Sören Soika - Fundação Konrad Adenauer/Cesar Maia
1. A América Latina se
encontra em uma etapa de mudanças políticas que mostra sinais que dão ânimo e
outros que trazem incerteza. A chamada onda progressiva, presente no
subcontinente desde 2000 e que fez com que governos populares de esquerda
chegassem ao poder em Caracas, Buenos Aires, Brasília, La Paz, Quito e Manágua
vem enfraquecendo desde 2015. Em novembro daquele ano, o candidato a
presidência liberal-conservador, Mauricio Macri, conseguiu chegar ao poder na
Argentina. Em agosto de 2016 houve um processo de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff no Brasil e, no final de 2017, no Chile, o
ex-presidente e empresário Sebastián Piñera venceu as eleições. Todos esses
eventos fazem com que seja percebido o início de um novo movimento político que
se afasta das forças da esquerda.
2. O ano de 2018 mostrará se esse movimento se tornará realidade ou
não. Com certeza podemos falar de um ano cheio de eleições importantes. No
total, onze eleições terão lugar em oito países. Em seis casos, são eleições
presidenciais (isto não inclui a "eleição" do sucessor de Raul Castro
como chefe de Estado de Cuba). As eleições, tanto em países pequenos, como nos
dois líderes da região - Brasil e México - marcarão a tendência para os
próximos anos. Várias das eleições neste importante ano são caracterizadas por
candidatos diversos e resultados quase imprevisíveis.
3. Mais fácil de prever é o resultado das eleições presidenciais na
Venezuela, que deverão ocorrer em dezembro de 2018. O governo de Nicolás
Maduro, e as autoridades eleitorais que estão sujeitas a ele, se beneficiarão
do desacordo na aliança da oposição Tabela de Unidade Democrática (MUD) para
avançar nas eleições do mês de maio. Embora Maduro tenha levado um país, que
era rico no passado, a uma crise humanitária, a vitória eleitoral provavelmente
será o seu agradecimento à mídia controlada pelo Estado e à criatividade para
assediar a oposição e seu eleitorado.
4. O início da maratona eleitoral foi na Costa Rica, com o primeiro
turno das eleições em 4 de fevereiro. No segundo turno - no início de abril –
se enfrentarão Carlos Alvarado, candidato do partido do atual governo, e
Fabricio Alvarado. Alvarado, no primeiro turno, se posicionou contra a decisão
tomada pela Corte Interamericana de Direitos Humanos a favor do casamento entre
pessoas do mesmo sexo. Sua vitória no primeiro turno das eleições mostra um
crescimento preocupante de forças conservadoras e tendenciosas a uma
interpretação literal da Bíblia, que também estão presentes em outros países da
região.
5. Algo não tão comum na América Latina provavelmente será
observado no Paraguai em abril, quando dois candidatos de partidos tradicionais
se enfrentam nas eleições presidenciais: Mario Abdo Benítez, filho do antigo
secretário particular do ditador Stroessner e que representa a direita do
Partido Colorado, e Efraín Alegre, candidato do Partido Liberal, que tem uma
aliança com o ex-presidente de esquerda, Fernando Lugo, derrubado em 2012.
6. Com particular interesse, a região e o mundo irão dirigir sua
atenção para as eleições presidenciais na Colômbia, que provavelmente acabarão
com um decisivo segundo turno em junho. O Tribunal Constitucional colombiano
declarou que os próximos três governos estarão ligados ao tratado de paz de
2016 com as FARC. No entanto, dependerá das próximas eleições a maneira como o
futuro governo concretizará este tratado de paz e como as negociações
continuarão com o ELN, o segundo maior grupo guerrilheiro. Os candidatos à
presidência não podem ser mais diferentes entre si, e vão desde candidatos
críticos do tratado de paz, que fazem parte do entorno político do
ex-presidente Álvaro Uribe, até Humberto de la Calle, que negociou o referido
tratado de paz.
7. Na segunda metade do ano, seguem os dois pesos pesados da
América Latina: primeiro o México em 1º de julho, quando poderá se observar uma
disputa entre três candidatos, que será decidida no primeiro turno com relativa
maioria. De acordo com as pesquisas, quem está na frente é Andrés Manuel López
Obrador, que deseja, depois de uma carreira profissional como prefeito da
Cidade do México e várias derrotas nas eleições presidenciais, morar em Los
Pinos, residência oficial do Presidente do México. Até que ponto o populista
vai levar o país para a esquerda depois de uma vitória é uma questão aberta que
não diz respeito somente à indústria. Um oponente promissor é Ricardo Anaya,
cujo conservador Partido Ação Nacional (PAN) tem uma aliança incomum com o seu
antigo oponente, o esquerdista PRD. O candidato do partido do governo, PRI,
José Antonio Meade, dispõe de uma estrutura com muito poder, apesar do
descontentamento com o atual governo, e ainda não desistiu.
8. No Brasil, de acordo com as pesquisas, o ex-presidente Lula da
Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), e Jair Bolsonaro são os líderes. Se
esses dois candidatos chegarem ao segundo turno das eleições em outubro, o
Brasil poderá escolher entre um político antigo sem um plano para o futuro e
envolvido em vários casos de corrupção e um populista de direita - melhor
dizendo, um extremista de direita - que ama a ditadura militar brasileira. Se a
candidatura de Lula não for possível devido aos processos judiciais pendentes
contra ele (sua condenação por corrupção foi confirmada em segunda instância há
alguns dias, mas ele tem a possibilidade de recorrer novamente), seria
apresentada uma nova constelação que daria chance a um candidato moderado de
centro.
9. Antes que o eleitorado argentino possa decidir em 2019 a respeito
de uma decisiva reeleição de Mauricio Macri, a paisagem política na América
Latina já poderá ter mudado significativamente.
Título e Texto: Sören Soika - Fundação Konrad Adenauer e Cesar Maia, 20-3-2018
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