Uma das situações graves com
que o governo se depara é a ausência de oposição. No Parlamento, os três
partidos afastados da governação, discordam. Para se oporem, teriam que opor
algo que não têm. A discordância não obriga a contrapor.
É o que temos. E a discordância
apoia-se no pilar da insatisfação. Mas a gravidade da situação não permite a
possibilidade - em caso de conquista do poder - de se obter a satisfação, o que
coloca a interrogação: qual a finalidade? Nenhuma, pois a importância está no
processo. Assim, todas as contradições são possíveis sem preocupações
“lógico-formais”, com garantida simbiose ao processo.
Temos por exemplo a acusação a
Cavaco de falta de isenção, esquecendo os elogios realçando essa isenção em
declarações anteriores. Por nada haver a contrapor à narrativa presidencial,
nem alternativa conveniente, ataca-se o carácter.
Recordo como o PCP moveu uma
guerra à “Lei Barreto”, para, a seguir, mover a guerra para que não se alterasse a dita
lei; ou, desde sempre um partido homofóbico, mas combatendo o moralismo
burguês; sendo contra os despedimentos, mas despedindo sempre que necessário,
desde que esse trabalho seja a expensas do partido. Para a esquerda marxista -
tal como Marx e Lenine que nunca explicitaram o que seria a sociedade socialista,
mas tinham-na como objectivo - o importante é o processo de destruição do
adversário, sem qualquer preocupação de coerência: exigindo mudanças e
contestando todas as tentativas de mudar.
Ao estilo “parto” sem dor,
insistindo na possibilidade de curas rápidas para doenças prolongadas.
O caso do PS é mais peculiar:
aprova e deseja a mudança, com a exigência que nada mude. Pois a classe média
que os apoia (desde funcionários públicos a trabalhadores de empresas públicas
e ex-públicas com o “cordão umbilical“ ligado ao Estado), aceita continuar o
empobrecimento, desde que lhe seja garantida a protecção. E está ter êxito,
pois as últimas propostas do governo apontam nesse sentido. As “políticas” de
crescimento são esse sinal. O Estado, para que a economia cresça, só teria que
a deixar crescer: sem se intrometer e deixando de a “asfixiar”.
Mas, azar o nosso, tudo se
manterá excepto a pobreza. Que será maior... conforme os desígnios da
“oposição”.
Título e Texto: Alberto de Freitas, 26-04-2013
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Mural na Rua Júlio Dinis,
Porto, 1976/1977, Centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra
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