No auge das dificuldades do
programa de resgate, em 2012, os partidos da esquerda subestimaram a capacidade
dos portugueses resolverem a crise. Agora, que é tarde para derrubar o governo,
estes partidos insistem no erro e tentam desvalorizar as boas notícias.
Quando surge uma sobre o
principal problema do País, a esquerda reage da pior forma, inventando causas
conjunturais ou até massagens nos números. Notícias potencialmente favoráveis
ao governo não passam de propaganda, sobretudo se forem verdadeiras. No caso da
melhoria do emprego, a responsabilidade é da emigração, (os emigrantes deixam
de ser activos, mas não contam no emprego), ou dos cursos de formação (esta é
extraordinária; será que não compete ao Governo fazer isso mesmo?). Enfim,
políticos com bons salários explicam a pessoas desesperadas que a melhoria da
situação inclui precariedade. Só lhes falta dizer: por favor, recusem os maus
empregos que estão disponíveis.
Como não há debate na política
portuguesa, ninguém mencionou que as estatísticas sobre emprego no quarto
trimestre mostram acontecimentos interessantes. Pela primeira vez, no nível de
escolaridade completo superior foi ultrapassado o milhão de postos de trabalho
(1023 mil). Repito: o valor é inédito e duplicou numa década. Há agora mais de
um milhão de licenciados a trabalhar, o que mostra uma alteração fundamental
que o ajustamento provavelmente acelerou. Em 2008, havia 800 mil trabalhadores
com nível de escolaridade completo superior. Em 2011, quando começou o programa
de ajustamento, eles eram 909 mil (estou a comparar os quartos trimestres). A
má notícia é que continuam a ser destruídos empregos pouco qualificados, apesar
da criação líquida de postos de trabalho prosseguir (mais de cem mil no ano
passado). Em resumo, o problema não está no desemprego jovem, mas no desemprego
dos trabalhadores menos qualificados.
Estes são os factos. O
desemprego médio em 2013 foi de 16,3%. No quarto trimestre havia 15,3% de
trabalhadores desempregados. Ao mesmo tempo, o emprego está a subir, já a
rondar 4,6 milhões. O FMI, que para variar se enganou, previa uma média de
18,2% em 2013. Um pequeno erro de cem mil empregos. Em resumo, as previsões têm
de ser revistas. A agência de notação Fitch espera uma taxa de crescimento da
economia portuguesa entre 0,8% e 1,4% em 2014. O primeiro valor do intervalo é
a previsão da troika. As taxas de juro da dívida portuguesa a dez anos
continuam em queda e já estão em 4,96%. Afinal, onde está a calamidade? Neste
cenário, continuamos a discutir praxes e quadros de Miró. Isto vem por ondas:
massacres regulares de direito constitucional, finanças públicas, pintura
abstracta.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário,
06-02-2014
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