José Carlos Bolognese
A data se comemora, opondo
algo que é infinito - o trabalho, ao seu agente principal que tem data de
validade - o trabalhador. Pelo menos no trabalho assalariado, nenhum homem ou
mulher pode ficar indefinidamente fazendo a mesma coisa até o seu último suspiro.
Exceto pelos profissionais diferenciados, não submetidos à rotina do trabalho
comum, não há possibilidade de permanência muito longa além de certa idade. O
determinismo da obsolescência humana obriga a sociedade a tratar as pessoas
conforme suas necessidades e capacidades em cada fase da vida.
A sociedade – até quem não
trabalha – não pode viver sem o trabalho. E se tem de haver trabalhadores,
certas condições se impõem, naturalmente. Porém, a mais valorizada é a condição
de produtividade do trabalhador, fase em que, bem ou mal, ele recebe salário e
tem direito, ainda que muitas vezes não respeitado, a ser protegido por um
conjunto normas a que pode recorrer sempre que necessário. Já o trabalhador
desempregado enfrenta uma barra bem mais pesada. Especialmente nas fases de
pré-aposentadoria. Mas o trabalhador aposentado não se sai melhor na foto. Não
é preciso falar aqui dos que se aposentam pelo INSS e têm a ousadia de viver
muito. Claro que a solução seria os fundos privados de complementação de aposentadoria
que a partir de 2006 convivem com o fantasma do Aerus da Varig, evidenciando a
insegurança jurídica em que vivemos nesse país. Mas nos comícios do Dia do
Trabalho não se fala nisso.
O Dia do Trabalho deveria ser
de homenagem a todos os trabalhadores atuais, os do futuro e os do... passado!,
mas não é assim. É apenas mais uma data que se usa para montar palanques de
demagogia e reforçar planos de eleições e reeleições, nada mais.
Obsolescência Programada
Nas primeiras décadas do
século passado, com o acesso massivo ao uso da eletricidade, os fabricantes de
lâmpadas perceberam que a longa durabilidade de seus produtos não era
exatamente um bom negócio. Decidiram então formar um cartel estabelecendo a
vida útil máxima das lâmpadas para cerca de três mil horas. Com isso,
pretendiam manter um ciclo ótimo de produção e substituição que, segundo eles,
era também muito bom para os trabalhadores no sentido da regularidade do nível
de emprego. Penso que este conceito é até mais forte hoje, do que na sua origem.
Basta ver o que se tornou a sociedade de consumo através da produção em massa e
da estonteante velocidade da tecnologia em tornar obsoletos os produtos,
contando com um marketing dedicado a comandar a vontade do consumidor. Mas a
vantagem nos dias atuais é que temos muito mais reciclagem.
Assim algo que se adquire hoje pode ter muito material descartado a poucos meses atrás. Ironicamente, percebemos que até as coisas – produtos industriais e matéria-prima – são tratados com mais critério do que gente de carne e ossos; os aposentados por exemplo. A reciclagem do ser trabalhador é bem menos abrangente do que a que se permite com produtos industriais. Pior ainda quando expira sua data de validade e, como uma tesoura velha, o trabalhador “não pega mais corte”, acabou-se. Nessa hora os palanques silenciam, as luzes se apagam e o circo da demagogia migra para outras datas no calendário que sirvam mais a seus projetos de poder eterno.
Assim algo que se adquire hoje pode ter muito material descartado a poucos meses atrás. Ironicamente, percebemos que até as coisas – produtos industriais e matéria-prima – são tratados com mais critério do que gente de carne e ossos; os aposentados por exemplo. A reciclagem do ser trabalhador é bem menos abrangente do que a que se permite com produtos industriais. Pior ainda quando expira sua data de validade e, como uma tesoura velha, o trabalhador “não pega mais corte”, acabou-se. Nessa hora os palanques silenciam, as luzes se apagam e o circo da demagogia migra para outras datas no calendário que sirvam mais a seus projetos de poder eterno.
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Foto: Nabibela |
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 30-4-2013
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