Aparecido Raimundo de Souza
OBSERVEM,
CAROS LEITORES,
que coisa interessante! Mataram a vereadora Marielle Franco, 38 anos, filiada
ao PSOL, e o motorista dela, Anderson Pedro Gomes, de 39, na Rua Joaquim
Palhares, no bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro e ninguém se
manteve calado. Todo o mundo falou, esbravejou, botou lenha na fogueira. Todo o
mundo discursou bonito. A farra das retóricas não deixou a desejar.
A galera, em peso, levantou a voz. Políticos, OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) e pasmem!, até o ilustre presidente Michel Jackson Temer
saiu do seu casulo encantado e mostrou a fuça. Perdão, a cara. “Esse crime da
vereadora – disse ele enfaticamente – é um atentado de extrema covardia não só
a ela, mas notadamente, e, principalmente, à democracia”. Antes dele, o
ministro do novo cabide de empregos recém-inaugurado, o tal do Ministério da
Segurança Pública, na pessoa do garboso Raul Gazola Julgmann também se fez
presente como um elefante dentro de um buzuzão lotado.
Grande bosta, esse ministério! Ora, bolas, se as polícias
militar, civil e federal, que deveriam nos dar segurança vinte e quatro horas
estão mal das pernas, paralíticas, truncadas e manietadas, o que um ministrinho
correu fazer diante das câmeras?
Simples, caros amados e simpáticas amadas, falar. Bravatear, jogar
conversa fora, conchavar, em cima dos direitos humanos. Espalhar aos quatro
cantos do planeta que “esse crime da vereadora não ficará impune”. Botou,
grosso modo falando, a Polícia Federal para desvendar o mistério. Repetindo:
“esse crime não ficará impune”. E quem matou a representante de todos nós, os
eternos barnabés? Devemos nos debruçar, evidentemente, nos demais homicídios,
nas chacinas e execuções que tomamos conhecimento todos os dias, pela imprensa
escrita, falada, cantada, novelada e televisada (onde os pobretões e fodidos
perdem a vida nas esquinas).
Mas alto lá! Os pobretões, os fodidos, que se explodam.
Policia Federal para investigar manés do povinho? Aonde se viu tamanha
barbárie? Não tem cabimento! Para os “sem noção” asseverar que as execuções, os
homicídios, os atentados, as chacinas são de “extrema covardia e ferem a
democracia”, os desgraçados que acreditarem nisso, ou teimarem em levar essa
balela a sério, deveriam ser executados imediatamente e seus ossos mandados
para os quintos do inferno.
Nessa fuzarca toda, cadê o general Braga Neto e a sua chusma
de soldadinhos de chumbo? Uma vez que tocamos neles, esse infindável “pelotão”
serve para quê mesmo? Até agora, não fizeram outra coisa senão meter as mãos na
massa no sentido de removerem as barricadas que os vagabundos (os verdadeiros
homens, os donos do poder, os que dão as ordens no país) espalham a todos os
instantes nas entradas das favelas e vias públicas e de acessos às comunidades.
Toda essa cambada de meninos novos, cabeças vazias, bundas sujas,
pagos com o nosso dinheiro, estão trabalhando para porra nenhuma. Labutam em
vão. Em resumo, entre a intervenção que vemos no Rio de Janeiro, e um saco de
merda, preferimos um balaio de gatos. Enquanto a banda toca, onde foi parar o
secretário de Estado e de Segurança? Alguém da conta do chefe de polícia? De
outra bordoada, cadê o Pesão Chulé Fedido? Cadê o prefeito Marcelo Crivella? O
que esses elementos fizeram? Que atitudes tomaram? A resposta é uma só. NADA!
Não tomaram nenhuma atitude digna de ser lembrada pela posteridade.
Apenas arrazoaram, comoveram, brindaram, ejacularam caras e bocas bonitas e magistralmente asseadas a perfumes importados. Como os demais que se levantaram ocupando os principais jornais da noite em horários nobres. Regurgitaram pelos cotovelos, tagarelaram pelos bares, entronchados em rodinhas nas privadas públicas.
Queremos deixar registrado, para que todos tomem
conhecimento, o seguinte: não temos nada contra a vereadora Marielle Franco.
Francamente, do fundo de nossos corações, repudiamos qualquer tipo de crime,
seja em face de um simples vereador, de um professor, de um frentista de posto
de gasolina, de um catador de latinhas, enfim... todo ser humano,
independentemente da sua condição social, ou da sua ocupação, TODO SER HUMANO,
SEM EXCEÇÃO, deve ter seus direitos respeitados e garantidos.
O que nos causa espanto e perturbação, surpresa e assombro,
é o fato de se dar tanta ostentação e alarido, vociferação e escarcéu, à jovem
Marielle Franco e nenhuma, absolutamente nenhuma notinha de rodapé, quando
morre um cidadão do povo (e todo dia morre uma dezena deles), aqueles
caraminguados conhecidos pelas alcunhas de “seres comuns”, ou os descamisados e
míseros borra-botas.
Percebam que até Caetano Veloso entrou na dança. Cantou uma
música para a vereadora. “Estou triste”.
Nesse amargor, nesse amuamento, a sociedade, em peso, se uniu a ele. Fez
passeata. O trânsito caótico da ex-cidade maravilhosa se mostrou mais
engarrafado que nunca. Pensem, senhoras e senhores, raciocinem!
Quantos inocentes (gentinhas sem eiras nem beiras, os
integrantes do populacho), perdem a vida cotidianamente, e nenhum pilantra
mostra a cara? Nenhum cidadão de brio e vergonha se dá a conhecer? Ou levanta a
voz? Nenhuma celebridade do mundo televisivo faz música? Nenhum poeta
verseja... nenhum escritor escreve...
Esperávamos, ao menos, que o Rei Roberto Carlos com todas as
suas “emoções” à flor da pele, mostrasse alguma coisa nova em favor de quem
sempre o aplaudiu. No entanto, sequer, deu o ar da graça que recebe de Jesus
Cristo. Partindo daquele princípio básico de que “todos são iguais perante a
lei”, entendemos que esses “todos” deveriam valer não só para os “famosos”,
para os políticos, para os nossos representantes em Brasília. Igualmente o tratamento
VIP, com todo o Brasil se lamentando, em favor dos boçais, dos humilhados, dos
infelizes que mantém este brasilzinho nos trilhos.
Mas não! O assunto do momento é esse: Marielle Franco. E será por mais alguns dias.
Depois esfria. Pelo amor de Deus, senhoras e senhores: alguém se lembra da
menina Emily Sofia Neves Marriel, de três anos, estupidamente assassinada num
assalto acontecido dia sete de março, em Anchieta, zona morte do Rio de
Janeiro? Emily era famosa? Não! Era vereadora? Não! Quem era Emily? Apenas um
zero à esquerda. Alguém se lembra da Maria Eduarda? Não! Era famosa? Não! Era
vereadora? Não! Quem era Maria Eduarda? Apenas um zero à esquerda. Alguém se
lembra do Vitor Gabriel? Não! Era vereador? Não! Quem era Vitor Gabriel? Apenas
um zero à esquerda.
Nessa voragem interminável, João Pedro da Costa, Sofia Lara
Braga, Fernanda Adriana Caparica Ribeiro e tantas mais perderam a vida. Em cima desses óbitos, não vimos o Secretário
de Segurança de Estado, se fazer presente. Não vimos o Chefe da Polícia Civil
dar um pio. Não vimos a OAB se fazer manifesta, nenhum representante dos
direitos humanos pedir um minuto de silêncio. Crimes bárbaros. Execuções
inexplicáveis. Não vimos no mesmo apertar de cintos, o nosso caríssimo e
“onesto” presidente aparecer publicamente, nem a sombra do ministro do capcioso
Ministério de Segurança Pública... latir que “OS CRIMES DE TODAS ESSAS CRIANÇAS
FICARÃO IMPUNES”. Nem Caetano Veloso ou qualquer outro brasileiro RENOMADO fez
uma musiquinha para elas.
Que coisa feia! Que falta de humanidade! Bando de
hipócritas, de fingidos, de desleais, de simulados. Em síntese, senhoras e
senhores, nenhuma alma “do bem” mostrou o rosto, a tez, a cútis. Nenhum
parasita se avolumou, nenhum safado se realçou em meio à plebe. E estarrecidos e embasbacados, deixamos no ar
duas interrogações, até agora inexplicáveis: que país é esse? Que brasilzinho
filho da puta vivemos nesse exato momento?
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do
Rio de Janeiro, ex-cidade maravilhosa. 16-3-2018
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Faço minhas as palavras do senhor Aparecido.nonguem falou do motorista nem da assessora.ah. entendi.eles fazem parte da ralé.
ResponderExcluirMeu caro Aparecido,
ResponderExcluircomo sempre mostra uma grandeza nas palavras, Diz aquilo que todos querem ouvir, mas como a maioria são hipócrita, expressa aquilo que agrada os chamados onestos, sem o h mesmo.Como estamos em ano eleitoral nada melhor que uma mártir entre aspas para tirar o foco que é essas roubalheiras, esses bando de corruptos, enfim estamos nos afundando na merda cada vez mais. Com um país hipócrita, políticos hipócritas, e brasileiros hipócritas e quem quer sair desse lamaçal infelizmente se depara com essa imensa hipocrisia chamada pátria mal amada Brasil. Parabéns pelo excelente texto.
No jornal "Em pauta" a jornalista criticou as redes sociais que estão criticando a vitima no lugar do sistema. Mas a certa altura a jornalista mudou o tom na voz,parecia constrangida ao ler a pauta. Dizia...ela(a vitima) morreu por ser mulher, negra,pobre e homossexual...quase cai da cadeira! Como se para bala que matou isto fizesse diferença. O jornal fazia o mesmo que as redes sócias e que era alvo de sua critica. Sensacionalismo e preconceito.
ResponderExcluirPaizote
E. apenas para constar nas estatísticas, mataram mais três esta noite no Rio.
ResponderExcluirEntre estes uma criança, em tiroteio entre bandidos e policiais.
Mas, a atenção da mídia e das redes, continuara sendo o assassinato da vereadora.
Nem poderia ser diferente!
Pois assim como na imprensa em geral, e nas redes, a objetividade é deficiente.
Todo texto, independente da finalidade do mesmo, é um discurso em que inconscientemente selecionamos expressões, ou direcionamos o mesmo, influenciado pela ideologia, pela práxis, ou por valores subjetivos, de acordo com nossa posição na sociedade e conforme é direcionado o mesmo.
Uma das regras máximas do jornalismo, comercial ou não, busca causar o maior impacto possível no seu público.
Assim a noticia da morte de um ser, formador de opinião e com relativo destaque no meio social, sempre terá destaque maior do que a morte de um desconhecido.
Se assim não o fosse, estaria se distanciando do publico a quem é direcionada. Consequentemente, diminuiria a atenção que pretendia com a mesma.
Assim são os seres humanos, assim somos nós!
O jornalismo enquanto agente formador do ser social, precisa atentar mais para um incêndio ocasional do que para uma fogueira,
É demagogia, de quem faz e de quem reclama!
Opss! Òia eu aqui...
Paizote
Perigoso no Rio não é ser mulher, negra, lésbica e favelada. Morre-se mais por ser PM. Matemática para a esquerda amoral
ResponderExcluirO PSOL passou a mensagem terrível de que a vida de seus políticos vale mais que a vida do povo
ResponderExcluirAgradeço a todos que leram meu texto e deixaram seus comentarios. Grande abraço a todos. Aparecido, de Viracopos, Campinas São Paulo.
ResponderExcluirCo0ncordo com a pergunta feita no texto;"Nessa fuzarca toda, cadê o general Braga Neto e a sua chusma de soldadinhos de chumbo? Uma vez que tocamos neles, esse infindável “pelotão” serve para quê mesmo? "
ResponderExcluirEu sabia que esta intervenção era com intenções políticas , e afirmei aqui ser a mesma "meia boca"!
O que lastimo é ver as forças armadas metida nisto. Se não começarem a agir logo sairão desgastadas . Passados 40 dias e ainda assim, 71% acham que nada mudou com a presença do Exército desde o mês passado .Não fez diferença! (Pesquisa Folha)
A população ainda acredita um pouco por se tratar de militares , e estes são um dos poucos "baluartes"de honestidade que restam a esta nação. Resta cuidar para que a eficiência apareça.
Paizote
Melhorou
Piorou
Não sabe
71%
21%
6%
2%
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