nas leis. Podem chiar à vontade.
Quem é dono da sua vontade não se deixa intimidar.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 20-10-2012
Lançamento no Rio de Janeiro:
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