Rolando Silva

Nada agradável pegar o jornal
de manhã e ler a notícia que você poderia ter morrido há 30 anos atrás. Pois é,
poderia, mas não morri, e estou aqui vivinho pra contar. Nunca escondi de ninguém
que nunca gostei de voar para a África do Sul. Não gostava e não fazia questão
de fazê-lo. Era um voo complicado, voava-se 9 horas e meia sobre o oceano e era
um voo crítico, pois voávamos com poucas chances de pouso, caso precisássemos.
O voo em si era complicado, acordávamos cedo, decolávamos às 09h30 direto para
Joanesburgo, chegávamos lá às 22 hs, dormíamos e no outro dia bem cedo,
decolávamos para a Cidade do Cabo, onde avião lotava e assim vínhamos embora
pro Rio de Janeiro onde pousávamos às 17h50. Sem dúvida alguma, muito
estressante. Naquela época a empresa ainda não tinha classe executiva e o avião
só tinha duas cabines econômicas e uma primeira classe com 12 lugares. Como eu
era novo de internacional, sempre sobrava na cabine do meio, pois ninguém
queria voar perto do chefe. E naquela época eu não tinha o conhecimento e
desenvoltura de lidar com vinho e queijos franceses como tenho hoje. Claro que
conhecia o Sr. Leonel Brizola, figura benquista, e amada pelos variguianos.
Como eu era bem jovem, e gaúcho tem mania de chamar os jovens de guris, o mesmo
me chamou e pediu que pedisse na 1ª classe um sanduíche de gorgonzola e um copo
de chambertin, um vinho bourgogne muito bom que servíamos na época, só que
quando cheguei na primeira eu troquei, pedi um copo de gorgonzola e um
sanduíche de chambertin, o que provocou risos em todos. Logo depois eu fui
descansar na última fileira do lado direito, e acordei com um alvoroço, Lembro
que o Sr. Brizola estava sentado do lado direito da aeronave, fileira com dois
lugares, e logo depois do toalete, a 1ª classe como sempre estava lotada, só
soube pelo comandante, que um avião inglês tinha solicitado a nossa
identificação.

Mas nunca soube, até uns cinco anos atrás, por um comandante
britânico que ele quase ordenara a derrubada de um avião do Brasil. Pô!
coincidência, eu escrevi sobre isso, poucos meses atrás, quando escrevi um
artigo intitulado “Eu e a África” onde conto alguns fatos que aconteceram
comigo no continente africano. Graças a Deus eu tive a sorte de escapar vivo
dessa, mas, infelizmente, logo depois, um jumbo da Korean Airlines, vindo de
Seoul, lotado de seres humanos inocentes, foi abatido quando, por engano,
entrou no espaço aéreo russo. Talvez a história da guerra tivesse mudado se o
meu avião tivesse sido abatido, mas duvido muito. A gente se esquece rápido
demais.
Título e Texto: Rolando Silva,
05-10-2012
Lendo seu texto, Rolando, volto a sentir saudades das nossas histórias...
ResponderExcluirAbraço afetuoso,