Enquanto oposição, o PT se
especializou na tática do "quanto pior melhor", exercitada à exaustão
contra os governos que o antecederam.
É notável a contradição entre
aquela postura intransigente --e tantas vezes injusta-- e o desapreço ao
debate, com resistência à crítica e ao contraditório, depois que assumiu o
poder. A esse traço somou-se um viés autoritário latente.
Quem, afinal, imaginaria o PT
defendendo o controle da imprensa ou o casuísmo de uma revisão legislativa para
impedir a formação de novos partidos e, assim, cassar adversários diretos da
futura disputa presidencial?
Quem acreditaria no patrocínio
da esdrúxula tentativa de subordinação do STF aos interesses da maioria
governista no Congresso? Ou que veria nomes do partido apoiando a tese de
limitação do poder investigativo do Ministério Público?
Faço essa reflexão motivado
pelo significado dos 30 anos da emenda Dante de Oliveira, que buscava
restabelecer as eleições diretas e a democracia no país. Resgatando na memória
os momentos que se seguiram à enorme frustração da derrota, constata-se que,
para o PT, os interesses do partido estiveram sempre à frente do Brasil e das
causas dos brasileiros.
Para quem não se lembra,
recusaram-se a apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral e expulsaram do
partido os parlamentares que, tocados pelo sentimento nacional, votaram com
suas consciências no único caminho imediato possível para derrotar o regime de
exceção.
Depois, se colocaram contra a
nova Constituição e levaram ao limite da deslealdade uma oposição ofensiva
contra aquele que é hoje um dos mais prestigiados aliados do governo, o
ex-presidente José Sarney.
Faltaram à convocação de
Itamar Franco em um momento delicado da vida nacional, após o impeachment de
Collor.
No período FHC, opuseram-se a
tudo o que era importante ao país – o Plano Real, a Lei de Responsabilidade
Fiscal, o tripé da política macroeconômica. Até os primeiros programas de
transferência de renda foram criticados como esmolas para aliciar os mais
pobres.
Vê-se hoje que o discurso do
partido durante anos não refletia suas convicções. Afinal, ao terem a
oportunidade de mudar o que combatiam, aliaram-se aos adversários de antes,
mantiveram intacta a política econômica herdada, adensaram os programas sociais
que criticavam e agora realizam as privatizações que antes denunciavam.
Quem não entende as
contradições entre o PT de ontem e o de hoje busca a coerência do partido no
lugar errado.
O PT faltou ao Brasil em
vários momentos da nossa história. Tem defendido causas que não atendem aos
interesses do país. Mas uma coisa é preciso reconhecer: o PT nunca faltou ao
PT.
Aécio Neves é senador pelo PSDB-MG. Foi governador de Minas Gerais
entre 2003 e 2010. É formado em economia pela PUC-MG. Escreve às
segundas-feiras na página A2 da versão impressa, Folha de S. Paulo, 29-04-2013
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