Cesar Maia
1. A versão da oposição, especialmente do PSDB, assim como de
analistas acadêmicos e da grande imprensa para a vitória de Dilma na eleição
presidencial de 2014 foi de um golpe eleitoral com falsificação de dados e da
real situação da economia brasileira.
2. Mas, se olhando a campanha em toda a sua dinâmica e cronologia,
se verifica que a razão insistentemente explicada pelo estelionato eleitoral
não se sustenta. Usando o tradicional binômio -razão/emoção - para explicar a
decisão de voto, a explicação via estelionato eleitoral é, em boa medida,
simplista.
3. Por mais que a coordenação da campanha presidencial à reeleição
quisesse ser realista, não poderia projetar o desastre econômico que se seguiu.
Alguma dose de otimismo teria que acompanhar a campanha no segundo turno. FHC,
na campanha à reeleição de 1998, fez diferente? Os populismos fiscal e cambial
que adotou foram muito diferentes?
4. Certamente não. A diferença veio após a vitória, quando as
medidas corretivas foram adotadas, comprovando uma situação pelo menos tão
grave quanto em 2014. A rapidez com que foram adotadas medidas corretivas em
1999 mostra que havia consciência dos populismos fiscal e cambial adotados para
vencer de qualquer jeito a eleição.
5. Mas e as motivações do eleitor? Samuel Popkin, em seu clássico
"The Reasoning Voter",
introduz a – digamos - 'teoria do atalho’. O eleitor médio não decide
racionalmente na forma que se compreende o que seja uma decisão racional. Para
Popkin, o eleitor médio utiliza atalhos para passar de sua prática, de seu
cotidiano, para avaliar e projetar o que é melhor para ele.
6. As análises e fórmulas sofisticadas dos economistas publicadas
na imprensa circulam apenas dentro das elites econômicas e políticas. Não são
compreensíveis para o eleitor médio. Este parte de seu dia a dia e projeta
sobre os candidatos a sua confiança ou não, em dias melhores com este ou aquele
candidato.
7. O elemento chave que explica o resultado da eleição presidencial
de 2014 foi a estratégia eleitoral da campanha de Dilma após a morte de Eduardo
Campos e a ascensão de Marina Silva. Marina cresce e abre frente folgada sobre
Aécio Neves. Nesse momento, todas as baterias da candidatura de Dilma apontam
para Marina e vão se tornando crescentemente eficientes.
8. A postura da candidatura de Aécio - pela omissão ou pela suave
indução - foi deixar que a estratégia de Dilma resultasse. E resultou a favor
de Dilma e dele. A equação confiança/não confiança levaria Marina à vitória num
segundo turno. A queda de sua candidatura e a ascensão de Aécio na reta final
do primeiro turno desfez a equação confiança/não confiança e reabriu a busca
dos atalhos pelo eleitor.
9. O resultado - um quase empate - traduziu isso. E favoreceu Dilma, pois o atalho que
diferenciaria a taxa de confiança foi mitigado com Aécio, em vez de Marina.
Título e Texto: Cesar Maia, 8-1-2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos.
Se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-