Cesar Maia
1. De forma resumida se poderia subdividir a Desobediência Civil em 4
situações. A primeira é quando um governo toma decisões que afetam o direito
natural das pessoas. Dois líderes foram exemplares nestes casos: Mahatma Gandhi
(vide a marcha do Sal) e Martin Luther King (direitos civis dos negros).
2. Uma segunda situação é quando o próprio governo atropela a legalidade
existente e quer impor as regras que entende. A resistência das pessoas ao
desrespeito pelo governo das normas estabelecidas tem ocorrido com frequência
nos dias de hoje na Venezuela.
3. Uma terceira situação é quando a desobediência civil tem um viés
revolucionário e objetiva acumular forças, derrubar o governo e implementar uma
nova ordem.
4. Nenhuma dessas três situações se enquadra na realidade brasileira atual. Mas
que os atos e fatos de desobediência civil prosperam no Brasil não há qualquer
dúvida. Os desdobramentos da greve dos caminhoneiros é exemplo disso. Reações
das comunidades contra a repressão policial são outros exemplos. Ações tipo
“ocupa”, inauguradas em Madrid e em Nova Iorque mobilizadas pelas redes
sociais, da mesma forma. Em boa medida as mobilizações de 2013 no Rio e em
S.Paulo tiveram essas características, e que prosseguem hoje em mobilizações de
menor porte, mas que têm efeito cumulativo. Pontualmente, as mobilizações e
greves permanecem, independentes de decisões judiciais.
5. Como se definiria ou se enquadraria a Desobediência Civil no Brasil de hoje?
É verdade que a crise econômica, política e ética fornece o tempero para isso.
Mas a razão de fundo é a diluição da autoridade pública, especialmente em nível
federal. É como se as pressões populares, lutando pelo que entendem sejam
os seus direitos, ao apontarem especialmente para o governo federal, sentissem
que a autoridade do governo federal está diluída e que não há expectativas de
soluções através dele.
6. Isso gera dois efeitos: a juridicialização dos conflitos políticos e
sociais; e um excesso de legislação como se a solução fosse criar leis, o que
se faz para se ganhar tempo, já que quase sempre estarão pendentes de
regulamentação ou complementação.
7. Com a crise econômica se aprofundando, com o impasse político parlamentar e
com a crise ética – em nível das elites empresariais e políticas, é de se
esperar que os atos e fatos de desobediência civil, vis a vis a diluição da
autoridade pública, ganhem mais intensidade e maior extensividade nos próximos
meses.
8. Cabe ao governo federal, aos líderes políticos e sociais, a intelectuais e a
imprensa, colocarem em cima da mesa suas preocupações quanto à Desobediência
Civil que cresce, antes que saia de controle, produzindo consequências graves,
exacerbando os conflitos e transformando-os em confrontos.
Título e Texto: Cesar Maia, 4-3-2015
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