Dirceu Greco, do Departamento
de DSTs, foi demitido a pedido de ministro e peça com o texto foi retirada do
ar
Deputados criticam campanha e
presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara cobra explicações do
Ministério da Saúde
Flávia Pierry e André de Souza
Após a divulgação de uma campanha para o Dia Internacional das Prostitutas com a frase “Sou feliz
sendo prostituta", o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, determinou a
demissão do diretor do departamento responsável pela peça, Dirceu Greco. A
campanha foi criada pelo Departamento de DSTs, Aids e Hepatites Virais do
ministério, chefiado por Greco, em uma oficina com as profissionais do sexo, em
março deste ano. A pasta justifica que o departamento veiculou a campanha sem a
aprovação da Comunicação Social do ministério.
A peça, divulgada nas redes
sociais do Departamento de DSTs no dia 2 de junho, foi retirada do ar a pedido
de Padilha. Segundo o ministério, o texto não atendia o foco da campanha, que
era a saúde dessas profissionais.
Os panfletos da campanha
traziam fotos de prostitutas e frases sobre a profissão e prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis. O material foi produzido após a realização de uma
oficina com as profissionais em João Pessoa (PB), em março, para abordar os
cuidados com a saúde. Representantes de organizações não-governamentais,
associações e movimentos sociais que atuam com as profissionais do sexo de
todas as regiões do país participaram do evento.
Na tarde desta terça-feira, o
panfleto com a frase "Sou feliz sendo prostituta" virou alvo dos
deputados da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Por iniciativa
do seu presidente, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), a comissão decidiu que
vai cobrar esclarecimentos da pasta.
A discussão começou quando
discutiam um requerimento do deputado Costa Ferreira (PSC-MA), em que ele pedia
a realização de audiência pública para debater políticas que visam a
valorização e a proteção da família. Feliciano aproveitou esse requerimento
para incluir nele o pedido de informações ao Ministério da Saúde.
— Já vou pedir à mesa para
incluir nesta pauta um requerimento de informação ao Ministério da Saúde sobre
essa famigerada campanha — disse Feliciano.
O mais duro nas críticas foi o
deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica. Ele acusou a presidente
Dilma Rousseff de não cumprir compromissos assumidos durante a campanha
eleitoral e chegou a comparar a situação com uma hipotética campanha sobre a
pedofilia.
— Eu estou imaginando aqui os
títulos das próximas campanhas: "sou adúltero e sou feliz", "sou
incestuoso, sigam-me", "sou polígamo, me acompanhem", "sou
pedófilo, observem-me, sou feliz, estou realizado" — afirmou Campos.
— Que isso não aconteça —
respondeu Feliciano.
— Ainda que a prática da
prostituição não seja crime, o que o governo faz através de uma campanha
midiática, publicitária é uma apologia ao crime, apologia à prostituição —
acrescentou o deputado Marcos Rogério (PDT-RO).
Título e Texto: Flávia Pierry
e André de Souza, O Globo, 05-06-2013
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