Cesar Maia
1. Há uma ilusão por parte dos
políticos de que grandes eventos internacionais – exclusivos – no Rio, que
mobilizam a imprensa e parcela da opinião pública, geram uma enorme vantagem
eleitoral na eleição seguinte. Essa é uma ilusão. Não que quem governa
obrigatoriamente tenha que perder as eleições, mas a realização desses grandes
eventos é um complicador e não um facilitador para a vitória eleitoral.
2. São dois os grandes vetores
explicativos destas dificuldades. O primeiro é que a máquina pública desvia
atenção e recursos para esse tipo de evento. A qualidade – e quantidade – dos
serviços públicos de rotina decaem. A reorientação dos recursos para o evento
gera centralização das aplicações, reduzindo obras e intervenções em vários
bairros, que têm a sensação de abandono.
3. O noticiário termina
exponenciando os problemas que ocorrem na conservação da cidade, nas escolas,
na área de saúde, na falta de investimentos capilares, etc. A concentração de
recursos nesses eventos amplia o descontentamento dos servidores que, no caso
do Rio, alcançam quase duzentos mil, incluindo aposentados e pensionistas, além
de suas famílias.
4. O segundo é que apenas uma
parte da população está mobilizada para esses eventos. A maior parte mantém seu
cotidiano. Esse cotidiano é afetado pelas restrições ao tráfego – engarrafamento,
proibição de acesso em certos horários – pelas restrições à mobilidade, pelo
deslocamento de segurança para as áreas do evento, pelas férias determinadas
para esse período, afetando a rotina dos pais, por exemplo… Da mesma forma, os
preços sobem no comércio, nos restaurantes e serviços diversos.
5. A resultante é dupla. A
primeira é dos que não estão mobilizados, têm pouco interesse... que se sentem
prejudicados. A segunda é dos que estão mobilizados, mas apontam os problemas
todos que afetaram os seus cotidianos e responsabilizam os eventos. O próprio
acompanhamento do noticiário, prévio e posterior aos eventos, focaliza o
excesso de gastos, os desperdícios e os desvios – sempre destacados. E depois
afirmam que os legados ficaram aquém do que se esperava e que pelo dinheiro
aplicado não valeu a pena o evento.
6. No Rio de Janeiro, desde
1992, tivemos dois grandes eventos desse tipo. A ECO-92 e o PAN-2007. A Eco-92
ocorreu no próprio ano eleitoral. Criou uma enorme expectativa de que o Rio – como
capital do mundo, recebendo quase duzentos chefes de Estado e de Governo – teria
como desdobramento um passeio eleitoral. Essa perspectiva afetou até a disputa
interna partidária, de quem seria o candidato para essa eleição tão fácil. A
candidata do prefeito e do governador, favorita, não foi ao segundo turno.
7. No PAN-2007 da mesma
maneira. A prefeitura concentrou recursos no evento afetando a conservação da
cidade e a capilaridade das obras e intervenções. A associação do evento a
esses fatos cobrou responsabilidade política ao prefeito. Se não bastasse, no
início de 2008, quando a prefeitura normalizava e retomava a sua ação, veio uma
epidemia de dengue que o boca a boca das pessoas relacionou ao evento e ao
prefeito. A candidata do prefeito ficou longe do segundo lugar. O fato dos
JJOO-2016 serem o grande legado do PAN-2007 só foi destacado nos documentos.
8. Os Jogos Olímpicos de 2016
ocorrerão – como em 1992 – no mesmo ano da eleição. Os problemas que afetam o
dia a dia da população serão multiplicados pelo porte e duração do evento. A
concentração de recursos já afeta os serviços públicos e até a data-base de
reajuste salarial foi atrasada em 2 meses. Os benefícios para a cidade não
terão tempo de decantar. Os problemas sim. Até uma lei limitando a mobilidade
das pessoas e horários especiais, férias, etc., durante o evento foi aprovada.
Outra vez os desafios para formar opinião pública serão muito maiores do que se
imagina.
9. Curiosamente, nos três
casos, os prefeitos não puderam ser candidatos e tiveram que apoiar outros
nomes.
Título e Texto: Cesar Maia, 2-9-2015
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