segunda-feira, 16 de março de 2015

Crônica de Shangri-La: a bolsa, os óculos e o chapéu

José Manuel

– Senhora, a sua bolsa, os óculos e o chapéu já estão prontos em cima do aparador, no hall de saída.
– Como você, sua idiota, tem a coragem de me falar assim?
– A  senhora não deve estar lembrada, mas ontem, depois da manifestação e do panelaço, foi o que me pediu para fazer.

– Que panelaço ?
– Aquele que aconteceu logo após a senhora ter mandado os seus ministros falar na televisão.
– É, acho que fiz mais uma besteira mandando aqueles incompetentes falar na hora errada.

– Parece que o povo também achou, senhora.
– Você, não acha nada, porque aqui quem manda sou eu e se falar mais alguma coisa eu te demito na hora.
– Sim senhora.

– O que aconteceu de pior durante o dia, porque eu dormi até às 18 horas?
– Se a senhora não se incomodar, só em São Paulo foi mais de um milhão para as ruas.

– Balela, tudo coxinha, mais a elite de olhos azuis, e tudo comprado.

– Senhora, desculpe mas tinha até negros pedindo o seu impeachment.
– Tudo comprado.

– Não foi visto ninguém distribuir dinheiro, como no dia 13, nem sanduíches de mortadela, nem ônibus de luxo, nem quentinhas, nem uniformes, nem balões.

– Não te perguntei nada e só responda o que eu perguntar.
– Desculpe, senhora, é que eu também sou povo.
– Aqui no palácio, você é puramente serviçal e não se esqueça nunca disso, se não quiser perder o emprego.

– Está bem, senhora.
– Bem, como ao que parece, você é no momento a única idiota, do povo, como diz, e ainda com quem eu posso conversar, o que você acha de eu ir às ruas tentar conversar e amansar essa choldra maldita?
– Se me permite, senhora, eu como povo que sou, aconselho a que não faça isso, para a sua integridade física.

– Como assim? Eu sou a presidente!
– Se me permite, senhora, desde a revolução francesa, o que dizem por aí, é de que títulos não valem muito quando o povo vai para as ruas.
– Você acha?

– Tenho a certeza.
– O que você colocou na minha bolsa?
– Bem, o essencial, como passaporte, maquiagem, spray de cabelo um pouco de dinheiro e dicionários.

– Dicionários?
– Sim, um de espanhol e outro de países africanos.
– E por que os óculos escuros?

– Não são simplesmente óculos senhora, é um autêntico Yves Saint Laurent, para o sol, que a senhora ganhou quando esteve em Portugal.
– Está bem, e para quê essa palhaçada de chapéu?
– Também não é um simples chapéu, pois é um legítimo panamá Dior, presente recebido em Roma.

– É, bons tempos e desta vez parece que você tem razão, mas só não entendi o porquê dos dicionários, dos óculos e do chapéu.
– Bem, senhora, no meu modesto entender, se continuarem os protestos de rua, provavelmente o seu destino será ou o caribe ou a África, locais extremamente quentes, em que vai usar muito os óculos e o chapéu, fora os dicionários para poder entender as línguas dessas regiões.
– É, pelo visto, vou ter que baixar a bola e ficar preparada para o que der e vier.

– Eu tenho a certeza. Aceita um calmante?
– Urgente e antes que te dispense, o hall não é de entrada?
– Se me permite, senhora, é o lugar por onde vai sair.
Título e Texto: José Manuel, 16-3-2015

Nota: a descritiva nas crônicas por mim publicadas é o resultado de pesquisa em notícias veiculadas em mídia nacional idônea, apenas compondo um pensamento lastreado em liberdade de expressão e ancorado no Artigo 5 inciso IX, da constituição Federal de 1988.

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7 comentários:

  1. Excelente texto do José Manuel. Muito bom. Meus Parabéns. Abraços fraternos.

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  2. Muito bom!
    Idacil Amarilho

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  3. Caros amigos de fé, irmãos camaradas
    O risco maior não é a corrupção e a incompetência, mas a submissão de dilmanta e luladrão ao Foro de São Paulo, cujo propósito é implantar o modelo cubano de ditadura comunista no Brasil. Um passo muito ousado foi dado por Dilma ao criar a URSAL. Logo em seguida luladrão ameaçou usar o “exército do MST” sob o comando do terrorista Stédile para garantir o mandato de dilmanta. E Stédile foi mais longe ainda, propondo, em discurso pronunciado em Caracas, a invasão do Brasil pelos exércitos da URSAL. O povo brasileiro não está consciente dessa ameaça. Sugiro que em 12 de abril próximo este assunto seja devidamente explorado, exigindo explicações do governo.
    Batalha

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  4. Muito legal a crônica e, que ela venha abaixar a bola. Hoje apareceu um ministro falando em humildade, palavra que a Dilma e seu Partido esqueceram. Bem, o importante é comemorar 2 milhões de pessoas que foram às ruas em todo o nosso Brasil, verde, amarelo, azul e branco (nada mais). E assim que os os grupos que estão organizando esses movimentos marcarem vamos voltar às ruas. Não podemos nos dispersar. Não esqueçam "...... Político só tem medo de povo nas ruas." Ulysses Guimarães. Antonio Augusto.

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  5. Esse meu amigo, tem o dom mordaz que na certa, se equipara aos grandes escritores pois, a luz e o cenário lançados à mente, combinam perfeitamente com a trama. A cena final, muito bem arquitetada, impulsiona uma mão contra a outra, iniciando o aplauso que se prolongará por um período de um lustro, tal a vontade emanada das vias emocionais da plateia, que é o povo ansioso por seriedade e dignidade. Essa é mais uma jóia da lavra e da lapidação de José Manuel. Parabéns!!! Jonathas Filho

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  6. Parabéns, ela é assim mesmo, segundo um oficial das forças armadas.
    Janda

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