Na mesma medida em que se dá a
não introdução de autores regionais e locais nas salas de aula do ensino
brasileiro, somos sempre surpreendidos por adolescentes e jovens que se
espantam quando nos conhecem pessoalmente, uma vez que têm no pensamento a
ideia preconcebida de que os poemas e romances publicados são obras de autores
mortos. Ou seja, tanto pela distância existente entre os autores e os leitores
quanto pelo vício de se trabalhar quase que apenas com escritores e poetas de
tempos remotos, os estudantes são levados a imaginar que habitamos uma
sociedade de autores mortos, como se não houvesse ninguém mais escrevendo
alguma obra de real valor literário nos dias de hoje.
Talvez por nossa condição de
poeta e escritor independente, sinônimo de quem produz o seu trabalho literário
à própria custa, somos levados a ter preferência e gosto pela leitura de livros
desprovidos da chancela de selo editorial ou escritos por autores pouco
conhecidos, mas ainda assim não menos importantes e criativos que os grandes
figurões, que sozinhos não conseguem preencher todos os espaços do ambiente
literário, principalmente em um país como o Brasil, no qual constatamos a
existência de muitas cidades sem uma biblioteca sequer.
Ao contrário do que muitos
imaginam, podemos encontrar uma literatura bastante rica, bem ilustrada e
editada com leveza (e arte gráfica) em grande parte das obras independentes,
que mesmo em pequenas tiragens e prejudicadas pela mídia devotada à propagação
do chocante, ou de conteúdo demolidor de normas e conceitos relevantes à
harmônica convivência social, alcança sucesso cada vez mais solidificado, ainda
que desassociado dos padrões de alto índice de venda e fama, fenômenos que têm
pouco a ver com o contentamento de sermos bem-sucedidos naquilo que nos
dispusemos a realizar.

Cantando idealisticamente o
seu contracanto em relação ao atual estado de coisas, a poetisa Clevane Pessoa
derrama-nos seus “Lírios sem delírios”, no poema “O sol”: Viciada em beleza,/
esqueço enxurradas,/ a esgarçada faixa de gaze em Gaza/ onde o sangue mancha/ a
pureza das crianças e dos inocentes,/ a fome dos que sentem sede,/ a sede dos
que esperam alimento,/ os bombardeiros, / quando o sol, ave gigantesca de
ouro,/ estende as asas na manhã de janeiro/ e pulveriza-me para que eu retome/
as esperanças/ no ano que se inicia...
Clevane Pessoa é mais que
escritora, mais que poetisa, pois tem o ânimo de ativista cultural, podendo ser
vista em muitos grupos e movimentos do âmbito literário, com desprendimento e
disposição em apoiar os autores que a procuram, num procedimento determinante
ao granjeio de um punhado de bons amigos, conforme ela bem diz em seu “Poemeto
da amizade”: amigos são rapadura,/ dizem coisas cor de mel/ transmitem sua
ternura/ por vírus bons de papel.../ Muito embora virtualmente,/ sentimos o seu
carinho: batem teclas para a gente/ Com bico de passarinho...”
Para os que têm apreço pela
leitura, livros como “Lírios sem delírios”, de Clevane Pessoa, se transformam
em exponencial fonte de alimento, permanecendo por tempo indefinido à mesa de
nossa mente.
Título e Texto: Carlos Lúcio Gontijo, Poeta, escritor e
jornalista, Secretário de Cultura de Santo Antônio do Monte/MG
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