terça-feira, 23 de abril de 2013

Ensinamentos de 39 anos de democracia:

Helena Matos
1) Melhor discurso político: o esférico-legislativo. A relação dos governantes portugueses com o Diário do Governo /República é um ‘case study' da Antropologia: promessas e mais promessas alinham-se em milhares de páginas sob a forma de leis, decretos, despachos e portarias. É o pensamento mágico no seu esplendor.
Nos primeiros anos da democracia este exercício era facilitado pela comparação com a ditadura. Depois a memória da ditadura foi-se apagando e a democracia falhando. Agora que não há nada para oferecer, os partidos democráticos não têm discurso. Afinal eles basearam a superioridade das suas propostas não no facto de elas serem exequíveis e democráticas mas sim porque eles enquanto partidos europeístas davam melhores garantias de acesso aos fundos comunitários que as permitiam concretizar. O desespero da geração do 25 de Abril é que desta vez não basta fazer um golpe ou escrever uma nova verdade sob a forma de lei para que a situação mude: o esférico-legislativo não sabe onde ir buscar o dinheiro para sustentar as palavras.
2) Melhor investimento político: ter militado na esquerda radical, passar em seguida por uma crise de identidade e por fim chegar ao PS. Regra geral, o PS ganha um conjunto de egos e a linha centrista do partido mais um problema pois estas almas hiperactivas nunca deixam de acalentar o sonho de uma frente de esquerda que una sob uma mesma bandeira os seus diversos afectos. Actualmente, e beneficiando do efeito catapulta no ataque à liderança de Seguro levado a cabo por aquele grupo que os jornalistas adoram e que hesita entre Costa e Sócrates, tudo indica que o BE será o novo MES do PS. E isto não é uma boa notícia para o PS e muito menos para o País.
3) Melhor aposta política: integrar o CDS e esperar que o telefone toque. A chamada tanto pode vir do Largo do Rato como de São Caetano à Lapa. O CDS ao certo não sabe ideologicamente o que é mas na prática funciona como um conjunto de personalidades cuja qualidade acima da média lhes permite ter uma influência muito superior à do seu eleitorado. Resta saber se este culto pelos jogos de bastidores e pelas fugas de imprensa não comprometerá por um breve período este capital único do CDS: a polivalência nas alianças.
4) Melhor destino político: ser líder do PPD/ PSD mesmo que durante um breve tempo. Quanto mais derrotado e enxovalhado o líder laranja deixa a liderança mais rapidamente passa à qualidade de sábio.
5) Melhor partido para governar Portugal: o PS. Na verdade o PS é o único partido que em Portugal governa pois o PPD/PSD gere. Daí que para os sociais-democratas a sua legitimidade no poder se sustente não no voto que o eleitorado deu ao seu programa e ideologia, como acontece com o PS, mas sim no imaginário em torno da memória dos governos Cavaco Silva a que se juntou agora o argumentário da inevitabilidade do cumprimento de um programa de ajuda externa. Sem ideologia e sem nada de muito relevante a dizer ao povo a não ser que mudou de líder ou que vai fazer melhor, o PSD, ao contrário do PS, não tem um discurso de poder. Tem apenas uma lista de exercícios. O que por vezes dá jeito mas é manifestamente poucochinho.
Título e Texto: Helena Matos, Diário Económico, 23-04-2013

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