quarta-feira, 24 de abril de 2013

Miguel Gonçalves. "Muitos dos desempregados não querem trabalhar ou são maus a fazê-lo"

Pedro Rainho, jornal "i"
O “embaixador” do programa Impulso Jovem confessa que a polémica à sua volta já deixou a mãe em lágrimas, mas não desiste.

Foto: Ricardo Castelo
Miguel Gonçalves, a escolha do governo para “embaixador” do programa Impulso Jovem (IJ), não tem medo de ser polémico. A prová-lo, a afirmação de que há de-sempregados que não trabalham porque não querem. Durante quase uma hora de entrevista, de Braga, via skype, por duas vezes Miguel Gonçalves vira o portátil para mostrar a equipa com quem trabalha diariamente na empresa que fundou há dois anos, Spark. O discurso sai à velocidade do pensamento. A mesma velocidade com que Miguel Relvas, que o convidou para o cargo, desapareceu do governo.

Ainda é “embaixador” do programa Impulso Jovem?
Sim, mantenho esse trabalho e estou a apresentá-lo às universidades. Esta semana já estive com quase 500 pessoas a apresentar o programa.

Estava à espera da saída do ministro Miguel Relvas do governo apenas uns dias depois de o ter convidado para esse cargo?
Não estava nada à espera, não sabia. Foi uma situação estranha, desconfortável. Tudo o que é política, não percebo muito e foi um bocado imperceptível, no início.

O que o levou a aceitar o cargo?
A nossa empresa está ligada a este ramo de actuação e temos feito isto com muitas centenas de pessoas, muitas oportunidades de trabalho criadas. Esta oportunidade pareceu-me evidente para fazer chegar a mensagem e o programa ao mercado. Aquilo tem um potencial transformativo muito grande e não estava a ser capitalizado.

Disse que o IJ era uma ferramenta para mudar Portugal. Em que sentido?
Este programa tem um valor muito significativo para permitir a quase 100 mil jovens entrar no mercado de trabalho. Muda a vida deles, muda a vida das famílias deles e muda a vida das empresas para onde forem trabalhar. E, ainda por cima, o valor que está disponível vem de fundos comunitários. Se nós não investirmos o dinheiro, temos de o devolver.

Olhando para os mais de 10 mil candidatos, o que pensa de esta ser a única forma para entrarem no mercado de trabalho?
Essa não é a leitura certa.

Que leitura faz?
Há duas leituras fortes que podem ser discutidas. Ponto número um: parece- -me grave que, existindo 161 mil jovens no desemprego, só 10 mil se tenham inscrito. O programa claramente não chega ao mercado, às empresas e aos jovens.

Não está a ser comunicado?
Começou a ser comunicado há pouco tempo. Ponto número dois: o que isto nos diz não é que estes jovens têm de se inscrever nisto para alavancarem a sua carreira. É a mesma coisa que ir aos saldos. Não é por um artigo estar em saldos que faz dele um melhor artigo. É o mesmo, só que naquela época específica, por um conjunto de condições, é mais barato comprar aquele produto. Aqui é exactamente a mesma coisa. Isto é uma vantagem muito forte para empresas, porque tem benefícios financeiros enormíssimos.

Que percentagem de jovens vai continuar nas empresas, no fim do estágio?

O programa não termina aqui. Supõe que eu tenho um estágio no i durante um ano. Vou ter um salário, o i vai pagar--me apenas a TSU. O que vai acontecer depois do estágio, se o i gostar do meu trabalho, é que vai ter apoios à minha contratação. Ou seja, não é uma coisa que se circunscreve àqueles 12 meses, tem continuidade depois.

E no fim do estágio, quantos ficam?
Seria astrologia, estar a falar sobre isso. Mas nem que sejam, ao limite, 50%, já é uma coisa com potencial transformativo. A grande oportunidade do IJ - e é isto que estou a transmitir ao mercado - é que tens a possibilidade de ir para uma empresa, durante um ano.

Isso não é uma perversão do mercado? Ter pessoas a preço de saldo a desempenhar funções que são necessárias à empresa.
Há aqui um conjunto de questões, sobre se isto são ou não almofadas sociais, se isto é ou não perverso. Isso seria outra discussão que nos levaria para sítios imprevistos. O que me importa, neste momento, é que isto existe, está em cima da mesa, podemos trabalhar com o programa, mudar a vida destes jovens e destas empresas. Parece-me interessante pensar que aquilo que temos neste momento é isto, um programa que tem benefícios fortes e extraordinários. Porque não capitalizá-los? Apenas porque não resolve os problemas todos?

E se resolver problemas só a prazo?
Se 50% daquelas pessoas que vão fazer programas de trabalho ficarem e tiverem oportunidade de continuar naquelas organizações, aqueles 50 mudam de vida, e os outros 50 que não ficam estiveram um ano a trabalhar. Sabes que, às vezes, quando se fala de desemprego e de carreira, uma das coisas que não se discute é que há um problema grave em não trabalhar, que não é apenas não ganhar dinheiro.

Que problema é?
O custo de oportunidade que representa tu estares parado sem de-senvolver competências, sem ir ao mercado, sem aprender com pessoas mais experientes do que tu...
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A íntegra da entrevista aqui

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