terça-feira, 30 de abril de 2013

A cascata de "ses"

Helena Matos
António José Seguro conseguiu evitar o que nas suas palavras definiu como a radicalização do partido - o que é uma excelente opção para o PS e uma péssima notícia para Passos Coelho pois para azar dos sociais-democratas e também da esquerda radical, o PS ganha eleições ao centro.
O líder dos socialistas mostrou-se hábil nas lutas internas - relegou os socratistas para parte incerta, aposta em que António Costa fique refém do seu tacticismo e, pelo menos por enquanto, Francisco Assis não se atravanca no seu caminho. Quanto ao resto Seguro deposita-se completamente nas mãos dos outros o que leva a que não tenha estratégia mas apenas uma lista de desejos: assenta boa parte do seu programa de saída da crise na renegociação do Memorando que o seu próprio partido negociou, subestimando o facto de que essa renegociação está longe de depender apenas de Portugal. Confrontado com esta evidência diz há que fazer uma outra Europa. E assim já vamos em dois "ses" e nenhum deles de pequena monta: o da renegociação e o de novas lideranças na Europa, coisa que para os socialistas se traduz por Martin Shulz se tornar o próximo presidente da Comissão Europeia.
No País a cascatas de ‘ses' de Seguro não é menor: se Portas fizer cair o Governo, o País irá para eleições que provavelmente serão ganhas pelo PS. Não só colocar qualquer estratégia dependente de Portas é um exercício de alto risco como os ‘ses' não acabam aí para Seguro: ganhando muito provavelmente sem maioria absoluta, Seguro conta que teria o apoio do CDS e do PSD. Nas suas contas o PSD uma vez derrotado livrar-se-ia de Passos Coelho e escolheria uma nova liderança disponível para avalizar o executivo socialista. Aqui chegados já vamos em meia dúzias de ‘ses' dos quais o único em que Seguro tem intervenção directa são as eleições legislativas. E assim, de ‘se' em ‘se', chegamos à figura do Presidente da República que numa versão institucional dos atalhos da informática, se tomasse a decisão de dissolver a Assembleia da República permitiria a Seguro chegar mais rapidamente a eleições no País, numa espécie de ‘remake' do golpe de Jorge Sampaio que levou à queda do governo de Santana Lopes.
A irritação socialista por Cavaco Silva não cumprir o "se" que lhe destinaram no Largo do Rato - derrubar o Governo e reforçar a actual liderança rosa - levou a que no último 25 de Abril Seguro não tivesse sequer tirado benefício das críticas feitas por Cavaco ao funcionamento das instituições europeias, críticas essas muito em linha com algumas das teses do líder socialista. Embarcando na tresleitura que a ala socratista do PS fez desse discurso, sobretudo nos parágrafos sobre a criação de uma crise política que em boa verdade mais pareciam dirigidas à estontecida coligação governamental e muito particularmente ao CDS que como é óbvio não caiu no engodo de se dar por achado e aplaudiu o discurso presidencial.
Em resumo, a melhor definição da estratégia de Seguro foi dada há trinta anos numa canção dos Salada de Frutas: "Se o imposto não subisse/ Se o emprego não fugisse/ Se o presidente sorrisse/ Outro galo cantaria um dia.../ Se cá nevasse fazia-se cá ski..."
Título e Texto: Helena Matos, Diário Económico, 30-04-2013

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