sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Ocidente aperta as cravelhas contra o Irã

Washington aumenta a pressão da guerra econômica contra o Irã
Thomas Erdbrink e David E. Sanger
Por toda a cidade de Teerã – uma cidade cuja reunião metropolitana reúne aproximadamente 14 milhões de pessoas – há uma febre de construção, com engenheiros locais e empreiteiros chineses se apressando para concluir uma rodovia multinível, com ruas cheias de tapumes de propaganda alinhados promovendo os mais recentes ‘tablets’, máquinas de lavar e outros produtos fabricados por empresas sulcoreanas, como a Samsung e a LG. Os supermercados estão completamente estocados e abastecidos, e parece que até novos restaurantes e lojas de ‘fast food’ estão sendo inauguradas todos os dias, para as quais não faltam consumidores.

Presidente Mahmoud Ahmadinejad do Irã na conferência de imprensa no Cairo anteontem. Foto: Amr Nabil/AP
Ou seja, para resumir, não se pode saber se é verdade que as exportações de petróleo do Irã caíram cerca de um milhão de barris/dia, e se a queda livre da moeda tem causado enorme inflação – resultado de sanções impostas pela ONU e lideradas por americanos e europeus, bem como se isso é real e até que ponto é causado pela má gestão econômica (e política) do governo iraniano.
O Ocidente acabou de intensificar a guerra econômica um pouco mais na quarta-feira passada, impondo um novo conjunto de restrições destinadas a forçar o Irã a adotar uma forma de comércio de troca de petróleo por mercadorias, uma vez que os pagamentos em moeda pelo fornecimento do petróleo não pode mais ser enviado para contas dentro do território iraniano ou estados que possam agir como intermediários.
Um veterano do governo Obama chamou esse mais recente passo como “um significante arrocho do parafuso”, repetindo o argumento usado pela Casa Branca há quatro anos que dizia que “os mulás enfrentarão uma ‘escolha difícil’ entre prosseguir com seu programa nuclear ou reviver sua renda com o petróleo, o fluido vital da economia do país”.
Todavia, as autoridades de Washington parecem acreditar pouco nas escassas evidências das ruas de Teerã — de que mesmo as novas e restritivas sanções impostas tenham alguma chance de forçar o ‘líder supremo’ do Irã, Ali Khamenei, a um acordo impactante – esperado pela maioria dos americanos e europeus e, até mesmo por alguns israelenses – capaz de reverter a crise. 

Teerã tem 14 milhões de habitantes e é uma das maiores metrópoles do planeta
As sanções, apesar de fontes de constante reclamação e de piadas mórbidas, não desencadearam motins de preços ou de oposição séria ao governo iraniano. “Na verdade, o ano passado não foi de todo ruim”, como disse Saeed Ranchian, 39, um comerciante de perfumes em ‘Grand Bazar’ de Teerã, outro dia, enquanto ele estava tomando chá e vendo a massa de compradores passeando pelas calçadas recém-pavimentadas.
Cercado por frascos de colônias com nomes estrangeiros elaborados, como a ‘Le Chevalier Primero’, o Sr. Ranchian admitiu que “com os preços dobrando e a moeda iraniana despencando em seu poder de compra, seria de esperar que as pessoas comprassem menos. Mas, no Irã, quando os preços sobem, as pessoas começam a comprar mais, temendo preços ainda mais elevados nos dias seguintes", disse ele, acrescentando com uma risada que a economia do país "tem regras que ninguém entende"...

Sinais de um fascismo islâmico estão em toda a parte, no Irã.
Autoridades do governo Obama ficaram decepcionadas com uma nova análise, preparada para o presidente e sua equipe, que pinta um retrato do líder supremo se mostrando assim tão alienado do que está a acontecer com as receitas petrolíferas de seu país e dizendo a visitantes que “as sanções estão prejudicando mais aos Estados Unidos do que fazendo o Irã sofrer”.
"As pessoas podem estar sofrendo no Irã", disse um alto funcionário envolvido na estratégia do Irã, na semana passada, “mas o líder supremo não é, e ele é o único que conta. O povo não tem muita importância”...
Os contornos de um acordo nuclear pareciam claros há meses: havia certa iminência de um acordo pelo qual o Irã limitaria o número de centrífugas enriquecedoras de urânio, um limite para a quantidade de combustível enriquecido em mãos iranianas, e um acordo para enviar seus estoques mais potentes – o material que pode ser convertido rapidamente em combustível para bombas nucleares – para fora do país.
Além disso, o país islâmico teria de concordar em expor seu trabalho nuclear, passo a passo à inspeção da AIEA, incluindo qualquer tecnologia de armas anteriormente negada à supervisão dos inspetores internacionais. Em troca, o Irã receberia um reconhecimento de que ele tem o direito de enriquecimento nuclear para fins pacíficos, e um levantamento gradual das sanções. Os iranianos têm insistido que as sanções têm que ser suspensas, primeiro.

A população jovem imita os hábitos ocidentais, mas suas atitudes são combatidas com rigor pelo estado
Ao invés disso, o Irã anunciou na semana passada que iria implantar uma nova geração de centrífugas, de quatro a seis vezes mais poderosas do que as da geração atual. E, mesmo que os Estados Unidos, seus sócios europeus, Rússia e China, tenham concordado em retomar as negociações com os iranianos no final do mês, tais governos têm baixas expectativas com relação aos resultados.
"Os iranianos não querem tais negociações e é difícil imaginar qualquer tipo de acordo antes de suas eleições", em junho, disse um alto funcionário, referindo-se à eleição presidencial que se aproxima. "Talvez eles tenham que passar por mais uns dois anos de sofrimento e dor"...
R. Nicholas Burns, que, como subsecretário de Estado, ajudou a pressionar através de muitas das primeiras resoluções de sanções contra o Irã durante o governo Bush, disse: "Mesmo as duras sanções de Obama por si próprias não devem funcionar, uma vez que Khamenei é como um cavado obstinado. "O Sr. Burns acrescentou que, para a diplomacia ter sucesso", os EUA devem continuar a ser pacientes e se comprometerem com as negociações diretas com os níveis mais altos das partes envolvidas"
Mas, acrescentou ele, referindo-se ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, "em última análise, tanto Obama como Netanyahu também precisam fazer ameaça de força para aumentar a credibilidade de Teerã. Combinado com as sanções, tal ameaça pode ser a forma mais eficaz para convencer o Irã a aceitar um acordo, pacífico e negociado".
Isto não significa necessariamente que essas sanções tenham sido inúteis para produzir qualquer efeito. Com a suspensão de todas as transações financeiras – o que torna extremamente difícil para os iranianos fazer pagamentos no exterior – a Europa, pela primeira vez, está a boicotar a compra de petróleo cru do Irã, que deixou de gerar uma renda de 4 bilhões de dólares ao país passando para algo em torno de 800 milhões dólares/mês. Tais sanções sobre transações financeiras também forçaram o Irã a se engajar numa desfavorável troca comercial de petróleo por bens com seus maiores clientes, China e Índia. Produtos chineses e remédios da Índia são destaques em lojas e farmácias de todo o país.
E agora a engenhosidade econômica iraniana será testada novamente. Sob a nova ofensiva, os Estados Unidos estão a apertar as regras que regem os países que se têm permitido manter a compra de petróleo iraniano, até quando eles mostrarem que estão parando de fazê-lo. A partir de agora, quando a China, o Japão, a Coréia do Sul e a Índia, entre outros, forem pagar o petróleo fornecido pelo Irã, serão obrigados a depositar o montante numa conta bancária local, que o Irã pode usar apenas para comprar mercadorias no país.
É uma forma de impedir que dólares sejam enviados ao Irã, mesmo através de terceiros. Segundo a lei americana, aos violadores será negado o acesso ao sistema bancário dos Estados Unidos, mas, como uma questão política, é difícil imaginar que a lei já esteja sendo aplicada. Enquanto isso, o presidente Mahmoud Ahmadinejad pediu ao Parlamento que aprovasse a emissão e distribuição de mais dinheiro para a maioria dos iranianos como uma espécie de almofada para tempos mais difíceis que virão. Ou seja, a moeda está em queda livre, os preços subindo sem parar, mas o governo distribui dinheiro o suficiente para que o povo não sinta tanto tais amarguras...
“Certamente, a situação poderia estar muito melhor, e as pessoas estão esticando seus limites financeiros”, disse o Sr. Ranchian. “Mas, por ora, pelo menos, elas estão entendendo”.
 “A maleabilidade da economia iraniana pode surpreender os ocidentais. A forma como a economia iraniana está estruturada, com fortes ligações entre os órgãos estatais e empresas semiestatais e privadas, ajuda a proteger o país”, disse Saeed Laylaz, um economista e colunista do jornal Sharq, que critica o governo sem, no entanto, se opor abertamente ao regime. O Sr. Laylaz, que passou vários meses na prisão depois dos protestos de 2009 contra a reeleição – que muitos no país consideram fraudadas – do presidente Ahmadinejad, explicou como os importadores e exportadores iranianos estão mudando constantemente entre a compra e venda de produtos, e lucrando com as taxas de câmbio. O comércio regional é, por causa do baixo valor do ‘rial’ - a moeda do Irã – “algo que está fazendo com que alguns ganhem fortunas hoje em dia”.
Outros são mais pessimistas, dizendo que os efeitos das sanções ainda não foram totalmente sentidos. “Se as sanções, somadas à má administração do regime e à inflação, continuarem, naturalmente no futuro vamos encontrar sérias dificuldades”, disse Mohsen Farshad Yekta, um professor de economia da Universidade de Ciências Econômicas de Teerã.
Por ora, os assessores de Obama parecem satisfeitos com o impasse. Acreditam que o aiatolá Khamenei vai prosseguir com o programa nuclear da forma mais acelerada, evitando cuidadosamente ultrapassar, pelo menos por ora, um estoque de mais de 250 kg de urânio medianamente enriquecido – o suficiente para fazer seus geradores produzirem eletricidade, mas insuficiente para a ditadura islamofascista produzir não mais que uma bomba nuclear.
Mas, para tentar demonstrar a sua seriedade, os militares americanos e os de suas duas dúzias de aliados, estão se exercitando militarmente, esta semana, no Golfo Pérsico, praticando táticas e técnicas de como interceptar tecnologia e armas proibidas que possam se dirigir, tanto para como de, portos iranianos.
Subtítulo e Texto: Thomas Erdbrink e David E. Sanger para o "The New York Times" 
Título e Tradução: Francisco Vianna

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