Uma frase, no filme argentino
“El Café de Los Maestros”, chama a
atenção: “Se alguém não pode fazer um bom silêncio, (também) não pode compor um
bom tango”. Não vi o filme, portanto não sei se esta fala leva a maiores
desdobramentos em sua trama. Mas percebi que não preciso assistir a este filme
para pensar em dezenas de significados para “silêncio”. Um deles é que, em se
tratando de algo que esperamos ansiosamente, o silêncio pode ser ensurdecedor.

Parece que ao se negar a
resolver o problema, os que estão por trás de tudo isso queiram reescrever a
minha história e a de outros tantos que penam como eu. E aí o silêncio cúmplice
poderia ser o meu, se ficasse de boca fechada (ou aberta olhando para o nada) e
vendo a banda passar. Como muitos entre nós ainda fazem, infelizmente, nesses
últimos tempos de notinhas assim... ”reunião em Brasília”… ”agora sai”, “fulana
disse pau, fulano disse pedra” e por aí vai. E por aqui... ficamos.
Nunca se poderá reparar o
suficiente o desastre que foi o tramado fim da Varig e o calote no Aerus. E
nunca se saberá dos milhares de dramas vividos e sofridos por milhares de
desempregados e aposentados, histórias que se perderão no tempo, apagadas pelo
silêncio covarde dos que só veem a nós, idosos, como um estorvo, e também pelo
mutismo dos que sofrem, pois já era hora de estar perguntando, cobrando,
exigindo o que significam esses movimentos neste final de 2013. Falta de
notícia é boa notícia? Não podemos criticar, dar às coisas o nome que elas têm
por medo de represálias? Quem fez o mal e pode consertar, quem tem poder legal
de impedir e de reparar, são seres esses tão sensíveis, tão delicados que se
desestabilizam, se enraivecem e voltam a nos negar tudo ante a exposição de
verdades?
Essas verdades...
O histórico do que passamos
nos últimos sete anos e seis meses, as privações, as humilhações e, mesmo no
limite, as perdas de vidas certamente de forma prematura pela conjunção
sinistra de velhice/doenças/falta de recursos são as armas de que dispomos e as
histórias que temos para contar. Pelo simples fato de serem verdades, assim
como suas tristes causas também o são, se essas nossas armas ainda não venceram
a batalha é porque neste país ultimamente tanto a verdade como o trabalho
honesto são sufocados por silêncios infames e acabam não valendo grande coisa.
Portanto...
Invertendo a ideia do filme argentino,
se estão fazendo boas coisas neste fim de 2013, então o silêncio atual terá
sido bom. Mas nós nada sabemos. O que sabemos é a nossa história, o que
trabalhamos, o que pagamos, o que nos roubaram e a vida miserável que nos
impuseram.
O escritor americano Samuel
Langhorne Clemens, conhecido pelo pseudônimo de Mark Twain, costumava dizer que
quanto mais envelhecia, mais se recordava de coisas que não aconteceram. Se
deixarmos de reclamar por nossos direitos podemos acabar tendo de viver uma
vida que não planejamos. Se não contarmos a nossa história, outros contarão por
nós o que lhes interessar. E se só há silêncio do lado de lá, não se justifica
um outro do lado de cá.
Título e Texto: José Carlos Bolognese, 10-10-2013
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As pessoas têm responsabilidades
ResponderExcluirAs pessoas assumiram compromissos
As pessoas estão ficando idosas, e com isso, vem os problemas de saúde. E com eles medicamentos caríssimos.
Despesas com suas casas, aumento da inflação,
As vezes uma ajuda ou outra para os netos..
Porquê, eles e a chamada Justiça, não dão prioridade a esses casos?
Por incrível coincidência, estou ouvindo pela Globonews, uma reportagem sobre o Renato Russo, onde canta entre outras profecias; QUE PAIS É ESSE?
Janda.