Livro recentemente divulgado agita
a intelectualidade universal propondo uma nova concepção para o desenvolvimento
econômico. Nos idos da década de 70, Donald McCloskey, seu autor,
lecionava na Universidade de Chicago e encantava, com seu porte alto e cabelos
louros, as poucas meninas presentes ao curso introdutório de Economia. Era o
“boa pinta” do Departamento de Economia. Muito criativo, culto e sensível,
McCloskey enveredou cada vez mais pelos mistérios da História e da
Filosofia, diferenciando-se de seus outros colegas professores, mais ligados
aos temas duros e materiais da teoria e da política econômica.
Apesar de professor brilhante
e autor de uma produção acadêmica considerável, Donald, casado e com dois
filhos, só ganhou fama internacional quando, através de uma cirurgia
transformadora de sexo realizada em 1995, aos 53 anos, virou senhora Deirdre McCloskey.

Já bem conhecida como Deirdre,
McCloskey viria a produzir, em
2010, sua maior obra: “Bourgeois Dignity: Why Economics Can't Explain the
Modern World”, tratando da burguesia que emergia nos séculos XVII e XVIII,
concomitantemente à expansão do comércio e do capitalismo na Europa. Mais
especificamente, o autor destaca em sua obra a influência que o reconhecimento
das virtudes desta burguesia teve sobre o curso da História.
Respeitabilidade, até então privilégio da nobreza e do clero, se estendeu ao cidadão burguês, conferindo dignidade ao seu trabalho e estimulando o esforço comercial e produtivo. Daí, para a tese central revolucionária de McCloskey foi apenas um pulo. Mais que fatores materiais, como a acumulação de capital, as inovações e o comércio internacional, foi a opinião positiva que se passou a ter da burguesia o principal fator explicativo do espantoso progresso verificado a partir do século XVIII.
Respeitabilidade, até então privilégio da nobreza e do clero, se estendeu ao cidadão burguês, conferindo dignidade ao seu trabalho e estimulando o esforço comercial e produtivo. Daí, para a tese central revolucionária de McCloskey foi apenas um pulo. Mais que fatores materiais, como a acumulação de capital, as inovações e o comércio internacional, foi a opinião positiva que se passou a ter da burguesia o principal fator explicativo do espantoso progresso verificado a partir do século XVIII.
McCloskey vai um passo adiante
e credita o progresso material que se verifica hoje na China e na Índia ao
mesmo fenômeno ocorrido na Europa antiga. A liberdade para o comércio e o
empreendedorismo teriam como pré-condição o reconhecimento por toda a sociedade
de que os agentes interagindo nos mercados são virtuosos, sem o que surge todo
um sistema estatal de intervenção direta e indireta na economia inibidor do
progresso. Ideias, crenças, formando um ambiente propício, mais que
investimentos ou comércio, explicariam a explosão do crescimento econômico
verificado nestes países.
Ora, em contraste, o que vemos
agora em nosso país é que nas diversas manifestações culturais, muitas das
vezes impulsionadas por recursos estatais, empresários são sempre
caracterizados como espertalhões, sonegadores de impostos, exploradores da mão
de obra e/ou enganadores do consumidor. A classe média trabalhadora, por sua
vez, é tratada com incontido desprezo por nossa intelectualidade de esquerda,
chegando a musa petista Marilena Chaui a produzir um longo discurso explicativo
das razões de seu ódio. Então, como querer o engajamento sincero da burguesia
brasileira para o progresso, se nossa elite governante, ao retirar-lhe a
dignidade, age exatamente às avessas de tudo o que preconiza McCloskey? Fica a
questão!
Título e Texto: Rubem F. Novaes, Economista, com
doutorado na Universidade de Chicago. E-mail: rfnovaes@uol.com.br
Via Rafael Picate
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