quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Propaganda sobre emprego, e da verdadeira

Luís Naves
No auge das dificuldades do programa de resgate, em 2012, os partidos da esquerda subestimaram a capacidade dos portugueses resolverem a crise. Agora, que é tarde para derrubar o governo, estes partidos insistem no erro e tentam desvalorizar as boas notícias.

Quando surge uma sobre o principal problema do País, a esquerda reage da pior forma, inventando causas conjunturais ou até massagens nos números. Notícias potencialmente favoráveis ao governo não passam de propaganda, sobretudo se forem verdadeiras. No caso da melhoria do emprego, a responsabilidade é da emigração, (os emigrantes deixam de ser activos, mas não contam no emprego), ou dos cursos de formação (esta é extraordinária; será que não compete ao Governo fazer isso mesmo?). Enfim, políticos com bons salários explicam a pessoas desesperadas que a melhoria da situação inclui precariedade. Só lhes falta dizer: por favor, recusem os maus empregos que estão disponíveis.

Como não há debate na política portuguesa, ninguém mencionou que as estatísticas sobre emprego no quarto trimestre mostram acontecimentos interessantes. Pela primeira vez, no nível de escolaridade completo superior foi ultrapassado o milhão de postos de trabalho (1023 mil). Repito: o valor é inédito e duplicou numa década. Há agora mais de um milhão de licenciados a trabalhar, o que mostra uma alteração fundamental que o ajustamento provavelmente acelerou. Em 2008, havia 800 mil trabalhadores com nível de escolaridade completo superior. Em 2011, quando começou o programa de ajustamento, eles eram 909 mil (estou a comparar os quartos trimestres). A má notícia é que continuam a ser destruídos empregos pouco qualificados, apesar da criação líquida de postos de trabalho prosseguir (mais de cem mil no ano passado). Em resumo, o problema não está no desemprego jovem, mas no desemprego dos trabalhadores menos qualificados.

Estes são os factos. O desemprego médio em 2013 foi de 16,3%. No quarto trimestre havia 15,3% de trabalhadores desempregados. Ao mesmo tempo, o emprego está a subir, já a rondar 4,6 milhões. O FMI, que para variar se enganou, previa uma média de 18,2% em 2013. Um pequeno erro de cem mil empregos. Em resumo, as previsões têm de ser revistas. A agência de notação Fitch espera uma taxa de crescimento da economia portuguesa entre 0,8% e 1,4% em 2014. O primeiro valor do intervalo é a previsão da troika. As taxas de juro da dívida portuguesa a dez anos continuam em queda e já estão em 4,96%. Afinal, onde está a calamidade? Neste cenário, continuamos a discutir praxes e quadros de Miró. Isto vem por ondas: massacres regulares de direito constitucional, finanças públicas, pintura abstracta.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 06-02-2014

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