Vitor Cunha
Vamos por partes. Primeiro,
toda a gente sabe que exames não são a melhor forma de aferir a aprendizagem de
um aluno. A melhor forma é, obviamente, um interrogatório seguido de
psicanálise que culmine na dissecação do cérebro do aluno; isto permite
encontrar todas as sinapses estabelecidas para cada patamar etário. Este método
permite uma aferição rigorosa e perfeitamente mensurável, de acordo com o
trabalho notável levado a cabo pelo Dr. Mengele e a sua equipa de brilhantes
académicos. Porém, esta precisão acarreta um custo um pouco elevado para alguns
pais: com a morte necessária dos alunos a aferir, muitos poderão optar pelo
ensino privado, colocando em risco a sustentabilidade do ensino público de
qualidade.
Sem dissecar o cérebro, uma
forma menos rigorosa – mas, mesmo assim, dotada de maior precisão que um exame
– é a contagem de gargalhadas. Criança feliz é criança que gargalha amiúde,
nomeadamente enquanto outra esborracha a mona contra a parede de revestimento
tartaruguinha. Seria fácil transformar a escola num local de gargalhada
constante, bastando para isso a remoção de bueiros e a proibição opressora de
manifestações culturais humanas como o arremesso de cadeiras, particularmente
se os professores envergarem trajes de palhaço e maquiagem como a da imagem. A
escola ideal foi descrita por Golding – apesar do nome que pode bem ser de um
opressor do sionismo internacional – em “O Senhor das Moscas”.
Menos rigoroso que os métodos
anteriores mas, mesmo assim, ainda melhor que exames, seria a caracterização
sócio-económica dos alunos prévia ao exame informal. És cigano? 10 pontos de
bónus. Vives no barraco? 15 pontos de bónus. Acumulas? Temos uma fórmula para
isso. Curtes Monty Python mesmo que não percebas peva? 1500 pontos. És filho de
um militante do Bloco? 5000 pontos. O teu género é indefinido? 10000 pontos.
Claro, ao abrigo da igualdade, é suposto todos terem a mesma nota ou seja,
nenhuma. Este método permitiria assegurar a igualdade de todos os alunos,
incluíndo os imbecis diagnosticados, que, coitadinhos, também são filhos de
Deus mesmo segundo o sistema retrógrado de crendice dos antigos.
À falta destes métodos, o
facilitismo e a ignorância em ciências da educação da geração mais bem
preparada de sempre que vota Bloco de Esquerda, utilizam-se exames, tentando
colocar alunos num ranking maldoso e desprovido de significado. De que adianta
ser o melhor aluno do país num dado ano se basta aos restantes alunos somarem
as notas de forma a garantir que é o segundo classificado quem entra no curso
pretendido? Numa verdadeira sociedade sem classes não são necessários exames,
nem classes, nem professores e, convenhamos, nem sociedade.
Título, Imagem e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
1-12-2015
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