Henrique Pereira dos Santos
Se as eleições fossem hoje, nas atuais circunstâncias, provavelmente eu
votaria no PC (Partido Comunista, para que não restem dúvidas).
Por definição costumo votar por exclusão de partes: vou eliminando
possibilidades até não sobrar ninguém em quem votar, depois faço o percurso
inverso, repescando possibilidades, depois volto a eliminar até ao momento em
que sobra um: voto nesse.
Começo por opções ideológicas, o que normalmente elimina os inimigos da
democracia, do mercado e do direito de as pessoas comuns fazerem o que entenderem,
em especial o seu exercício do direito à asneira.
Depois costumo eliminar coisas em forma de assim, como o PNR ou o BE.
Só então me começo a focar na formação de governo.
Essencialmente teria de optar, hoje, por um governo de Costa ou um
governo de Rio (um governo dos dois é possível, mas o meu voto é irrelevante
para isso. De qualquer maneira não seria muito diferente do que está).
Hoje (pode ser que mude de opinião no futuro, eu costumo discordar muito
de mim) não vejo grande diferença entre votar Rio ou Costa, ao contrário do que
acontecia antes em que, à falta da possibilidade de votar na troika (isso era
mesmo a minha primeira opção), votava com gosto
em quem não demonstrou o menor gosto pela captura do Estado pelos grupos de
interesse, o menor gosto pelo condicionamento da justiça, o menor gosto pelo
controlo da imprensa e, ainda por cima, demonstrou uma grande solidez
institucional e coragem política para fazer o que tinha de ser feito para pôr
as finanças do país num plano minimamente gerível sem sobressaltos, mantendo os
níveis de prestação social bastante altos (com a evidente limitação do elevado
desemprego, questão inevitável nas circunstâncias): Pedro Passos Coelho.
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Pedro Passos Coelho se despede do parlamento, foto: Rio Cruz, 28-02-2018 |
Por outro lado, não vejo grande possibilidade de uma maioria
politicamente apoiada em manter o rumo de reforço da solidez financeira e
libertação da economia do espartilho criado pela aliança entre o Estado e os
compadres, privatizando empresas, concessionando serviços públicos de
transporte, reduzindo o peso do Estado na economia, na educação e na saúde,
mantendo e reforçando o apoio aos mais frágeis e arrefecendo o consumo assente
em crédito.
Resumindo, a solução que está, sendo péssima, é a solução que parece ser
a escolha da sociedade e não vejo como poderia o meu voto ajudar a uma
alternativa real.
Assim sendo, o que o meu voto pode fazer é apenas procurar influenciar a
solução que está, tal como votei em Alegre, na sua primeira candidatura, para
chatear Sócrates e Soares, objetivo perfeitamente conseguido (que Alegre tenha
depois pensado que o milhão de votos que teve eram sua propriedade é um
problema que só lhe diz respeito).
Não faz sentido votar em Costa, porque em si mesmo era excessivo, mesmo
para um pragmático como eu.
Para além disso, ter um PS com maioria absoluta, dirigido por braços
direitos de Sócrates, é um risco que gostaria de minimizar, estando ainda
associada a certeza de um assalto partidário ao Estado ainda maior que o que se
verifica atualmente.
Votar em cata-ventos e balões coloridos não é muito o meu género, e
votar no BE, ou contribuir para um governo PS/ BE, é um risco ainda maior que a
maioria absoluta do PS.
Resta-me então contribuir para ter gente crescida a pôr um mínimo de
ordem no recreio, com posições institucionais sobre a proteção da pequena
propriedade florestal ou o acordo ortográfico que são perfeitamente razoáveis e
sensatas, mantendo o PS minimanente controlado.
Tem o preço de aumentar o problema de manter artificialmente vivo um
sindicalismo que representa muito pouca gente e que tem um contributo
excessivamente negativo para a economia, mas enfim, é um preço suportável.
Claro que preferia evoluir para um sindicalismo de empresas em vez de manter o
anacronismo centralista existente, mas paciência, é o que há.
E é isto, votar no PC é, nas atuais circunstâncias, o menos mau dos
votos, pelo menos enquanto Adolfo Mesquita Nunes não mandar no CDS.
Título e Texto: Henrique Pereira
dos Santos, Corta-fitas,
1-3-2018
Marcação: JP
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Só uma raça das mais estúpidas e embrutecidas das que existem ao cimo da terra, onde, salvo meia dúzia de pessoas podem ser classificadas de académicas sem nos desmancharmos a rir (basta atentar na quantidade e na qualidade da maioria dos empalhados das "Academias", sobretudo a das "Ciências", uma espécie de jornal Público em forma de cadeiras reservadas), desdenha a circunstância de um tipo aproveitar a sua experiência como 1° ministro como professor associado numa universidade pública na área da administração pública. Como não vai roubar, não vai ser "consultor" de telemóvel nem vai pavonear-se pela Sorbonne ou por Berkeley com habilitações que não possui, a idiotia nacional rosna de indignação como se fossem todos sérios como o que criticam. Já experimentaram o "pénis macio" como recomendou a antiga presidenta de um clube de virgens e a mais recente amiga do Goucha? É mais por aí, seus merdas.
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