sexta-feira, 8 de maio de 2015

Reino Unido: pesquisas até o dia da eleição erraram absurdamente! Por quê?

Cesar Maia           
1. Este Ex-Blog já comentou várias vezes que um sistema eleitoral de voto distrital uninominal de maioria simples com distritos de uma pequena fração do eleitorado não reproduz necessariamente a opinião proporcional do eleitor e, portanto, as pesquisas de opinião eleitoral devem ter um extremo cuidado ao projetar intenções de voto.
           
2. Por exemplo: Suponhamos uma situação de 2 partidos em 10 distritos. Se um partido ganha em todos os distritos com 51% dos votos e o outro obtém 49%, as pesquisas vão falar de um empate técnico de 51% a 49%. Mas se o resultado for esse, na representação na câmara de deputados, o partido que obteve 51% dos votos terá 100% das cadeiras.

3. Um exercício assim pode ser feito com vários partidos. A probabilidade dos partidos menores não reproduzirem na urna o que as pesquisas informam é bem maior que os partidos maiores. No caso do Reino Unido os Distritos são de mais ou menos 40 mil eleitores, o que acentua a probabilidade do resultado de eleitos não corresponder ao da pesquisa.

4. Vamos ao caso concreto das eleições no Reino Unido ontem. No mesmo dia de ontem a Reuters informou que as pesquisas davam um empate entre os Conservadores e os Trabalhistas com 33% das intenções de voto. E mais que no mesmo dia de ontem os Trabalhistas haviam ultrapassado com uma leve vantagem de 1 ou 2 pontos. Ou seja: teriam um número igual de cadeiras na Câmara dos Comuns. Com isso, o governo só se formaria por coligação.

5. Mas havia um problema adicional. A vitória do PN da Escócia era – e foi acachapante- ficando com quase todas, 58 de 59 cadeiras ou 9%. Numa situação dessas a probabilidade das pesquisas coincidirem com os resultados é muito, muito grande. Os liberais-democratas teriam 10%, os nacionalistas eurocéticos (UKIP) 10%, e os verdes 5%. Transformando em cadeiras, seriam 214 cadeiras para Conservadores e Trabalhistas, 65 para os liberal-democratas, 65 para o UKIP e 32 para os verdes.

6. Mas, uma vez abertas as urnas e definidas as cadeiras por distrito, os Conservadores chegaram a 318 cadeiras (49%), 100 cadeiras a mais que as pesquisas ou 48% a mais. No voto nominal tiveram 36,6. Os trabalhistas chegaram a 227 cadeiras (34,9%), beneficiando-se do voto distrital, mas tirando cadeiras dos partidos menores. No voto nominal 30,6%. Os liberal-democratas ficaram com 8 vagas (1,2%) do total, muito menos que as 65 cadeiras previstas e dos 7,7% nominais. O UKIP elegeu apenas 1 deputado, radicalmente diferente dos 65 que elegeriam e dos 12,6% nominais. E o PN-E confirmou as previsões, elegendo 56 deputados ou 8,6% e 4,9% nominais, portanto beneficiando-se do voto distrital. E os pequenos partidos ficaram com 23 cadeiras ou 3,5% ou 7,5% dos votos nominais, beneficiando-se por seu voto localizado.

7. Nesse momento em que se discute um novo sistema eleitoral para o Brasil, é bom os partidos analisarem bem as propostas dos que propõem um modelo de voto distrital de maioria simples e com distritos pequenos e variáveis. Isso poderia produzir um gigantesco desvio de proporcionalidade. Isso só é suportável em países com instituições sólidas e seculares, onde variações desse tipo já fazem parte da tradição eleitoral.

8. Lembre-se que na coligação entre conservadores e liberal-democratas (sempre prejudicados), foi feito um acordo para que fosse submetida a plebiscito uma correção nesse sistema. Com larga vantagem, o sistema atual de voto distrital uninominal de maioria simples em pequenos distritos foi amplamente vitorioso.
Título e Texto: Cesar Maia, 8-5-2015

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